segunda-feira, 28 de julho de 2014






FAIR PLAY

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 28/07/2014)

Existe um assunto mal resolvido no futebol. Tão mal resolvido que a própria International Football Association Board – que é quem define as regras a as orientações para a aplicação dos senhores árbitros – se omite e escapa pela tangente.
Para este assunto, de uma forma geral, não existem regras claras nem interpretativas por parte da arbitragem, cabendo aos jogadores no calor da disputa decidir o que pode e deve fazer com base nas suas próprias observações, na sua formação ética e na necessidade de vencer.
Estamos falando do “fair play”.
Fair play, traduzido por “jogo limpo”, é uma atitude que pode ser tomada em qualquer situação, não apenas no futebol, e tem o significado oposto do da “Lei de Gérson”, onde se preconiza que o cidadão – brasileiro, de preferência – deva levar vantagem em tudo.
Mas é sobre o fair play – jogo limpo – no futebol que estamos falando.
A ocorrência mais comum do fair play é quando um jogador se machuca em um lance não faltoso, isto é, o árbitro manda a partida prosseguir. Neste caso, por um acordo de cavalheiros, o jogador do time contrário ao atleta contundido joga a bola para fora  a fim de possibilitar o atendimento médico ao companheiro de profissão. Isto é mais do que jogo limpo, é conduta humanitária.
Afinal, e se o jogador estiver necessitando de cuidados urgentes e inadiáveis? E se o problema for tão grave que o prosseguimento da partida possa resultar em uma tragédia?
Vez por outra, o árbitro toma a frente do problema e paralisa a partida para o atendimento, e na maioria das vezes – graças a Deus! – o jogador deixa de se contorcer e se levanta lépido e fagueiro, enquanto o seu time retoma a posse da bola para decidir se a mantém ou devolve para o adversário.
Muitas vezes, porém, o jogador que cai simula contusão apenas para paralisar o jogo ou retomar a posse da bola, e isto definitivamente não é jogo limpo.
Ocorre que boleiro é boleiro, esperto e matreiro, e conhece toda a malandragem do adversário, até porque também a pratica. E às vezes se nega a colocar a bola para fora porque sabe que o gesto da vítima é pura teatralidade.
Aí então, como se diz na gíria futebolística, o pau come! Os adversários investem contra ele com ganas de esganá-lo e cabe então ao mediador tomar as devidas providências para acalmar a turba, com um simples chega pra lá ou a distribuição de cartões para os mais exaltados.
Quanto mais malandro for o futebolista – e os sul-americanos são mestres nisso – mais frequente será a encenação. Quanto mais o jogador se contorcer no gramado maior será a certeza de que tudo não passa de embromação.
Este tipo de atitude é mais raro no futebol europeu e muito mais raro no futebol asiático, por respeito ao público, ao adversário e a si próprio.
Os árbitros, tão senhores de si quando marcam com convicção faltas e pênaltis existentes ou não, e ainda com maior convicção distribuem ou não distribuem cartões, dependendo de um critério absolutamente pessoal, ficam intimidados diante de uma situação como essa que estamos discutindo.
E o fair play acaba se limitando a isso, como se não existisse sujeira ética ou malandragem em outras situações de jogo, onde a firmeza do árbitro seria fundamental.
Demora na reposição de bola e na substituição de jogadores quando o resultado interessa ao time que as pratica também é absoluta falta de fair play, por exemplo.
Mas é muito comum isso acontecer e geralmente fica tudo por isso mesmo, sem que o árbitro tome qualquer medida punitiva.

 

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