COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
(Parte 2)
Herivelto
Martins compôs muitos sambas-canções tendo como tema a vida conjugal tumultuada
que levava com a cantora Dalva de Oliveira. Havia entre eles um amor bandido –
ele um boêmio irrecuperável, ela uma mulher ciumenta e cheia de caprichos.
Entre as
composições de Herivelto dirigidas à Dalva, temos “Caminhemos” (“Não, eu não posso lembrar que te amei / Não,
eu preciso esquecer que sofri / Faça de conta que o tempo passou / E que tudo
entre nós terminou / E que a vida não continuou pra nós dois / Caminhemos,
talvez nos vejamos depois”), gravada em 1947 por Francisco Alves, e “Cabelos
Brancos” (“Não falem dessa mulher perto de mim / Não falem pra não
lembrar minha dor / Já fui moço, já gozei a mocidade / Se me lembro dela me dá
saudade / Por ela vivo aos trancos e
barrancos / Respeitem ao menos meus cabelos brancos... / ... E agora, em homenagem ao meu fim / Não falem
dessa mulher perto de mim”), gravada pelos Quatro Ases e um Coringa em 1949.
Foi em 1947 que
Herivelto compôs “Segredo”, quando as brigas do casal eram muito intensas e tudo
indicava que a separação já se tornara inevitável (“Teu mal é comentar o passado
/ Ninguém precisa saber o que houve entre nós dois / O peixe é pro fundo da
rede / Segredo é pra quatro paredes / Não deixe que males pequeninos / Venham
transformar os nossos destinos... / ... Primeiro é preciso julgar pra depois
condenar”), gravada pela própria Dalva.
A separação
aconteceu em 1950, e depois dela Dalva recorreu a dois amigos compositores – J.Piedade
e Osvaldo Martins – para gravar “Tudo Acabado” (“Tudo acabado entre nós, já
não há mais nada / Tudo acabado entre nós hoje de madrugada / Você chorou, eu
chorei / Você partiu, eu fiquei / Se você volta outra vez eu não sei” / Nosso apartamento agora vive à meia-luz /
Nosso apartamento agora já não me seduz / Todo o egoísmo veio de nós dois /
Destruímos hoje o que podia ser depois”).
Seguindo a
mesma linha de raciocínio, ainda em 1950 ela voltou a desabafar com a gravação
de “Errei Sim”, um samba “mea culpa” que Ataulfo Alves havia composto há alguns
anos (“Errei sim, manchei o teu nome / Mas
foste tu mesmo o culpado / Deixavas-me em casa me trocando pela orgia / Faltando
sempre com a tua companhia / Lembro-te agora que não é só casa e comida / Que
prende por toda a vida / O coração de uma mulher / As joias que me davas / Não
tinham nenhum valor / Se o mais caro me negavas / Que era todo o seu amor / Mas
se existe ainda quem queira me condenar / Que venha logo a primeira pedra me
atirar”).
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