O IMPROVISO NO JAZZ
(Augusto Pellegrini)
(Parte 3)
No jazz isto
não acontece, pelo simples fato de que o intérprete jazzista, por mais que
memorize certas improvisações, sempre adicionará ou omitirá algum detalhe,
levando em consideração o seu “mood”
no momento da execução, a interação com os outros instrumentos e a sua
criatividade pessoal.
Isto porque o
jazz baseia a sua sonoridade em uma peculiaridade que o diferencia dos outros
gêneros musicais, tendo como base dois elementos importantes que não existiam
na música erudita e não estão presentes em boa parte das músicas modernas: as blue notes (algumas notas diminuídas na escala
diatônica tradicional, conferindo à interpretação uma nova escala) e o off-beat (inversão na batida convencional,
provocando uma acentuação rítmica não convencional).
Estas são algumas
características do jazz, e o músico que não se identifica com elas jamais
produzirá o verdadeiro jazz.
O jazz precisa
ter também um balanço todo especial, que conhecemos por swing. Além do mais, ele também necessita de espontaneidade,
vitalidade e de um correlacionamento entre os executantes que dispensa, embora
não exclua, uma regência ou partituras escritas.
Finalmente, o
jazz necessita de um fraseado e de uma sonoridade que espelhem a
individualidade de cada músico, quer nos solos quer nas intervenções em
conjunto.
O músico de
jazz precisa possuir estas características, isto é, ter muita alma e muito “feeling”. Isto significa ter uma
sensibilidade aguçada que extrapola o puro e simples conhecimento técnico na
execução do instrumento ou na interpretação vocal. E é esse swing, essa interação e essa
sensibilidade que propiciam o improviso do músico.
O jazzista deve
“sentir” cada passagem da melodia de uma maneira muito particular e expressar o
seu sentimento em termos de música obedecendo não apenas o que lhe diz o seu
instinto, mas também o que determina a concepção do verdadeiro jazz.
O estilo
conhecido como “swing” ou o jazz das
“big bands”, que possuem como uma das
características a formação de naipes de instrumentos que produzem sons
harmônicos dotados de blue notes e de
off-beats, têm como base arranjos
escritos em partituras, o que evita sons desencontrados de instrumentos do
mesmo naipe e valoriza a linha harmônica dos instrumentos quando executados em
conjunto. No entanto, os solos individuais permitem que os músicos desenvolvam
os seus improvisos dentro de um determinado número de compassos que lhes forem
designados, mesmo obedecendo ao que foi estabelecido pelo arranjador.
Os temas
construídos para o jazz tradicional e para o bebop também obedecem a linhas
melódicas rígidas, mas os solos individuais se libertam da rigidez do tema e
dão luz aos improvisos.
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