quinta-feira, 24 de janeiro de 2019





PONTOS DE VISTA


Filinto Querubim, um político popular, no afã de ser ainda mais popular, se isolou nos cantões do Himalaia a fim de aprender com os antigos monges algumas práticas e filosofias que o pudessem diferenciar dos outros políticos.
Entre outras coisas transcendentais, ele aprendeu a levitar e a exercitar o antinatural e o ilógico.
Depois de um longo período de hibernação e isolamento, ele voltou para o seu país e se dedicou com afinco a disputar uma eleição importante.
Como em todo período eleitoral, a troca de farpas entre os candidatos, os membros dos partidos dos candidatos e os simpatizantes dos candidatos era feroz.
Obedecendo a uma estratégia de marketing, Filinto resolveu chocar a patuleia e simplesmente caminhar sobre as águas do lago da cidade!
Isto posto, convocou a imprensa, os correligionários e a populaça em geral para assistir a sua performance que seria executada às seis horas da tarde, depois das badaladas da Virgem Maria.
Dito e feito.
Logo depois das seis Filinto Querubim colocou um terno todo branco para melhor contrastar com o negrume do lago ao crepúsculo e – fantástico! – adentrou as águas e caminhou alguns metros sobre ela. Depois, girou nos calcanhares e voltou calmamente sem perder a concentração, galgando a terra firme sem maiores dificuldades ou sequer molhar a barra da calça.
Comoção geral! Isto não é possível, deve haver alguma artimanha circense, como aquelas usadas por prestidigitadores e ilusionistas – porém nada foi encontrado, nem uma corda. nem um arame, nem um tablado, nada que indicasse um ardil.
No dia seguinte, os jornais publicaram fotos e textos sobre o milagre, encimando a primeira página com manchetes do tipo “Incrível! Filinto Querubim caminha sobre as águas do lago” e “Candidato, Filinto Querubim cumpre o que promete” (essa, do diário que apoiava a sua campanha).  
O jornal da oposição simplesmente noticiou a seguinte manchete: “Querubim não sabe nadar”.
Sem fotos ou maiores comentários.   

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