Na foto: Ataulfo Alves
COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
(Parte 4)
Sempre vale a
pena rever os registros de uma interessante sequência de músicas de Ataulfo
Alves nascidas em virtude do romance que a cantora Carmen Costa (por quem
Ataulfo era apaixonado) mantinha com um compositor menos famoso chamado Mirabeau
Pinheiro.
As deliciosas
provocações nunca passaram das noitadas de violão, embora chegassem a ser
gravadas, inclusive pelos próprios Ataulfo e Carmem, num mesmo disco.
Entre as
músicas, podemos citar algumas preciosidades de Ataulfo como “Pois É”, onde ele
ironiza uma briga de Mirabeau e Carmen (“Pois
é, falaram tanto / Que desta vez a morena foi embora / Disseram que ela era a
maioral / E eu é que não soube
aproveitar / Endeusaram a morena tanto, tanto / Que ela resolveu me
abandonar...”), respondida pela própria cantora com “A Morena Sou Eu”, de
Mirabeau e Milton de Oliveira (“Aqui você
rirá dizendo a todos / Pois é, pois é, pois é / Quem sabe a quentura da panela
/ É a colher, é a colher / Chega o que ela já sofreu / Quem de vocês já conhece
/ Que a morena sou eu...”), que foi respondido magistralmente por Ataulfo com
“Sai Do Meu Caminho” (“Eu nada lhe
perguntei / Não há razão pra você me responder / A carapuça na cabeça não lhe
cabe / Meu caso é outro / Eu bem sei que você sabe / Sai do meu caminho / Não
estrague os dias meus / Deixe-me em paz pelo amor do Santo Deus / Pois a morena
que eu falava na minha canção / É diferente da sua insinuação”).
As canções também
podem nascer a partir de homenagens prestadas a músicos que partiram e fizeram
falta, abrindo uma lacuna irreparável sentida por ouvintes, amigos e
admiradores.
Quando
Francisco Alves morreu em 1952 num acidente automobilístico na Via Dutra – rodovia
que liga Rio a São Paulo – houve uma comoção nacional. O cantor, verdadeiro
ídolo da música popular brasileira estava no auge da fama, e acabou sendo
objeto de inúmeras homenagens, como a prestada por Nássara e Wilson Batista com
o samba “Chico Viola” (“Salve Estácio,
Salgueiro e Mangueira / todo o Brasil emudeceu / chora o mundo inteiro / o
Chico Viola morreu...”). Na segunda parte da música, Wilson Batista
relembrou seu antigo desafeto Noel Rosa, quando coloca Francisco Alves no mesmo
patamar dele (“Na voz do seu plangente
violão / ele deixou seu coração / partiu, disse adeus, foi pro céu / foi fazer,
foi fazer / companhia pro Noel”).
O mesmo Noel
também recebeu um tributo através do samba-canção “Escuta Noel” composto e
interpretado por Maysa em 1957 (“Onde
estás, Noel, que não escutas / Os plágios das tuas músicas / Que se ouvem por
aí / Frequentaste tanto tempo academia de melodia / O samba não se faz por
amizade ou simpatia / O samba agora
criou outro estilo / Sambista só sabe sambar pra granfino / E a favela agora é
ponto de turista, de soçaite, de artista / A poesia acabou / Vem Noel, vem
fazer a serenata / Tua música faz falta e ninguém nunca igualou”).
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