PROVAÇÕES DE UM ESTUDANTE
EM ÉPOCA DE PROVAS
(excerto)
A
plataforma se estende por metros e então finaliza em uma rampa que termina
abruptamente num punhado de pedregulhos cobertos por óleo e por ruídos. Chaves
se movimentam, preguiçosas. Há ainda algum vestígio de vapor embora os trens do
império tenham sido trocados por locomotivas há um certo tempo.
O
portão de ferro está aberto com as pontas da grade para cima e todos passam
silenciosos como nas fronteiras, as crianças por baixo da catraca e as de colo
por cima, os adultos empurrando a portinhola com a barriga ou com o sexo, a
virgindade outra vez partida junto com aquele ruído parecido com o do portão do
cemitério à noite quando se fecha, o mesmo guincho estridente do século passado,
os ratos deslizando e os quadros de aviso sem leitores e sem avisos.
Assim
também fazia Hitler, tocava o seu rebanho ao som de marchas e contramarchas, a
mão estendida para ver se chovia até que choveram as bombas britânicas
estreladas, e aí mesmo aquela cruz quebrada impressa sobre sangue perdeu a sua
austeridade, mesmo os centuriões perderam os seus escudos e as suas máscaras –
as contra gases e as da arrogância – e mesmo o som da marcha perdeu o seu
repique.
Assim
sempre foi e assim sempre será – a ascensão e a queda do terceiro reino.
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