O JAZZ COMO FATOR DE
INTEGRAÇÃO
(Augusto Pellegrini)
No
final do século 19, os Estados Unidos juntavam os cacos de uma guerra civil que
durante quatro anos havia devastado os estados do sul, provocando quase um
milhão de mortos.
Feita
a paz, começou a luta para a criação de uma identidade nacional em um país cujas
raízes haviam sido fortemente influenciadas pelos colonizadores da
Grã-Bretanha, França e Espanha até que conseguisse a sua independência.
Um dos grandes entraves no aspecto social que o país teve que enfrentar foi a
divisão racial entre brancos e negros, um problema que foi minimizado ao longo
do tempo, mas que até os dias de hoje ainda mantém seus focos de resistência.
Paradoxalmente,
no entanto, um dos fatores que ajudaram a unificar a nação nasceu exatamente
deste ponto polêmico e delicado – a atuação conjunta de negros e brancos.
Apesar
da busca pela integração do país, fortalecida por leis contidas em uma
constituição fortemente democrática, foi o jazz
o grande responsável pelo impulso necessário para que norte e sul começassem
efetivamente a trocar experiências pessoais, produzindo uma intrincada e
eficiente rede de informações que teve a música como tema.
A
diversidade musical na passagem do século 19 para o século 20 dividia o país em
regiões musicais específicas: no sul, notadamente no Alabama, Mississipi, Louisiana
e Georgia, descortinava o blues, essência
do que seria a base da música americana no futuro; o norte e o nordeste
privilegiavam uma música que continha uma forte marca das orquestras de salão
européias; o oeste e o centro-oeste cultivavam a country music dos criadores e proprietários de terras, de origem
irlandesa.
A
troca de experiências entre os músicos negros autodidatas do sul e os músicos
brancos elegantes do norte começou com a diáspora de grupos musicais que
partiram de cidades como Nova Orleans em direção a Nova York e Chicago e foram
deixando a semente pelo caminho – Kansas City, Saint Louis – fazendo com que,
em pouco mais de dez anos, praticamente todo o país começasse a se unir musicalmente
em torno de uma só palavra – jazz.
Esta
identificação foi tão forte que se transformou em uma marca registrada dos
Estados Unidos e em um fator motivador para os americanos que, por um motivo ou
outro, se encontravam fora do país.
Naquele
tempo – início do século 20 – a Europa era a senhora do mundo.
Países
como Inglaterra, França, Itália e Alemanha possuíam uma forte liderança
política, cultural e estratégica, o que lhes permitia ditar as regras de
comportamento para todo o planeta.
A
África era em grande parte colonizada, e mesmo a Ásia sofria uma forte
influência deste colonialismo imposto sem qualquer respeito às tradições de
cada povo nativo.
O
Brasil não era colonizado, mas também era fascinado pelo europeísmo.
As
nossas famílias mais abastadas mandavam seus filhos para Paris ou Londres a fim
de completarem seus estudos e trazerem para a República recém-estabelecida toda
uma bagagem de conhecimento que nos possibilitasse um crescimento “à europeia”.
Na
América do Norte, no entanto, a visão de crescimento era outra, tendo como
fator de integração um patriotismo exacerbado e um intenso orgulho e amor próprio,
o que, ajudado por outros fatos circunstanciais – duas guerras mundiais, por
exemplo – levaram o país a liderar o mundo a partir do primeiro quarto do
século 20.
O
principal fator de integração, no entanto, foi a disseminação do jazz, que diferenciou o país do resto do
mundo em termos de música e fez ainda mais, exercendo a sua influência a tal
ponto que hoje, à parte as manifestações folclóricas e típicas de cada povo, o jazz se encontra presente no cardápio
musical de qualquer lugar do mundo.
A
invasão do jazz começou pela Europa e
aos poucos foi tomando conta do planeta de uma maneira lenta, mas forte e
irreversível.
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