OS PRIMEIROS MOMENTOS DE
DUNGA
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 18/09/2014)
A seleção
brasileira fez palidamente a sua reaparição em dois amistosos que serviram para
Dunga avaliar o trabalho que terá pela frente, mas também (e principalmente) para
que a CBF pudesse arrecadar os dólares necessários para a sua sobrevivência
enquanto a seleção ainda tiver valor no mercado.
Como a caixa
preta financeira da entidade não é da minha conta, eu vou direcionar meus
comentários para o que aconteceu nos campos dos Estados Unidos.
Depois assistir
a dois triunfos raquíticos contra duas seleções que tempos atrás não eram páreo
para o poderio do futebol verde-amarelo – estou falando de Colômbia e Equador –
sinto-me cada vez mais convencido de que as coisas vão de mal a pior no escrete
nacional.
Pra não dizer
que eu só vejo nuvens negras, devo admitir que a seleção mostrou um pouco mais
de serenidade do que durante a Copa do Mundo de má lembrança, e que os
jogadores estão tentando jogar bola ao invés de chorar e dar pancada.
Mas o futebol
continua opaco, travado, sem criatividade e dependendo de um brilho ocasional
de apenas um jogador – me refiro a Neymar, responsável direto pelas duas
primeiras vitórias na segunda era Dunga.
O Brasil fez
1x0 contra a Colômbia em Miami através de um gol solitário do atacante, ao
cobrar com maestria uma falta de origem duvidosa. Já em New Jersey, o 1x0
contra o Equador teve a sua participação especial, pois o gol de Willian nasceu
de um passe sob medida do craque.
No mais,
tivemos o desprazer de constatar que apesar da mudança do técnico e da comissão
técnica o time não mostrou nenhuma evolução, e para isso existem algumas razões.
Ocorre que os
estilos de Dunga e Felipão são bastante semelhantes; a preocupação em roubar a
bola vem em primeiro lugar e muitas vezes é uma preocupação bem sucedida. Mas,
de posse da bola, ninguém sabe ao certo o que fazer com ela.
Além disso,
os jogadores responsáveis pela criação – os mesmos que não deram certo na Copa
– são tecnicamente limitados, com exceção de Oscar, desde que ele volte a atuar
como está acostumado e não fique engessado pelas instruções do técnico.
Nosso
meio-campo joga um futebol pouco eficiente e pouco vistoso. Fernandinho é
apenas violento, Luís Gustavo é apenas combativo e Ramires fica longe dos
craques que já ocuparam a sua posição em convocações passadas.
O grande
teste vai ficar para a partida contra a Argentina, que vem de desbancar a
Alemanha campeã do mundo disputando uma partida irrepreensível.
Talvez Dunga
tenha que ser mais ousado, colocando desde o início a dupla cruzeirense Everton
Ribeiro e Ricardo Goulart, que estão habituados a jogar mais soltos, e abrindo
mão de pelo menos um brucutu.
Todos sabem
que a safra atual não é das mais promissoras, que nossos técnicos deixaram de
estudar e pararam no tempo e que o nosso futebol atual está no mesmo nível das
equipes médias sul-americanas, ou seja, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Bolívia e Venezuela (pelo menos é isto que os resultados das Copas continentais
indicam no momento).
Mesmo assim,
o resultado mais alarmante do futebol internacional de todos os tempos – o
Brasil, um dos favoritos, perdendo em casa uma semifinal por 7x1 e dias depois
levando outros 3x0 e ficando fora do pódio – parece ser visto com grande
naturalidade pelos homens da CBF e pelo técnico Dunga, que não se abalam nem um
pouco ao ver “o melhor futebol do mundo” indo pro ralo.
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