EU
E A MÚSICA
YEAH,
THE BLUES!
(o
Brasil no circuito mundial dos festivais)
Parte
2
Estranhamente, apesar das pesquisas e da diferença na aceitação popular, jazz e rock viraram festivais e foram apresentados pela primeira vez para
as grandes plateias do Brasil no mesmo ano.
A primeira edição do Rock in Rio foi realizada entre os dias 11 e 20 de janeiro
de 1985 – evidentemente na cidade do Rio de Janeiro. Ela foi absolutamente
marcante e contou com a presença dos astros internacionais Queen, Iron Maiden,
Whitesnake, James Taylor, George Benson, Rod Stewart, Scorpions, Yes, Ozzy
Osbourne, Nina Hagen e AC/DC, e dos artistas locais Ivan Lins, Paralamas do
Sucesso, Barão Vermelho, Lulu Santos, Pepeu Gomes & Baby Consuelo, Gilberto
Gil, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Kid Abelha e outros.
Por ter sido o primeiro festival desse porte, o Rock in Rio foi um evento que
precisou de muito fôlego e coragem, mas no final correspondeu plenamente às
expectativas.
O público total chegou a quase um milhão e quinhentas mil pessoas e deu uma
resposta entusiasmada à aposta do publicitário e produtor Roberto Medina,
embora ele próprio tenha admitido que realizar o festival “foi uma maluquice”.
O projeto Rock in Rio foi tão bem-sucedido que se multiplicou nos anos
seguintes – até 2019 foram oito edições realizadas no Brasil, oito em Portugal,
três na Espanha e uma nos Estados Unidos, sempre com o mesmo nome, o que acabou
o transformando em uma lucrativa trademark.
Surpreendentemente, foi também em 1985 que aconteceu ao mesmo tempo no Rio e em
São Paulo o primeiro Free Jazz Festival, patrocinado pela Companhia Souza Cruz,
que aproveitou o nome de um dos estilos de jazz
– o free jazz – para promover em
grande estilo o lançamento da sua marca de cigarros Free, naquele tempo em que não
existiam restrições para a sua propaganda e que o hábito de fumar ainda tinha o
seu lado romântico. A companhia aérea Pan-Am também deu o seu apoio,
notadamente no que disse respeito às viagens internacionais.
Não se sabe ao certo quem foi o idealizador do festival, mas sabe-se que a Rede
Globo de Televisão ficou o tempo todo supervisionando e administrando o
espetáculo.
A primeira edição trouxe atrações especialíssimas – Bobby McFerrin, Chet Baker,
Ernie Watts, Sonny Rollins, Pat Metheny, McCoy Tyner, Joe Pass, Hubert Laws,
Phil Woods, David Sanborn e Toots Thielemans, e os brasileiros Azymuth, Cesar
Camargo, Egberto Gismonti, Wagner Tiso, Grupo D’Alma, Luiz Eça, Hélio Delmiro,
Heraldo do Monte, Orquestra Tabajara, Paulo Moura, Zimbo Trio e Uatki, entre
outros.
No ano seguinte tivemos vinte e dois participantes, sendo quatorze brasileiros
e oito internacionais, média que continuou sendo mantida até o fim do projeto
em 2001 (o Free Jazz Festival foi descontinuado devido às leis antitabagistas e
em 2003 foi substituído pelo TIM Festival, que perdeu as características originais
e passou a focar um tipo de música alternativa, que incluía indie, eletrônica, rock e – felizmente – o próprio jazz).
A partir de 2005 o TIM Festival estendeu a sua abrangência para outras capitais
como Curitiba, Belo Horizonte, Vitória e Porto Alegre.
A febre dos festivais se espalhou pelo Brasil, e agora a gente pode curtir encontros
menores, mas de alta qualidade, a cada ano também em Ouro Preto e Governador
Valadares (MG), Paraty, Rio das Ostras e Búzios (RJ), Guaramiranga (CE), Olinda
e Garanhuns (PE), Cascavel (PR), Brasília (DF) e São Luís (MA) - este último através
do Lençóis Jazz & Blues festival, que completou doze edições em 2021.
Apesar de bastante popular, o Free Jazz Festival nunca chegou a causar o mesmo impacto
do Rock in Rio, principalmente porque tradicionalmente o rock sempre costuma reunir multidões em festivais realizados em
grandes áreas ao ar livre em todo o mundo – vide Woodstock (Nova York-EUA), Altamond
(Califórnia-EUA), Central Park (Nova York-EUA), Hyde Park (Londres-Inglaterra)
e Ilha de Wight (Inglaterra) – ao passo que o jazz sempre teve um público menor, mais comportado e, pode-se
dizer, até mais exigente em termos de estrutura e conforto.
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