quarta-feira, 23 de janeiro de 2019






A MARATONA DE DANÇA
(excerto)

Dois trechos do meu livro “As Cores do Swing”, um passeio pela era das big bands, já revisado, acabado e pronto à espera de uma Editora que o publique

                                                     Trecho um – Apresentação do autor

O swing nasceu em Nova York, tendo como inspiração a música de jazz, e tendo como raízes a música que era tocada na Chicago de então. Ele também nasceu da necessidade de se mesclar a arte da música orquestrada com a diversão popular da dança.
Este livro procura contar a história do swing de uma forma simples e didática, e para tanto utiliza três componentes centrais – a ficção, a realidade e a história. O livro também fornece ao leitor, na sua parte final, uma boa dose de informação adicional.
A ficção mostra aspectos e personagens pitorescos e situações que não necessariamente aconteceram, mas que poderiam ter perfeitamente acontecido. Aqui, o leitor encontrará diálogos que provavelmente foram travados em algum lugar, fatos que se confundem com a realidade e pessoas que participaram anonimamente da trama sem alterarem o rumo da verdade, tudo fazendo parte do imaginário do autor.
A realidade situa o que há de factual por detrás da origem, do nascimento e do crescimento do swing como a música americana de maior abrangência no mundo durante mais de trinta anos. Ela resgata os nomes daqueles que participaram desta incrível aventura, os locais onde a música mudou o curso da história e as ramificações e consequências que marcaram a existência e a importância do estilo.
A história age como um todo, e procura situar o mundo num tempo-espaço paralelo ao advento, apogeu e declínio do swing, mostrando fatos de natureza política, econômica, social, intelectual, cultural e científica que fizeram parte da primeira metade do século vinte, especialmente nos Estados Unidos.
Já as informações adicionais entram como um apêndice que busca satisfazer a curiosidade do leitor a respeito de diversos personagens e lugares mencionados ao longo da narrativa e facilitar uma eventual pesquisa.
O livro foi concluído em dezembro de 2011, mas teve sua revisão final feita em janeiro de 2019. A história de muitos dos artistas que com a sua arte ajudaram a escrever estas páginas também se encerrou nesta data, mas alguns destes personagens históricos ainda estavam vivos quando da última revisão.
Finalmente, nunca é demais lembrar que este livro também visa desmistificar o pensamento preconceituoso ainda mantido por alguns jazzófilos exageradamente puristas, que acusam o swing de ser uma música meramente comercial (e que, portanto, não deveria ser confundido com o “verdadeiro” jazz, esta sim, na visão dessas pessoas, uma música pura e intelectualizada).
“As Cores do Swing” pretende demonstrar, até com informações prestadas pelos próprios jazzistas, que o swing não é um estilo fechado em si mesmo, nem apenas mais uma variante do jazz, mas a ponte que une o jazz tradicional e o moderno, pavimentando com brilho e cores a história e o roteiro deste rico estilo musical.

Trecho dois – A maratona  


No início, tudo parecia muito divertido.
Alguns casais – não era o caso de Susan e Phil – esbanjavam precocemente uma energia que iria fazer falta no futuro, sem atentar para a duração imprevista da maratona que ali se iniciava.
Passados oito dias, lá estavam Susan e Philip, completamente alheios ao mundo exterior, vagando como dois fantasmas, sem conseguir sentir as pernas, magros, macilentos, com a roupa suja e amarrotada, os sapatos rotos e os pés em pandarecos.
Lá fora o sol se punha, preguiçoso, marcando o final de mais um dia de provação.
Do centro do ringue se espalhava um odor acre e nauseabundo que pairava por todo o auditório, mesmo com a ventilação que provinha de um largo portão e dos janelões laterais estrategicamente abertos.
Dos sessenta casais que haviam iniciado a empreitada ainda restavam sete, Phil e Susan incluídos. Os pares haviam perdido a noção de espaço, e apesar da imensidão do tablado ainda de trombavam e se esbarravam, como que procurando um apoio inconsciente.
Os olhares sem brilho se cruzavam no vazio, sem se ver, como se todos fossem espectros.
De repente, Susan sentiu que o chão começou a se deslocar, como se tivesse apoiado sobre rodas. Olhou para o alto e viu as lâmpadas de iluminação a gás girando como se fossem levantar voo, completamente fora de foco para os seus olhos opacos.
Ela tentou resistir, mas a sensação era mais forte. Susan foi levada pelo turbilhão, se agarrou a Philip com todas as forças que lhe restavam e deixou cair seu corpo sobre o dele.
Ela se viu flutuando, e a dor que sentiu quando bateu a cabeça com força no tablado fê-la pensar que o céu tivesse desabado sobre eles.
Abriu novamente os olhos e viu Phil também caído, a boca aberta salivando e a face pálida e sem expressão, enquanto ouvia gritos e gargalhadas que pareciam vir de um túnel de vento.
A aventura chegara ao fim.




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