domingo, 15 de setembro de 2013


A HISTÓRIA DO ITAQUERÃO  

Na semana passada eu comentei sobre o custo da construção do Engenhão e a contramão que este custo representa se comparado com o que foi gasto com os estádios construídos ou reformados para a Copa do Mundo.

Por ocasião do Pan-2007, houve uma gritaria danada sobre os gastos exagerados e inexplicáveis que comprometeram a transparência da administração, especialmente com referência ao Comitê Olímpico comandado por Carlos Arthur Nuzman, que foi objeto de uma CPI carioca que era pra ser, mas não foi.

Na época, já se podia adivinhar que poucos anos depois seria vez da Copa do Mundo ter os seus administradores colocados no banco dos réus.

Parece não haver dúvida que os pilantras do país se reuniram em torno da ideia de superfaturar tudo o que fosse possível por ocasião da Copa 2014, para não apenas fazer fortuna fácil como também para utilizar uma boa “margem de lucro” a fim de adoçar campanhas políticas e firmar alianças vantajosas para alguns políticos envolvidos. Uma vergonha.

Um dos mais emblemáticos exemplos é o da construção da Arena de Itaquera, que abrigará seis jogos da Copa do Mundo, entre os quais a abertura e uma das semifinais. Essa construção tem uma história a ser contada, conforme prometido no último artigo.

Tudo começou quando a Fifa definiu que a abertura da Copa 2014 seria na cidade de São Paulo e que a final seria no Rio de Janeiro.

Naquela ocasião, o então presidente Lula declarou, com satisfação, que a escolha de São Paulo para a abertura do Mundial era perfeita, porque já tínhamos o Morumbi pronto (na verdade, quase pronto) para o evento.

Uma série de circunstâncias, no entanto, fizeram com que a declaração do presidente caísse no vazio e que ele próprio deixasse de se manifestar a respeito.

Para começar, o relacionamento azedo do presidente do São Paulo com a cúpula da CBF. Evidentemente, Ricardo Teixeira faria todo o possível para não dar ao seu desafeto uma tão importante honraria.

Baseado nisso, Andrés Sánchez, então presidente do Corinthians, começou a alinhavar com a Construtora Odebrecht a construção de um estádio para o clube, confiante em que o presidente Lula, além de corintiano de carteirinha, visse com bons olhos uma empreiteira de porte alinhada com os interesses da Copa e do governo, e que desse o seu aval à iniciativa.

Era a oportunidade de o Corinthians conseguir, quase de graça, o seu tão sonhado estádio, desnecessário para a realização do mundial, mas extremamente necessário para que Sánchez alcançasse seu grande objetivo. Era também a oportunidade de Sánchez se vingar pessoalmente de um inimigo figadal – o folclórico Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo.

Previsto inicialmente para custar cerca de 600 milhões de reais, custo que seria bancado pelo clube e pela iniciativa particular, o estádio já está na casa de 1 bilhão, e boa parte do dinheiro utilizado foi injetado pelo erário público, seja através do BNDS, seja através de renúncias fiscais da Prefeitura pela isenção de impostos, seja ainda por dinheiro diretamente bancado pelo Governo estadual para os gastos com as estruturas móveis. Outra vergonha.

Ou o orçamento foi muito mal elaborado ou o superfaturamento é evidente. Em virtude das pessoas envolvidas, fico com a segunda hipótese.

Desta forma, o cidadão paulista está compulsoriamente contribuindo para a construção de um estádio que não é necessariamente o do seu time, para a eleição de políticos que jamais teriam o seu voto e para o enriquecimento imoral de empresas e de pessoas que não ligam a mínima para o esporte. Vergonha.

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