quarta-feira, 9 de março de 2022

 


COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
 

(Parte 2)

Herivelto Martins compôs muitos sambas-canções tendo como tema a vida conjugal tumultuada que levava com a cantora Dalva de Oliveira. Havia entre eles um amor bandido – ele um boêmio irrecuperável, ela uma mulher ciumenta e cheia de caprichos.

Entre as composições de Herivelto dirigidas à Dalva, temos “Caminhemos” (“Não, eu não posso lembrar que te amei / Não, eu preciso esquecer que sofri / Faça de conta que o tempo passou / E que tudo entre nós terminou / E que a vida não continuou pra nós dois / Caminhemos, talvez nos vejamos depois”), gravada em 1947 por Francisco Alves, e “Cabelos Brancos” (“Não falem dessa mulher perto de mim / Não falem pra não lembrar minha dor / Já fui moço, já gozei a mocidade / Se me lembro dela me dá saudade / Por ela vivo aos trancos e barrancos / Respeitem ao menos meus cabelos brancos... / ... E agora, em homenagem ao meu fim / Não falem dessa mulher perto de mim”), gravada pelos Quatro Ases e um Coringa em 1949.

Foi em 1947 que Herivelto compôs “Segredo”, quando as brigas do casal eram muito intensas e tudo indicava que a separação já se tornara inevitável (“Teu mal é comentar o passado / Ninguém precisa saber o que houve entre nós dois / O peixe é pro fundo da rede / Segredo é pra quatro paredes / Não deixe que males pequeninos / Venham transformar os nossos destinos... / ... Primeiro é preciso julgar pra depois condenar”), gravada pela própria Dalva.

A separação aconteceu em 1950, e depois dela Dalva recorreu a dois amigos compositores – J.Piedade e Osvaldo Martins – para gravar “Tudo Acabado” (“Tudo acabado entre nós, já não há mais nada / Tudo acabado entre nós hoje de madrugada / Você chorou, eu chorei / Você partiu, eu fiquei / Se você volta outra vez eu não sei / Nosso apartamento agora vive à meia-luz / Nosso apartamento agora já não me seduz / Todo o egoísmo veio de nós dois / Destruímos hoje o que podia ser depois”).

Seguindo a mesma linha de raciocínio, ainda em 1950 ela voltou a desabafar com a gravação de “Errei Sim”, um samba “mea culpa” que Ataulfo Alves havia composto há alguns anos (“Errei sim, manchei o teu nome / Mas foste tu mesmo o culpado / Deixavas-me em casa me trocando pela orgia / Faltando sempre com a tua companhia / Lembro-te agora que não é só casa e comida / Que prende por toda a vida / O coração de uma mulher / As joias que me davas / Não tinham nenhum valor / Se o mais caro me negavas / Que era todo o seu amor / Mas se existe ainda quem queira me condenar / Que venha logo a primeira pedra me atirar”).

 

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