AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 21 - O NEO-SWING
(continuação)
Enquanto a
tendência do rock era cada vez mais a
de se tornar uma música de radicais contestadores, o twist e os seus primos pop
caminhavam no sentido oposto, com uma preocupação meramente lúdica.
O twist acabou ficando pelo caminho, até
por não possuir uma qualidade musical mais consistente, mas deixou patente aos
olhos de todos a necessidade da dança e da expressão corporal, que foi atendida
através das pequenas dance houses da
década de 1970 e dos dance halls que
vieram a seguir substituindo a música ao vivo pelo som dos DJs. Este fenômeno
se espalhou por todo o mundo, dura até os dias de hoje e não tem data para
acabar.
A música
norte-americana tomava, na época, diversos caminhos. O blues se mantinha
inatingível, embora com o poder de alcance limitado aos puristas e roqueiros
mais sofisticados, mas abriu caminho para a chamada “black music” que
viria a ser artística e comercialmente explorada pela gravadora Motown. Com o
passar dos anos, houve a popularização de diferentes novidades vocais com
tendências jazzísticas como The Singers Unlimited, The Manhattan Transfer, e
Lambert, Hendricks & The Ross Ensemble, de cantores como Bobby McFerrin, Linda
Rondstad e Joe Jackson, e dos cantores-pianistas Harry Connick Jr. e Michael
Feinstein, só para citar uns poucos.
O movimento punk
explodiu e ganhou status, mas a tônica da época eram as discotecas e o
surgimento de grupos como Bee Gees, Village People, ABBA, The Manhattans, Simon
& Garfunkel, The Carpenters, Creedence Clearwater Revival, Queen e cantores
como Michael Jackson, Gloria Gaynor, Marvin Gaye, Carole King, Aretha Franklin,
Roberta Flack, Billy Joel e Elton John.
Aquele momento,
porém, também indicava uma forte tendência de modernização dos estilos musicais
mais antigos, e alguns críticos começaram a chamar o movimento de “a indústria americana da nostalgia”,
como se tudo não passasse de uma volta ao passado.
Foi neste clima,
em pleno apogeu das casas de techno e
hip-hop, que a década de 1990
apresentou outra novidade: os swingsters.
Os “swingsters” era uma geração de jovens cheios de animação que buscavam
retomar o prazer de dançar os hits de
Benny Goodman ou Louis Jordan dentro da ótica do lindy hop, adicionando à melodia original efeitos eletrônicos. O
som, além de manter a pulsação do velho swing,
recheava a música com novos efeitos e com um beat moderno, rápido e contundente, ao qual eles denominaram “jump-jiving”.
Com os swingsters nasceu um estilo musical
alegre e extrovertido que era ao mesmo tempo futurista e retrô, chamado de “neo-swing”, congregando músicos com os instrumentos
acústicos de uma big band, mas também
produzindo sons mecânicos e eletrônicos. No caso das apresentações ao vivo, a
música era um convite para que o público revivesse a febre dos antigos salões.
Ao lado do “neo-swing” surgiu o “swing revival”, que procurava na medida
do possível manter as características do swing
original.
Musicalmente, neo-swing é uma mistura maluca que
coloca no mesmo recipiente o jazz, o swing,
o blues, o rock-a-billy, o rock e os
diversos ritmos da dance music, e tudo
é geralmente executado com intenso vigor, unindo metais estridentes a um som “high-tech”
e mantendo uma frequência de beat
alucinante. O swing revival contém os
mesmos ingredientes, mas pode também transportar o público para uma atmosfera
manhosa regada a muito blues.
Em vez do palco estático,
que fora a tônica do passado com as orquestras lideradas pelos grandes bandleaders, estas bandas do século
vinte e um se exibem ao vivo de uma forma absolutamente dinâmica, com base num
som sampleado ou não. A apresentação das bandas é geralmente apoiada por
imagens em telões estrategicamente distribuídos pela casa, complementado por um
som surrounding e por delirantes
efeitos luminosos.
As bandas de neo-swing e de swing revival começaram a se multiplicar, com muito swing e muito happening, uma festa para os olhos e para os ouvidos – The Big Bad
Voodoo Daddy, The Cherry Poppin’ Daddies, The Royal Crown Revue, The Squirrel
Nut Zippers, Lavay Smith & Her Red Hot Skillet Lickers, The Brian Setzer
Orchestra e Ingrid Lucia & The Flying Neutrinos – muitas batizadas com
nomes estranhos ou que podem dar margem a uma dupla interpretação. Estas bandas
fazem um grande sucesso com a sua mensagem ao mesmo tempo vintage e moderna, frenética e atualizada, com um line-up voltado para as big bands e com um andamento geralmente
mais empolgante do que o das orquestras de swing
do passado.
Estas orquestras
têm se notabilizado por excursões feitas ao redor do mundo, e têm muito
material registrado desde o início da febre revival,
que aconteceu no final dos anos 1980. Todas estas bandas possuem um intenso
apelo visual, de modo que é muito mais gratificante assistir aos seus shows ao
vivo ou em vídeos do que simplesmente ouvir suas gravações sonoras.
A maioria delas faz
referência a estilos e ritmos que surgiram bem depois do swing e que incrementaram a pulsação da música americana – rock-a-billy, rock, punk, hip-hop, jump-blues, ska – e
também manifestações mais antigas como o blues,
a country music, o mambo, a salsa e o calypso.
Com exceção das músicas já consagradas pelo cancioneiro americano, as letras
são de uma maneira geral ligeiramente impróprias.
Uma das
características destas bandas é e presença de um cantor performático, a exemplo
do que acontece nas bandas de rock,
conduzindo os músicos como um maestro, com sua movimentação de palco, seus
efeitos de dança e suas caras e bocas.
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