ELEFANTES DOURADOS
De
todos os estádios construídos ou reformados especialmente para serem utilizados
em algumas poucas vezes na extinta Copa, chamam a atenção as arenas de Cuiabá,
Manaus e Brasília, não necessariamente nesta ordem.
Obras
muito bem projetadas pela moderna arquitetura, serviram ao propósito desejado
pela organização do torneio, que não poupou dinheiro para erigir monumentos
fora do contexto e da realidade em que vive o país. Tudo em prol do muito comentado
e pouco digerido “padrão Fifa” e dos inevitáveis gastos mal explicados e muito
convenientes para muita gente.
Passada
a febre que contagiou as cidades-sede com as passagens de muitas seleções e a
realização de algumas partidas empolgantes, a administração caiu em si.
Não
é necessário pensar em fórmulas mirabolantes nem em complicados estudos
científicos para que o absurdo seja constatado. A plena e fria aritmética
explica.
A
Arena Pantanal, de Cuiabá, foi construída para abrigar um público de 43 mil
espectadores, custou R$ 570 milhões e foi palco de quatro partidas. O público
que assiste aos jogos regulares disputados no estádio dá uma média de
4.600 torcedores por partida, contando com os clássicos regionais e com partidas
que têm a participação de clubes de outros estados.
Por
mais que a Copa do Mundo tenha despertado nos habitantes da região um gosto
especial pelo futebol, e por mais que o estádio ofereça conforto para o
torcedor, esta média não irá crescer significativamente, e continuará na faixa
dos 10% da lotação projetada.
Ocorre
que a manutenção de um gigante desses é muito cara e exige cuidados constantes
para evitar a sua deterioração.
A
construção do estádio já demandou muito dinheiro dos cofres públicos com um
improvável retorno. Acrescente-se a isto a taxa de desvalorização de um
patrimônio público e chegamos ao tamanho da encrenca em que o futebol do
Pantanal se meteu.
Com
certeza, a Federação local, em parceria com a Prefeitura e talvez com o Governo
Estadual faça uma programação de jogos com atrações de outros estados, ou até
de outros países, mas isto terá também um custo alto, o que só fará aumentar a
bola de neve.
Um
jogo com uma equipe de outro lugar demanda despesas com passagens aéreas,
hospedagem, cachê ou participação na renda, e mais algumas inerentes ao
funcionamento do estádio.
Resta
saber quem assumirá o risco e quantas vezes a mágica desse empreendimento
poderá dar certo.
O
mesmo raciocínio pode ser aplicado a Manaus e Brasília.
A
Arena da Amazônia, que também abrigou quatro jogos da Copa, custou R$ 670
milhões, foi construída para um público de 42.000 pessoas e tem um público
médio de 3.300 pagantes.
O
Estádio Nacional de Brasília recebeu seis jogos, custou R$ 1,4 bilhão, tem
capacidade para 68.000 espectadores e o público médio de pouco mais de 1.000
pessoas.
Estes
estádios, assim como a Arena das Dunas em Natal têm sido chamados pela imprensa
de “elefantes brancos”.
Pela
proporção gigantesca da sua inutilidade e do prejuízo financeiro provocado ao
Estado brasileiro, que reflete nos nossos bolsos, prefiro chamá-los de
elefantes dourados, pois brilham como ouro, embora não passem de uma fina
bijuteria.
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