COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
(Parte 6)
A partir de
João Gilberto apareceram outros nomes de cantores e compositores, as gravações
do novo estilo passaram a ser lançadas comercialmente e a nova tendência do
mar-amor-luar começou a tomar conta do Rio e se espalhar pelo eixo musical Rio-São
Paulo – embora João, baiano e antigo crooner de conjunto vocal executasse boa
parte do seu trabalho explorando compositores e sambistas antigos e dando a eles
uma roupagem toda particular.
Já no seu
primeiro LP – “Chega De Saudade”, lançado em 1959 – João mesclou modernas composições
de Jobim, Vinícius, Lyra e Bôscoli com velhas músicas de Caymmi, Marino Pinto,
Zé da Zilda e Ary Barroso.
Da safra nova de
compositores que começou a conquistar o mercado, a dupla Roberto Menescal e
Ronaldo Bôscoli era uma das mais profícuas, com músicas de intensa poesia, como
“Rio” (“Rio, que mora no mar / Sorrio pro
meu Rio que tem no seu mar / Lindas flores que nascem morenas / Em jardins de
sol / Rio, serras de veludo / Sorrio pro meu Rio que sorri de tudo / Que é
dourado quase todo dia / E alegre como a luz”), “O Barquinho” (“Dia de luz, festa de sol / E um barquinho a
deslizar / No macio azul do mar / Tudo é verão e o amor se faz / Num barquinho
pelo mar / Que desliza sem parar / Sem intenção, nossa canção / Vai saindo
desse mar / E o sol beija o barco e luz / Dias tão azuis”) e “Você” (“Você, manhã de tudo meu / Você, que cedo entardeceu
/ Você, de quem a vida eu sou / E sei mas eu serei / Você, um beijo bom de sol
/ Você, em cada tarde vã / Virá sorrindo de manhã ...”).
Alguns bossanovistas
bissextos como os irmãos Marcos e Paulo Sergio Valle também compuseram músicas cheias
de poesia que a moçada cantava na praia e nos apartamentos de Ipanema, como “Samba
De Verão” (“Você viu só que amor? / Nunca
vi coisa assim / E passou, nem parou / Mas olhou só pra mim / Se voltar vou
atrás / Vou seguir, vou falar / Vou dizer que o amor / Foi feitinho pra dar / Olha,
é como o verão / Quente o coração / Salta de repente / Para ver a menina que
vem...”), e Sergio Ricardo, que mais tarde também engrossaria a turma do
protesto, trazendo um viés noturno e soturno para a bossa nova, mesmo falando de
mar e amar, como em “Poema Azul” (“O mar
beijando a areia / O céu, a lua cheia / Que cai no mar / Que abraça a areia / Que
mostra ao céu e à lua cheia / Que prateia os cabelos do meu bem...”).
O ápice do
romantismo bossanovista veio com “Garota De Ipanema”, de Antônio Carlos Jobim, então
já um músico consolidado, e Vinicius de Moraes, um diplomata em desencanto (“Olha que coisa mais linda, mais cheia de
graça / É ela, menina, que vem e que passa / Num doce balanço, a caminho do mar
/ Moça do corpo dourado do sol de Ipanema / O seu balançado parece um poema
/ É a coisa mais linda que eu já vi
passar”) e com “Corcovado”, de Tom Jobim (“Um cantinho, um violão, esse
amor, uma canção pra fazer feliz a quem se ama...), que impropriamente deu
início ao jargão “um banquinho e um violão”, que fazia alusão às reuniões aos
encontros dos músicos do novo sistema nos apartamentos da Zona Sul.
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