A GULA
(Excerto)
Ah, a gula!
Se gula fosse pecado os padres não se
empanturrariam dos mais variados acepipes acompanhados por um saboroso vinho
espanhol daqueles recebidos no Brasil contrabandeados e acondicionados em
barris de carvalho legítimo, depois transferidos para jarras e garrafões sem
medo de azedar, pois conforme dizia Padre Lourenço “...vinho puro, consumo
rápido”...”
E o que dizer de um assado de carneiro,
ornamentado com batatas sauté e servido com arroz de açafrão, salada de
rabanetes adubada com azeite de oliva português primeira prensa e pão de peito
daqueles da Basilicata?
É certo que todas as religiões
preconizam algum jejum durante o ano – talvez mais pela necessidade de reservar
o estoque e preservar o pouco do fígado e da vesícula que nos resta do que para
prestar uma homenagem ao Senhor Deus. Afinal, que religião é essa que se
preocupa com fartura de comida e de bebida e se esquece da farsa, da mentira, da
guerra, da opressão e do opróbio?
Será pecado a ingestão de chá com
torradas, ovos e bacon pela manhã, um belo suco de frutas e um iogurte batido,
além do sanduiche de queijo Gruyère e de uma fatia de melão? Será pecado o
T-bone steak com agrião na hora do almoço ajudado por um chope escuro e broto
de alcachofra na entrada? Café com chantili na saída?
Será pecado o carpaccio?
Pecado não é a comida e sim a falta
dela.
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