quinta-feira, 24 de julho de 2014






ELEFANTES DOURADOS

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 24/07/2014)

De todos os estádios construídos ou reformados especialmente para serem utilizados em algumas poucas vezes na extinta Copa, chamam a atenção as arenas de Cuiabá, Manaus e Brasília, não necessariamente nesta ordem.
Obras muito bem projetadas pela moderna arquitetura, serviram ao propósito desejado pela organização do torneio, que não poupou dinheiro para erigir monumentos fora do contexto e da realidade em que vive o país. Tudo em prol do muito comentado e pouco digerido “padrão Fifa” e dos inevitáveis gastos mal explicados e muito convenientes para muita gente.
Passada a febre que contagiou as cidades-sede com as passagens de muitas seleções e a realização de algumas partidas empolgantes, a administração caiu em si.
Não é necessário pensar em fórmulas mirabolantes nem em complicados estudos científicos para que o absurdo seja constatado. A plena e fria aritmética explica.
A Arena Pantanal, de Cuiabá, foi construída para abrigar um público de 43 mil espectadores, custou R$ 570 milhões e foi palco de quatro partidas. O público que assiste aos jogos regulares disputados no estádio dá uma média de 4.600 torcedores por partida, contando com os clássicos regionais e com partidas que têm a participação de clubes de outros estados.
Por mais que a Copa do Mundo tenha despertado nos habitantes da região um gosto especial pelo futebol, e por mais que o estádio ofereça conforto para o torcedor, esta média não irá crescer significativamente, e continuará na faixa dos 10% da lotação projetada.
Ocorre que a manutenção de um gigante desses é muito cara e exige cuidados constantes para evitar a sua deterioração.
A construção do estádio já demandou muito dinheiro dos cofres públicos com um improvável retorno. Acrescente-se a isto a taxa de desvalorização de um patrimônio público e chegamos ao tamanho da encrenca em que o futebol do Pantanal se meteu.
Com certeza, a Federação local, em parceria com a Prefeitura e talvez com o Governo Estadual faça uma programação de jogos com atrações de outros estados, ou até de outros países, mas isto terá também um custo alto, o que só fará aumentar a bola de neve.
Um jogo com uma equipe de outro lugar demanda despesas com passagens aéreas, hospedagem, cachê ou participação na renda, e mais algumas inerentes ao funcionamento do estádio.
Resta saber quem assumirá o risco e quantas vezes a mágica desse empreendimento poderá dar certo.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado a Manaus e Brasília.
A Arena da Amazônia, que também abrigou quatro jogos da Copa, custou R$ 670 milhões, foi construída para um público de 42.000 pessoas e tem um público médio de 3.300 pagantes.
O Estádio Nacional de Brasília recebeu seis jogos, custou R$ 1,4 bilhão, tem capacidade para 68.000 espectadores e o público médio de pouco mais de 1.000 pessoas.
Estes estádios, assim como a Arena das Dunas em Natal têm sido chamados pela imprensa de “elefantes brancos”.
Pela proporção gigantesca da sua inutilidade e do prejuízo financeiro provocado ao Estado brasileiro, que reflete nos nossos bolsos, prefiro chamá-los de elefantes dourados, pois brilham como ouro, embora não passem de uma fina bijuteria.  

 

 

Nenhum comentário: