PONTOS DE VISTA
Filinto Querubim, um
político popular, no afã de ser ainda mais popular, se isolou nos cantões do
Himalaia a fim de aprender com os antigos monges algumas práticas e filosofias
que o pudessem diferenciar dos outros políticos.
Entre outras coisas transcendentais,
ele aprendeu a levitar e a exercitar o antinatural e o ilógico.
Depois de um longo período
de hibernação e isolamento, ele voltou para o seu país e se dedicou com afinco
a disputar uma eleição importante.
Como em todo período eleitoral,
a troca de farpas entre os candidatos, os membros dos partidos dos candidatos e
os simpatizantes dos candidatos era feroz.
Obedecendo a uma estratégia
de marketing, Filinto resolveu chocar a patuleia e simplesmente caminhar sobre
as águas do lago da cidade!
Isto posto, convocou a
imprensa, os correligionários e a populaça em geral para assistir a sua
performance que seria executada às seis horas da tarde, depois das badaladas da
Virgem Maria.
Dito e feito.
Logo depois das seis Filinto
Querubim colocou um terno todo branco para melhor contrastar com o negrume do
lago ao crepúsculo e – fantástico! – adentrou as águas e caminhou alguns metros
sobre ela. Depois, girou nos calcanhares e voltou calmamente sem perder a
concentração, galgando a terra firme sem maiores dificuldades ou sequer molhar
a barra da calça.
Comoção geral! Isto não é possível,
deve haver alguma artimanha circense, como aquelas usadas por prestidigitadores
e ilusionistas – porém nada foi encontrado, nem uma corda. nem um arame, nem um
tablado, nada que indicasse um ardil.
No dia seguinte, os jornais
publicaram fotos e textos sobre o milagre, encimando a primeira página com manchetes
do tipo “Incrível! Filinto Querubim caminha sobre as águas do lago” e “Candidato,
Filinto Querubim cumpre o que promete” (essa, do diário que apoiava a sua
campanha).
O jornal da oposição
simplesmente noticiou a seguinte manchete: “Querubim não sabe nadar”.
Sem fotos ou maiores
comentários.
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