terça-feira, 20 de novembro de 2018







ENTRE O CINZA E O COR-DE-ROSA
(Augusto Pellegrini)

Olho o mundo cor-de-cinza
Com minhas lentes cor-de-rosa
E tento, com este artifício
Transformar todo esse vício
Em uma coisa vistosa

Mas quando ele é cor-de-rosa
E eu o vejo com lentes cinza
Ele vira coisa à toa
pois transforma as coisas boas
Num cenário de ranzinzas

Pessoas más e invejosas
Se ponho através das lentes
Deixam de ser perigosas
Ficam dóceis e decentes

E as pessoas de alta estima
Se olhadas na cor cinzenta
Conseguem ser confundidas
Com uma alma peçonhenta

Tudo em volta é desespero
Só meus óculos me acalmam
E convertem desmazelo
Em flores que nunca acabam

Estes óculos influem
Na mudança da consciência
Pois transformam amor em ódio
E impiedade em clemência

Comecei a busca rósea
De um tesouro à deriva
Pra tornar mais atrativa
Esta vida de problemas
Me vi vivendo o dilema
Entre o fato e a expectativa

O que achei, do lado cinza
Foi um destino, embora incerto
Fui em frente, peito aberto
Não passei do desejado
Recuei, amedrontado
Sem ter salvação por perto

Foi terrível a experiência
De ver dois lados diversos
De uma só realidade
A partir da cor da lente
Vi dois mundos diferentes
A mentira e a verdade

Outubro 2018









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