AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 21 - O NEO-SWING
A febre
do swing foi altíssima, e
durou cerca de trinta anos. Depois, ela foi naturalmente diminuindo e cedendo
lugar a outros modismos, numa prova inequívoca de que a arte musical se renova
a cada instante, na eterna busca do ser humano por novidades.
Quando o swing se acalmou durante os anos 1950, a
dança frenética do lindy hop deixou
de fazer parte dos salões e se transferiu para os palcos ou para as películas
cinematográficas na forma de um balé coordenado e dirigido por experts.
O show business se apresentava nas vozes
de Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Nat King Cole, Tony Bennett, Ella
Fitzgerald, Rosemary Clooney e Doris Day. A música western-country – um gênero marcado por um comportamento não dançante
– mantinha a sua tradição com Willie Nelson, Jimmie Rodgers, Hank Williams e
Kenny Rogers. Enquanto isso, no final da década, a chamada música da juventude,
como o rock de Elvis Presley, Chuck
Berry, Jerry Lee Lewis e Little Richard, abria espaço para o cantor requebrar e
se sacudir à vontade, mas diminuía o ímpeto do público em termos de dança.
Neste aspecto,
dentro da explosão do rock and roll,
a dança se transferia da plateia para o palco. Os artistas mesclavam
adequadamente o canto com a dança, e o público, apesar de agir como se
estivesse em transe, se limitava a gritar e espernear com muita emotividade e
pouca coordenação.
Por outro lado,
com o passar dos anos, o rock também
foi se intelectualizando à sua maneira e pouco a pouco se transformando numa
música underground, marginal, o que
obviamente desestimulava a dança. Afinal, havia toda uma mensagem a ser
compreendida, o que exigia um comportamento engajado e alguma sobriedade nas
atitudes, mesmo partindo daqueles que eram tidos como alienados e
inconsequentes e mantinham drogas e alucinógenos no seu cardápio.
Desde meados dos
anos 1950 até os anos 1990, o swing tradicional
chegou a ser considerado um estilo em extinção, e teve que resistir bravamente
aos novos costumes e às novas tendências da música popular americana. O estilo era
cultivado apenas por alguns poucos entusiastas, na sua maioria senhores
sessentões que continuavam sentindo pulsar nas veias o frêmito causado pelas
grandes orquestras. Além deles, existiam os colecionadores de raridades e os pesquisadores,
misturados a muitos “neo saudosistas” que apesar de não terem convivido com o swing gostavam dele do mesmo jeito.
Paralelamente,
alguns aficionados pela dança gostavam de mostrar em público a sua porção lindy hop, exercendo uma forte atitude
corporal e gestual – não ao som do swing,
mas das músicas pop que possuíam
algum parentesco com o blues e o rhythm & blues.
Durante os anos
1970, os salões – que no passado haviam brilhado com as big bands e os dançarinos
de lindy hop – se transformaram em
feéricas e psicodélicas casas noturnas denominadas “discoteques” ou “disco clubs”’
onde pontificava a música mecânica transmitida por possantes alto-falantes
multifônicos, decoradas pelo pisca-pisca intermitente de uma iluminação que
contagiava, embora na verdade mal iluminasse o ambiente.
Os frequentadores
dessas casas noturnas dançavam ao som de Harold Melvin & The Blue Notes,
The Three Degrees, The O’Jays, The Ebony’s Swamp Dogg, The Fourmost, Chuck
Carbo, e até da soul music de Billy Paul, Marvin Gaye e Barry White.
Outra mania “pop-dançante” surgira no início dos anos
1960 com grupos que executavam um tipo de “rock
esportivo”, mais apropriado para servir como fundo musical de manobras de
surfistas do que para concertos ou discotecas. Faziam parte da relação de surf-rockers os grupos instrumentais Dick
Dale & the Deltones, The Bel-Airs, Eddie & the Showmen, The Torquays,
Duane Eddy, e as mais tradicionais The Ventures e a banda inglesa The Shadows,
todos líderes de paradas de sucessos.
Também estavam em
voga o rock-a-billy romântico de Neil
Sedaka, o romantismo juvenil de Paul Anka e um cantor negro já mencionado
alguns capítulos atrás, risonho e ligeiramente acima do peso e que usava o
cabelo cheio de gomalina, chamado Chubby Checker (um apelido que significa algo
como “o gorducho que veste xadrez” para o nome artístico de Ernest Evans).
Chubby Checker
introduziu na hit-parade o novo ritmo
chamado “twist”, que foi baseado,
como já vimos, na música “The Twist”, na qual o dançarino se contorcia para
fazer jus ao nome.
Embora distante
das acrobacias do lindy hop, o twist (e também o hully-gully e outros derivados) ia de encontro aos anseios dos
dançarinos de salão.
E ao contrário dos
esguios e elegantes lindyhoppers
marcados historicamente pelas cultuadas imagens de Frankie Manning e Norma
Miller, o rechonchudo Chubby Checker costumava usar terno escuro ou um conjunto
calça e paletó nada fashion, decorado
por uma gravata fora de propósito, tudo definitivamente antiestético.
A música de Chubby
Checker e de seus seguidores fez história, atravessando a América e se
espalhando pelo mundo, embora alvo das críticas e da ira dos conservadores. Já
próximo aos 80 anos, Checker aposentou o terno brega, mas continua se
apresentando regularmente, e a música “The Twist” recebeu o prêmio como o maior
sucesso da Billboard entre os anos de 1958 e 2008.
Repetindo o que havia
acontecido quarenta anos antes com o swing,
e mais tarde com os requebrados eróticos de Elvis “The Pelvis” Presley, o twist foi acidamente condenado por
líderes religiosos e outros moralistas, que consideravam a música “uma demonstração de promiscuidade racial”.
Na opinião destes
paladinos, que culpavam os negros pela existência do twist, “aquilo era uma música
cuja dança estimulava precocemente o apelo sexual dos adolescentes, por causa
dos seus movimentos corporais obscenos”.
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