PÁGINAS ESCOLHIDAS
COISAS
(1988)
(Augusto Pellegrini)
TRILOGIA
– O ENCONTRO
A água está parada
e turva na margem do lago sobre o qual eu me debruço fazendo coreografia com os
chorões.
“Cuidado, rapaz, esta imagem que vês ao lado da tua bem pode ser uma sereia,
fascinante e bela como as ondas do mar, mas pérfida como os seus abismos”.
Há realmente uma sereia sorrindo para mim no espelho opaco das águas. Os mais
lindos olhos, o sorriso mais ameno e os cabelos flutuando ao vento.
Nada mudou, mas agora tenho solidão a dois.
“Encontraste essa deusa na água e te apaixonaste por ela. Cuidado, digo-te mais
uma vez, pois a água é mística e os seus mistérios são insondáveis”.
Já somos um casal de mãos entrelaçadas e percorremos o parque entre velhas
árvores e ruídos silvestres.
Nossos lábios murmuram palavras que só nossos ouvidos escutam. O dia entardece
e entardecemos nós dois. Vem a vontade doida de amar – por que você me fita com
esses olhos de amor? – e tudo deixou de ser paz para mim.
Então sorrio – “por que esse sorriso tolo, se a natureza é a tua única companhia?
– e tenho como retribuição a tua expressão de enigma.
E aí, caímos em transe.
(Encontro
inesperado num fim de tarde, em plena natureza)
Nenhum comentário:
Postar um comentário