EU
E A MÚSICA
YEAH,
THE BLUES!
Augusto Pellegrini
(o
Brasil no circuito mundial dos festivais)
Parte
3
Foi nesse clima, em maio de 1990, que aconteceu o Segundo
Festival de Blues no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (o Primeiro Festival havia
acontecido em Ribeirão Preto-SP, na Cava do Bosque, no ano anterior).
O festival teve a produção da LUKR Eventos, comandada por Roberto Cocenza.
Também fazia parte da equipe meu amigo e parceiro Renato Winkler que,
parodiando Vinicius, viajou muitas canções comigo, e havia interpretado o
mestre violonista no curta-metragem “A
Busca E A Fuga”, mencionada no capítulo de “Eu e a Música” dedicado a Dick
Farney.
Renato e eu tivemos uma curta mas profícua história musical que havia começado
em Serra Negra-SP, onde nos conhecemos em meados dos anos 1960. Começamos a
compor juntos, e na maioria das nossas composições eu fazia a letra e ele
colocava a música, ou eu colocava a letra numa melodia já feita, ou um pouco de
cada coisa...
Renato possui uma harmonia diferente do convencional e passa para o ouvinte uma
cadência bucólica. Ele é também um poeta de rara inspiração nas suas pinceladas
cheias de um neologismo sagaz e de rimas no modelo haicai. É numerólogo nas
horas vagas, tendo inclusive publicado um livro a respeito chamado “Guia Oracular – A Chave Do Poder
Adivinhatório”.
Em termos de música, ao meu lado, foram doze composições ao longo de quatro anos,
de 1970 a 1974, muitas delas regadas a muito vermute tinto com gelo, antes de a
parceria ser interrompida pelo meu ingresso numa escola de samba, como
mencionado no capítulo de “Eu e a Música” dedicado a Adoniran, e pela minha
partida para São Luís-MA.
Em 1990 eu já morava em São Luís, mas Renato insistiu para que eu fosse assistir
ao Festival de Blues em São Paulo e para tanto me enviou uma credencial de
imprensa, dessas que a gente pendura no pescoço vinte e quatro horas por dia –
“Pellegrini Augusto – Radio Mirante FM –
São Luís-MA” – posto que eu era – e ainda sou – radialista especializado em
jazz (e dizem que em blues, com o que não concordo).
O festival transcorreu de uma forma empolgante e reuniu no mesmo espaço músicos
antológicos como Magic Slim, Bo Diddley, Buddy Guy, Junior Wells, Koko Taylor,
John Hammond, The Blues Machine, Big Daddy Kinsey & The Kinsey Report e os
blueseiros locais André Christóvam, Blues Etílicos e a Brasilian Blues All
Stars, composta por Ed Motta, Flavio Guimarães e Roberto Frejat.
A grande vantagem de possuir uma credencial é poder ser uma sombra presente nas
entrelinhas do espetáculo, nos bastidores, nos camarins e no hotel onde a trupe
se hospedava, local onde via de regra acontecia alguma jam session para confraternizar o blues, além da possibilidade de entrevistas nem sempre exclusivas,
mas sempre muito especiais, e a descoberta maravilhosa de que por trás dos
artistas consagrados se escondem seres humanos cheios de história para contar.
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