quinta-feira, 3 de maio de 2018




O IMPROVISO NO JAZZ

(Parte 1)

(Artigo escrito para a página da Academia Poética Brasileira – https//www.facebook/com/academiapoetica/ )

Improviso de uma música é uma interpretação não estudada da melodia onde o executante faz variações em torno de um tema preestabelecido navegando sobre a harmonia original e praticamente colocando uma nova melodia sobre os acordes.
Mais do que qualquer outra música, o jazz é um estilo rico em improvisos.
Não existe jazz em que não exista pelo menos algum nível de improvisação. Isto porque a própria origem do jazz se baseia numa música que não era transcrita em partituras e onde cada músico a interpretava da forma como ele a sentia ou como lhe permitiam as suas qualificações técnicas.
A história dos improvisos no jazz nos conta casos bastante curiosos, e aqui seguem alguns exemplos.
Um dos motivos pelos quais Billie Holiday interpretava as músicas de uma maneira não convencional é porque tinha um enorme talento mas não tinha a mesma extensão de voz de outras cantoras como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Helen Forrest ou Lena Horne. Assim, Billie modulava a linha melódica de modo que o espírito da melodia originalmente escrita ficasse mantido dentro da base harmônica instrumental, sem ter no entanto a necessidade de colocar as notas exatas, e isso ela fazia de uma forma magistral.
Mesmo sem seguir rigidamente a melodia, o seu modo lânguido de interpretar a transformou em uma das cantoras mais representativas do jazz no século XX.
Outro caso diz respeito ao trompetista Miles Davis, um dos músicos mais emblemáticos da história do jazz, por ter sido um inovador importante em todos os movimentos dos quais fez parte (bebop, cool jazz, hard bop, modal jazz, fusion e jazz-funk). Ele não possuía a mesma habilidade técnica de outros ícones na execução do instrumento – como Louis Armstrong, Roy Eldridge ou Dizzy Gillespie – mas a sua veia improvisadora foi tão criativa que ele acabou fazendo escola dentro do jazz. Na sua criatividade, Miles Davis explorava as notas longas, as pausas e as modulações dentro da mesma frase melódica, o que o tornou um improvisador ímpar.
Já o cantor Mel Tormé não contava com a extensão vocal nem os graves de Bing Crosby, Billy Eckstine, Frank Sinatra ou Joe Williams, mas possuía um veludo na voz e a graça da improvisação no modo de cantar. Baterista e compositor, ele sabia como explorar a divisão e a sincopatização da música com maestria, e foi um dos primeiros cantores a executar o improviso como se fosse não uma voz, mas um instrumento, numa técnica denominada “scat singing” (também utilizada com muita propriedade pela cantora Ella Firzgerald).
Cantores, e principalmente instrumentistas de jazz, costumam fazem uso deste recurso que embeleza a interpretação e dá à música a “cara do jazz”. 
Quando analisamos, porém, o assunto “improvisação”, devemos tomar cuidado para não confundir improvisação com solo, pois um solo nem sempre corresponde a um improviso e o improviso não necessariamente transcreve um solo, pois é possível improvisar sobre uma abertura, uma finalização, uma passagem ou sobre um “riff”.

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