segunda-feira, 10 de setembro de 2018






PROVAÇÕES DE UM ESTUDANTE EM ÉPOCA DE PROVAS
(excerto)

A plataforma se estende por metros e então finaliza em uma rampa que termina abruptamente num punhado de pedregulhos cobertos por óleo e por ruídos. Chaves se movimentam, preguiçosas. Há ainda algum vestígio de vapor embora os trens do império tenham sido trocados por locomotivas há um certo tempo.   
O portão de ferro está aberto com as pontas da grade para cima e todos passam silenciosos como nas fronteiras, as crianças por baixo da catraca e as de colo por cima, os adultos empurrando a portinhola com a barriga ou com o sexo, a virgindade outra vez partida junto com aquele ruído parecido com o do portão do cemitério à noite quando se fecha, o mesmo guincho estridente do século passado, os ratos deslizando e os quadros de aviso sem leitores e sem avisos.
Assim também fazia Hitler, tocava o seu rebanho ao som de marchas e contramarchas, a mão estendida para ver se chovia até que choveram as bombas britânicas estreladas, e aí mesmo aquela cruz quebrada impressa sobre sangue perdeu a sua austeridade, mesmo os centuriões perderam os seus escudos e as suas máscaras – as contra gases e as da arrogância – e mesmo o som da marcha perdeu o seu repique.
Assim sempre foi e assim sempre será – a ascensão e a queda do terceiro reino.    

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