O EFEITO NEYMAR
Por
razões de fechamento de página, estou escrevendo este artigo antes do jogo
Brasil x Dinamarca. Assim, quando você estiver lendo o seu O Imparcial de
sexta-feira, o Brasil olímpico já terá definido a sua sorte na caminhada rumo
ao pódio do futebol masculino. Terá seguido em frente na esperança de ganhar
uma medalha – de preferência a de ouro, jamais conquistada – ou terá ficado no
meio do caminho, o que significará, independentemente do placar, um vexame ainda maior do que o de 2014 com a
recente Copa do Mundo de péssima memória.
Nos
dois casos, desponta a bola da vez Neymar que, talvez por jogar na Espanha,
terra de Cervantes, possa estar sendo comparado a Dom Quixote, um intrépido
fidalgo que se transformou em um cavaleiro de triste figura.
Maior
nome das Olimpíadas no futebol, Neymar não pode ser responsabilizado pelo
futebol sonolento apresentado pelo time nas duas primeiras partidas, mas não
pôs a bola debaixo do braço e falou “deixa comigo!” – gesto que se espera dos
grandes comandantes. Mostrou nervosismo e falta de estrutura emocional pouco
condizente com a camisa amarela que já foi envergada por líderes do quilate de Zito,
Pelé, Didi e Romário.
Por
conta dos acordos de cavalheiros entre a CBF e o Barcelona, alinhavados com a
participação do próprio Neymar, nosso atual número um deixou de participar da
derrocada da seleção canarinho na Copa América, e ficou claro que apostaria
todas as fichas nos Jogos Olímpicos que, igual à Copa, iriam ser disputados em
território brasileiro.
Durante
a preparação, o técnico Dunga foi finalmente defenestrado, Tite assumiu o
comando geral, mas decidiu que seria muito precipitado assumir o futebol
olímpico, quer pela falta de tempo que teria para impor a sua filosofia de jogo
quer por usar o raciocínio lógico de manter Rogério Micale, técnico que já
vinha trabalhando com o grupo, para comandar a equipe na competição olímpica.
Tudo
poderia dar certo não fosse a avidez da CBF em reforçar o grupo que fora
cultivado por Micale com três jogadores alheios à sua filosofia de trabalho e
ao entrosamento necessário com os demais jogadores.
Com
a convocação de Neymar, Fernando Prass e Renato Augusto os jogadores foram informados que o capitão da equipe, Rodrigo Caio, entregaria a faixa para um dos três, o
que desagradou ao grupo.
Mesmo
a contragosto, os jogadores teriam preferido que Fernando Prass tivesse tido a primazia,
mas mesmo antes do goleiro ser dispensado por contusão, Micale deu a faixa a
Neymar, jogador tido como arrogante e individualista, o que fez ferver o
caldeirão na concentração e nos treinos.
Em
momento algum Neymar tentou se aproximar do grupo neste início de trabalho e seu
distanciamento e falta de diálogo azedou o clima de vez.
É
o que se comenta nos bastidores.
Veio
o primeiro jogo contra a África do Sul e Neymar jogou o seu futebol à parte,
pouco participando no aspecto coletivo da partida. Na segunda partida, contra o
Iraque, quase não apareceu, e uma crise de nervos fez com que ele desobedecesse
a orientação da organização e se negasse a dar entrevistas ao final da partida.
Tudo
zero a zero, menos a atitude do ídolo, que continuava marcando seus gols
contra.
Pra
piorar a situação, Rogério Micale demonstrou publicamente que não conseguia
comandar o craque e corre o risco de cair em descrédito com todos os outros
jogadores.
Este
episódio veio apenas acrescentar a falta de estrutura técnica e emocional que
está levando o futebol brasileiro para o fundo do poço.
Os
jogadores brasileiros desta geração são mimados, estão mais preocupados com o
corte de cabelo do que com a imagem esportiva, têm milhões de dólares rondando
as suas cabeças, agem com falta de comprometimento com a profissão e com o
público que lota teatros para apreciar a sua exibição como artistas que são e,
finalmente, são comandados por técnicos e diretores sem pulso e sem moral para
tomar decisões firmes, pois paparicam os atletas ao invés de orientá-los.
Pode
ser que eu queime a língua (no caso, os dedos) e Neymar venha a ressuscitar, trazendo
com ele a confiança para todo o grupo, que a equipe desencante e venha conquistar
o ouro e a alegria olímpica, proporcionando finalmente um pouco de orgulho para
o torcedor.
As
perspectivas são desfavoráveis, e a mudança de atitude de Neymar é o grande
trunfo que o Brasil olímpico precisa para torná-las favoráveis e vitoriosas.
Isto
pode ter acontecido contra a Dinamarca, cujo futebol apresentado nas partidas
anteriores também não foi nenhuma Brastemp.
Assim
sendo, voltaria a empatia entre técnico e jogadores, o espírito de união do
grupo e a esperança de espantar a bruxa que nos assombra há alguns anos.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 12/08/2016)
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