O
ATOR
(QUINTA
PARTE – INTERLÚDIO)
A
exibição de O Defunto Virgem foi repentinamente interrompida por três tiros de
revólver disparados no peito do desditoso Benito Rubaloca, disparados por sua
mulher Ignes Rubaloca num acesso de ciúme, diante de meia dúzia de testemunhas,
conforme constou nas manchetes dos jornais do dia seguinte e no boletim de
ocorrência lavrado na delegacia horas depois do crime.
Dorotéa
Vaughan trancou-se no banheiro e só foi de lá retirada quatro horas depois pelo
servente do teatro, muito lívida e balbuciante, após a polícia ter levado madame
Rubaloca – que depois do terceiro tiro não se preocupou em se livrar do
flagrante e prostrou-se sentada numa cadeira esperando pelo seu inexorável destino.
Passado
o susto, dias depois Dorotéa aproveitou para tirar vantagem do desditoso
episódio e foi se expor em um programa da televisão marrom, para depois
contracenar um filme B onde expôs a sua natureza nua e crua para faturar o
equivalente a cinco anos de apresentação no Teatro Aliança. No filme, sua
beleza estática e sua falta de talento não chegaram a ser problema.
Timóteo
saiu de circulação, e a última vez que foi visto vendia frutas na feira, também
sem exibir o menor talento.
Rubaloca,
o pivô da questão, teve enfim seu nome eternizado no Diário de Notícias como
sempre fora o seu desejo, muito embora na página policial.
Quanto
a mim, desde então sou um mais um personagem da vida real à procura de uma persona no palco, saudoso do camarim que
guarda aquele silêncio que antecede o espetáculo e daquele calafrio que antecipa
a entrada triunfante no palco.
E,
na falta de um Tennessee Williams, sigo à espera de um Eraldo Montalvão para
escrever as minhas falas.
2013
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