PÁGINAS ESCOLHIDAS
Do
livro O BRUXO DE CONCEPCIÓN (2011)
(Augusto Pellegrini)
HOTEL BUENA VISTA
O corredor era imenso, e lá havia
mais espelhos do que aparentava haver.
Lá no fundo do corredor, quase a perder de vista, uma governanta se movia lentamente,
empurrando um carrinho cheio de fronhas e lençóis, e a sua imagem se
multiplicava nas paredes espelhadas, como num caleidoscópio.
Vultos saíam das sombras e entravam pelas portas, dando a impressão de que
atravessavam silenciosamente as paredes. Apesar de o piso estar forrado com um
espesso tapete, Federico podia ouvir passos atrás de si, mas ao girar nos
calcanhares ele via simplesmente a sua imagem refletida nos espelhos.
O corredor estava abafado, mas uma lufada de vento se fez presente nas suas
costas, e de repente surgiu o barulho da chuva que desabava lá fora como se uma
abertura tivesse sido feita na parede da extremidade do corredor. As luzes
fracas piscaram algumas vezes como se a energia elétrica estivesse entrando em
colapso.
Federico então viu um homem se aproximar.
O estranho era alto e circunspecto, e tinha os cabelos prateados em desalinho e
o olhar perdido no nada. Estava impecavelmente trajado a rigor.
No momento em que o homem estava para cruzar com Federico, as luzes se apagaram
definitivamente, e o ruído da chuva e a força do vento também deixaram de
existir.
De repente, o som melodioso de um piano tomou conta do silêncio e invadiu a
quietude da madrugada.
(Federico hospedando sua
imaginação num hotel-fantasma)
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