sexta-feira, 11 de julho de 2014






O SONHO ACABOU

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 11/07/2014)

As expectativas de que o Brasil chegaria à grande final da Copa foram pelo ralo depois da avassaladora passagem do tornado alemão que reduziu a pó as pretensões verde-amarelas. O pior é que 7x1 parece que foi pouco pelo que fizeram os dois times.
Cumprem-se assim diversas profecias aziagas que preconizavam um final infeliz para a esquadra de Felipão, entre elas a lenda dos 16 anos (a cada 16 anos, a partir de 1950, o Brasil perde a Copa, o que aconteceu em 1966, 1982, 1998 e 2014). Existe também a previsão do bruxo mexicano Chick Jeitoso que há dois anos anteviu os quatro semifinalistas (Brasil, Argentina, Alemanha e Holanda), a contusão de Neymar, a derrota brasileira nas semifinais e – vejam os senhores – a conquista do título pela Argentina.
Tem também a maldição da Copa das Confederações (tradicionalmente, o seu vencedor não ganha a Copa do Mundo do ano seguinte) e, de quebra, registre-se a presença no Mineirão de um torcedor ilustre, o roqueiro Mick Jagger, que tantos problemas já causou ao selecionado inglês.
Mas, apesar da torcida e da esperança de que as coisas continuariam dando certo como nas partidas contra o Chile e a Colômbia, existia um consenso entre os analistas que no caso da Alemanha o buraco era mais embaixo.
Já comentamos antes que a seleção foi mal convocada, mal treinada e mal escalada, e que tanto o técnico brasileiro como o restante da comissão estavam ultrapassados e fora de sintonia com o que está acontecendo no futebol mundo afora.
Além do mais, a safra atual de jogadores não é das melhores e existe uma carência muito grande de nomes para atuar ao lado da nossa grande estrela – Neymar.
Em 1958 e 1962 a seleção não se limitava a Pelé. Deixando barato, nós tínhamos Garrincha, Zito, Didi e Nilton Santos que faziam a diferença na qualidade das jogadas. Em 1970 Pelé tinha a companhia de Tostão, Clodoaldo, Gerson e Rivelino, pra citar alguns. Na jornada do tetra, em 2014 a equipe era taticamente perfeita na marcação e tinha Romário e Bebeto para desequilibrar. O mesmo pode-se dizer em 2002, com a presença de Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho.
A geração de 2014 ainda está verde ou terrivelmente empobrecida. Da mesma forma que Dunga em 2010, Felipão olha pro banco e coça a cabeça, pois levou consigo jogadores com os quais não pode contar. Fred está mal, mas não dá pra confiar em Jô. Dante está comprometendo, mas seria temeridade trocá-lo por Henrique. Marcelo está falhando, mas como confiar em Maxwell?
A seleção brasileira deu uma clara demonstração que é um time de poucas jogadas – roubo de bolas no meio-campo, lançamentos em ligação direta para a correria dos atacantes e o aproveitamento da bola parada. Como a Alemanha tem uma defesa competente e bem posicionada e não cometeu faltas nem cedeu escanteios, a tal da jogada brasileira ensaiada foi pro espaço.
E os alemães foram além na competência, envolvendo o Brasil com um repertório de jogadas e toques rápidos até chegar com facilidade aos 5x0. O resto foi consequência.
Para se despedir com dignidade, o Brasil tem que mudar a sua postura na disputa do terceiro lugar contra a Holanda neste sábado. E Felipão tem que apostar na recomposição da defesa, com a volta de Thiago Silva, e colocar no meio-campo alguém que saiba tratar melhor a bola, seja recuando Oscar, seja escalando Hernanes.
E no domingo, jogando um futebol melhor, a Alemanha vai para o Maracanã para tentar a quarta Copa da sua História, contra a Argentina, que busca a sua terceira.
Resta saber se a previsão do bruxo irá prevalecer e provocar aquilo que os brasileiros não acreditavam nem nos seus piores pesadelos: o Brasil fora da final e a Argentina campeã.    

 

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