A HISTÓRIA DO ITAQUERÃO
Na
semana passada eu comentei sobre o custo da construção do Engenhão e a
contramão que este custo representa se comparado com o que foi gasto com os estádios
construídos ou reformados para a Copa do Mundo.
Por
ocasião do Pan-2007, houve uma gritaria danada sobre os gastos exagerados e
inexplicáveis que comprometeram a transparência da administração, especialmente
com referência ao Comitê Olímpico comandado por Carlos Arthur Nuzman, que foi objeto
de uma CPI carioca que era pra ser, mas não foi.
Na
época, já se podia adivinhar que poucos anos depois seria vez da Copa do Mundo ter
os seus administradores colocados no banco dos réus.
Parece
não haver dúvida que os pilantras do país se reuniram em torno da ideia de
superfaturar tudo o que fosse possível por ocasião da Copa 2014, para não
apenas fazer fortuna fácil como também para utilizar uma boa “margem de lucro” a
fim de adoçar campanhas políticas e firmar alianças vantajosas para alguns
políticos envolvidos. Uma vergonha.
Um
dos mais emblemáticos exemplos é o da construção da Arena de Itaquera, que abrigará
seis jogos da Copa do Mundo, entre os quais a abertura e uma das semifinais.
Essa construção tem uma história a ser contada, conforme prometido no último
artigo.
Tudo
começou quando a Fifa definiu que a abertura da Copa 2014 seria na cidade de
São Paulo e que a final seria no Rio de Janeiro.
Naquela
ocasião, o então presidente Lula declarou, com satisfação, que a escolha de São
Paulo para a abertura do Mundial era perfeita, porque já tínhamos o Morumbi
pronto (na verdade, quase pronto) para o evento.
Uma
série de circunstâncias, no entanto, fizeram com que a declaração do presidente
caísse no vazio e que ele próprio deixasse de se manifestar a respeito.
Para
começar, o relacionamento azedo do presidente do São Paulo com a cúpula da CBF.
Evidentemente, Ricardo Teixeira faria todo o possível para não dar ao seu
desafeto uma tão importante honraria.
Baseado
nisso, Andrés Sánchez, então presidente do Corinthians, começou a alinhavar com
a Construtora Odebrecht a construção de um estádio para o clube, confiante em que
o presidente Lula, além de corintiano de carteirinha, visse com bons olhos uma
empreiteira de porte alinhada com os interesses da Copa e do governo, e que
desse o seu aval à iniciativa.
Era
a oportunidade de o Corinthians conseguir, quase de graça, o seu tão sonhado
estádio, desnecessário para a realização do mundial, mas extremamente
necessário para que Sánchez alcançasse seu grande objetivo. Era também a oportunidade
de Sánchez se vingar pessoalmente de um inimigo figadal – o folclórico Juvenal
Juvêncio, presidente do São Paulo.
Previsto
inicialmente para custar cerca de 600 milhões de reais, custo que seria bancado
pelo clube e pela iniciativa particular, o estádio já está na casa de 1 bilhão,
e boa parte do dinheiro utilizado foi injetado pelo erário público, seja
através do BNDS, seja através de renúncias fiscais da Prefeitura pela isenção
de impostos, seja ainda por dinheiro diretamente bancado pelo Governo estadual
para os gastos com as estruturas móveis. Outra vergonha.
Ou
o orçamento foi muito mal elaborado ou o superfaturamento é evidente. Em
virtude das pessoas envolvidas, fico com a segunda hipótese.
Desta
forma, o cidadão paulista está compulsoriamente contribuindo para a construção
de um estádio que não é necessariamente o do seu time, para a eleição de
políticos que jamais teriam o seu voto e para o enriquecimento imoral de
empresas e de pessoas que não ligam a mínima para o esporte. Vergonha.
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