EU E A
MÚSICA
6º LENÇÓIS
JAZZ & BLUES FESTIVAL
Eu sou uma ave canora.
Vindo de uma família de cantores, eu me recordo das cantatas informais que
alegravam nossas reuniões familiares desde os meus tempos de criança até o
engrossar da voz– o avô com as suas canzonetas, o pai barítono, o tio tenor, a
tia com o seu vozeirão de prima-dona, o primo se esforçando na voz do baixo, o
irmão fazendo a voz principal e eu me arriscando na segunda voz.
Daí, para os encontros das escolas de samba de São Paulo e os programas de
rádio que versavam sobre a matéria, foi um pulo. Vila Madalena fervia.
Descobri que a vida é um grande palco com plateia onde alguns cantam e tocam e
outros se divertem acompanhando e ouvindo. Eu conseguia ficar dos dois lados.
Depois, veio São Luís com seus saraus.
Assim, passei a vida toda cantando ao microfone ou fora dele, em festinhas
descompromissadas, em salões solenes e comportados, nas mesas de bar noite
afora e nas históricas ruas ludovicences quando abria o peito de valsas e
canções com grupos de seresteiros e violeiros.
Minha iniciação profissional em São Luís, com direito a divulgação, público e
cachê se deu no ano de 2001, exatamente num dia 13 de dezembro, numa noite sem
lua.
Restaurante Áureus, Rua Isaac Martins, cantando jazz em contraponto com a
cantora Célia Maria e seu repertório refinado. Os músicos – Paulo Lima, piano,
Celson Mendes, violão, e Pedro Duarte, sax-tenor, um time de escol, pra
começar.
Então começou a saga, com apresentações emocionadas em bares, restaurantes,
teatros, solenidades, praças públicas, casamentos e festas familiares – cerca
de 500 registradas nos meus arquivos implacáveis.
Eu sou um cantor que gosta de cantar, que se entrega ao ofício do canto e que
se identifica com o público na emoção e na alegria.
Defeitos de ofício? – sim, os tenho, e vou abrir a minha alma. Sinto um certo
desconforto em ensaiar e em “passar o som”. Faço tudo isso sempre que
necessário, mas tenho comigo a definitiva impressão de que na hora da
apresentação a mágica do espetáculo faz com que tudo fique bem mais vibrante e
diferente. Também não gosto de gravar em estúdio, pois tudo soa meio
artificial.
Algumas apresentações se afiguram como memoráveis, pelo charme, pela importância,
pelo envolvimento do público e pelo caráter do evento, mas possivelmente a que
tenha sido mais marcante foi a mágica apresentação no 6º Lençóis Jazz &
Blues Festival realizado em 8 de abril de 2014 na Praça Maria Aragão
superlotada, na companhia de Marcelo Rebelo (teclados), Pedro Duarte
(sax-alto), Sergio Mariano (contrabaixo acústico e elétrico) e Fleming Bastos
(bateria), tendo como ilustres convidados especiais os cantores Fernando
Carvalho e Camila Boueri. No repertório, “Lullaby of Broadway”, “Georgia On My
Mind”, “New York, New York” e “Hello Dolly”, entre outras músicas
representativas do estilo. Tudo impecável e muito chique.
A antiga revista “Seleções da Reader’s Digest” tinha uma seção denominada “Meu
tipo inesquecível”. Por todos os ingredientes – produção, presença de músicos
de diferentes lugares do país, participação do público – esse Lençóis de 2014,
em que pesem todas as emoções e alegria proporcionadas pelas apresentações e
bares e restaurantes (na verdade, o que eu realmente gosto de fazer), foi o meu
show inesquecível.
Vai aqui um abraço especial e minha gratidão ao amigo Tutuca Viana, idealizador
e realizador do evento.
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