FAIR PLAY
Existe
um assunto mal resolvido no futebol. Tão mal resolvido que a própria International
Football Association Board – que é quem define as regras a as orientações para
a aplicação dos senhores árbitros – se omite e escapa pela tangente.
Para
este assunto, de uma forma geral, não existem regras claras nem interpretativas
por parte da arbitragem, cabendo aos jogadores no calor da disputa decidir o
que pode e deve fazer com base nas suas próprias observações, na sua formação
ética e na necessidade de vencer.
Estamos
falando do “fair play”.
Fair
play, traduzido por “jogo limpo”, é uma atitude que pode ser tomada em qualquer
situação, não apenas no futebol, e tem o significado oposto do da “Lei de
Gérson”, onde se preconiza que o cidadão – brasileiro, de preferência – deva
levar vantagem em tudo.
Mas
é sobre o fair play – jogo limpo – no futebol que estamos falando.
A
ocorrência mais comum do fair play é quando um jogador se machuca em um lance
não faltoso, isto é, o árbitro manda a partida prosseguir. Neste caso, por um
acordo de cavalheiros, o jogador do time contrário ao atleta contundido joga a
bola para fora a fim de possibilitar o atendimento médico ao companheiro de profissão.
Isto é mais do que jogo limpo, é conduta humanitária.
Afinal,
e se o jogador estiver necessitando de cuidados urgentes e inadiáveis? E se o
problema for tão grave que o prosseguimento da partida possa resultar em uma
tragédia?
Vez
por outra, o árbitro toma a frente do problema e paralisa a partida para o
atendimento, e na maioria das vezes – graças a Deus! – o jogador deixa de se
contorcer e se levanta lépido e fagueiro, enquanto o seu time retoma a posse da
bola para decidir se a mantém ou devolve para o adversário.
Muitas
vezes, porém, o jogador que cai simula contusão apenas para paralisar o jogo ou
retomar a posse da bola, e isto definitivamente não é jogo limpo.
Ocorre
que boleiro é boleiro, esperto e matreiro, e conhece toda a malandragem do
adversário, até porque também a pratica. E às vezes se nega a colocar a bola
para fora porque sabe que o gesto da vítima é pura teatralidade.
Aí
então, como se diz na gíria futebolística, o pau come! Os adversários investem
contra ele com ganas de esganá-lo e cabe então ao mediador tomar as devidas
providências para acalmar a turba, com um simples chega pra lá ou a
distribuição de cartões para os mais exaltados.
Quanto
mais malandro for o futebolista – e os sul-americanos são mestres nisso – mais
frequente será a encenação. Quanto mais o jogador se contorcer no gramado maior
será a certeza de que tudo não passa de embromação.
Este
tipo de atitude é mais raro no futebol europeu e muito mais raro no futebol
asiático, por respeito ao público, ao adversário e a si próprio.
Os
árbitros, tão senhores de si quando marcam com convicção faltas e pênaltis
existentes ou não, e ainda com maior convicção distribuem ou não distribuem
cartões, dependendo de um critério absolutamente pessoal, ficam intimidados
diante de uma situação como essa que estamos discutindo.
E
o fair play acaba se limitando a isso, como se não existisse sujeira ética ou
malandragem em outras situações de jogo, onde a firmeza do árbitro seria
fundamental.
Demora
na reposição de bola e na substituição de jogadores quando o resultado
interessa ao time que as pratica também é absoluta falta de fair play, por exemplo.
Mas
é muito comum isso acontecer e geralmente fica tudo por isso mesmo, sem que o
árbitro tome qualquer medida punitiva.
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