A MÍSTICA DA AMARELINHA
No seu programa da última quarta-feira o apresentador e jornalista Pedro Bial entrevistou três especialistas - o jornalista Juca Kfouri, o sociólogo Ronaldo Helal e o cronista Antonio Prata - além do escritor e também jornalista Sérgio Rodrigues, que deu seus pitacos sentado na plateia. O tema versou sobre os inesquecíveis 7 x 1 aplicados pela Alemanha sobre o Brasil na Copa do Mundo de 2014 em Belo Horizonte.
É consenso geral que é mais fácil um raio cair não duas, mas três vezes exatamente no mesmo lugar do que tal tragédia se repetir, sejam quais forem os litigantes e seja qual for o local, por se tratar de duas potências futebolísticas disputando pari-passu uma vaga para a grande final.
Considerando todas as partidas disputadas ao longo de todas as Copas desde 1930 até 2014 somente dez partidas tiveram goleadas com sete gols ou mais, mesmo assim reunindo forças bastante díspares que jamais mostraram o equilíbrio de um Brasil x Alemanha.
Sérgio Rodrigues ponderou que uma vitória alemã naquela altura do campeonato - expressão que neste contexto pode ser usada com muita propriedade - seria mais do que natural, porque a Alemanha tinha um time poderoso e o Brasil "não estava bem", isto é, mostrava grandes limitações e vinha apresentando um futebol de deixar o torcedor com a pulga atrás da orelha. Mas nunca por essa diferença de gols.
Os jogadores se sentiam pressionados com expectativa da torcida, com a obrigação de "vingar 1950" - ano em que em muitos casos nem os pais deles haviam nascido - e com as declarações da Comissão Técnica, em particular Carlos Alberto Parreira, que o Brasil já começava a Copa "com uma mão na taça".
A confiança havia aumentado com a vitória por 3 x 0 contra a Espanha - então campeã do mundo - na Copa das Confederações de um ano antes e com a presença de Neymar, cuja participação era simbolicamente comparada à de Pelé em 1958 .
O problema é que, além do desempenho não muito animador, os jogadores entraram em campo contra a Alemanha sob um enorme desequilíbrio emocional, comparável ao sofrido na final de 1998, quando na véspera do jogo o atacante Ronaldo apresentou um misterioso quadro de convulsão e chegou a ser levado para um hospital, deixando todos muito preocupados.
Desta vez o fator da inquietação foi Neymar, atingido nas costas durante as quartas de final contra a Colômbia e objeto de preocupação de toda a delegação.
As lendas e mistérios que cercam a partida dão conta que os alemães puxaram o freio de mão no segundo tempo após terem feito 5 x 0 na etapa inicial "por respeito à história e à torcida do Brasil" , caso contrário os 7x1 poderiam ter ido mais além. Foi a segunda grande goleada sofrida pelo Brasil em toda a sua história, depois dos 6 x 0 contra o Uruguai no Campeonato Sul-Americano de 1920.
Ronaldo Helal preferiu comentar a reação da torcida.
Diferentemente da derrota de 2 x 1 para o Uruguai em 1950, onde o povo decretou luto nacional e crucificou alguns jogadores, a reação do torcedor desta vez não foi tão implacável.
Helal credita isto a um distanciamento que foi tomando conta do torcedor com relação à seleção brasileira depois que começou o êxodo dos nossos melhores valores para a Europa e em menor escala para a Ásia e para o Oriente Médio.
Antigamente, diz o sociólogo, o brasileiro via a seleção brasileira como a extensão da Pátria, e qualquer derrota ou tropeço doía muito na nossa soberania porque o derrotado não era a seleção, mas sim o país.
A consciência agora é totalmente diversa. O futebol da seleção brasileira não é mais venerado como uma extensão de patriotismo, é apenas mais um time que se veste de amarelo formado por jogadores que pensam mais na própria valorização e imagem do que na pátria de chuteiras. A grande maioria dos torcedores hoje em dia torce muito mais pelos seus clubes de preferência do que para a seleção, e dão mais ênfase aos clássicos regionais do que às disputas da seleção.
Até o perfil do torcedor que enfrenta uma guerra para ir ao estádio assistir a um clássico e daquele que se paramenta para ver a seleção é diferente. Um vai para o futebol, outro se preparou para um espetáculo circense.
A mística da amarelinha mudou de contexto.
É consenso geral que é mais fácil um raio cair não duas, mas três vezes exatamente no mesmo lugar do que tal tragédia se repetir, sejam quais forem os litigantes e seja qual for o local, por se tratar de duas potências futebolísticas disputando pari-passu uma vaga para a grande final.
Considerando todas as partidas disputadas ao longo de todas as Copas desde 1930 até 2014 somente dez partidas tiveram goleadas com sete gols ou mais, mesmo assim reunindo forças bastante díspares que jamais mostraram o equilíbrio de um Brasil x Alemanha.
Sérgio Rodrigues ponderou que uma vitória alemã naquela altura do campeonato - expressão que neste contexto pode ser usada com muita propriedade - seria mais do que natural, porque a Alemanha tinha um time poderoso e o Brasil "não estava bem", isto é, mostrava grandes limitações e vinha apresentando um futebol de deixar o torcedor com a pulga atrás da orelha. Mas nunca por essa diferença de gols.
Os jogadores se sentiam pressionados com expectativa da torcida, com a obrigação de "vingar 1950" - ano em que em muitos casos nem os pais deles haviam nascido - e com as declarações da Comissão Técnica, em particular Carlos Alberto Parreira, que o Brasil já começava a Copa "com uma mão na taça".
A confiança havia aumentado com a vitória por 3 x 0 contra a Espanha - então campeã do mundo - na Copa das Confederações de um ano antes e com a presença de Neymar, cuja participação era simbolicamente comparada à de Pelé em 1958 .
O problema é que, além do desempenho não muito animador, os jogadores entraram em campo contra a Alemanha sob um enorme desequilíbrio emocional, comparável ao sofrido na final de 1998, quando na véspera do jogo o atacante Ronaldo apresentou um misterioso quadro de convulsão e chegou a ser levado para um hospital, deixando todos muito preocupados.
Desta vez o fator da inquietação foi Neymar, atingido nas costas durante as quartas de final contra a Colômbia e objeto de preocupação de toda a delegação.
As lendas e mistérios que cercam a partida dão conta que os alemães puxaram o freio de mão no segundo tempo após terem feito 5 x 0 na etapa inicial "por respeito à história e à torcida do Brasil" , caso contrário os 7x1 poderiam ter ido mais além. Foi a segunda grande goleada sofrida pelo Brasil em toda a sua história, depois dos 6 x 0 contra o Uruguai no Campeonato Sul-Americano de 1920.
Ronaldo Helal preferiu comentar a reação da torcida.
Diferentemente da derrota de 2 x 1 para o Uruguai em 1950, onde o povo decretou luto nacional e crucificou alguns jogadores, a reação do torcedor desta vez não foi tão implacável.
Helal credita isto a um distanciamento que foi tomando conta do torcedor com relação à seleção brasileira depois que começou o êxodo dos nossos melhores valores para a Europa e em menor escala para a Ásia e para o Oriente Médio.
Antigamente, diz o sociólogo, o brasileiro via a seleção brasileira como a extensão da Pátria, e qualquer derrota ou tropeço doía muito na nossa soberania porque o derrotado não era a seleção, mas sim o país.
A consciência agora é totalmente diversa. O futebol da seleção brasileira não é mais venerado como uma extensão de patriotismo, é apenas mais um time que se veste de amarelo formado por jogadores que pensam mais na própria valorização e imagem do que na pátria de chuteiras. A grande maioria dos torcedores hoje em dia torce muito mais pelos seus clubes de preferência do que para a seleção, e dão mais ênfase aos clássicos regionais do que às disputas da seleção.
Até o perfil do torcedor que enfrenta uma guerra para ir ao estádio assistir a um clássico e daquele que se paramenta para ver a seleção é diferente. Um vai para o futebol, outro se preparou para um espetáculo circense.
A mística da amarelinha mudou de contexto.
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