TWITTER COM PAGODE
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES”
DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 01/12/2014)
Algumas
pessoas não concordaram com o teor do meu artigo escrito no mês passado e intitulado
“O fantasma da Copa” por acharem que eu estou implicando demais com o zagueiro
Thiago Silva, capitão da seleção derrotada na última Copa e que agora está
tendo mais uma chance com Dunga.
Em primeiro
lugar, quero deixar bem claro que considero Thiago Silva um jogador de raros
predicados técnicos, e que tanto a sua convocação como a sua efetivação como
titular pelo então treinador Felipão foi absolutamente justa.
Obviamente, o
que aconteceu com a seleção não foi culpa dele. O que ocorreu foi uma série de
circunstâncias que acabaram por tê-lo como pano de fundo, não apenas por ele
ser considerado um dos pilares da equipe como também – e principalmente –
porque era o capitão do time.
Ocorre que a
seleção tremeu quando não devia, chorou na hora errada, demonstrou fraqueza de
ânimo quando mais precisava se fortalecer e culminou com o apagão geral na
goleada contra a Alemanha na semifinal. Depois, ao perder o terceiro lugar para
a Holanda, houve desacerto e apatia, sem dúvida provocado pela goleada
desanimadora contra os alemães.
E no centro
de tudo faltou a presença de Thiago Silva, que ao ostentar a braçadeira de
capitão, deveria ter colocado os nervos da equipe no devido lugar, e fez
exatamente o contrário.
Mas a minha crônica
anterior mostra meu desapontamento contra a atitude tomada por Thiago não pelo
desencontro dos malfadados 7 x 1, mas pela falta de humildade e de inteligência
ao reclamar agora publicamente da posição de reserva e da consequente perda da
faixa de capitão nesta nova era da seleção.
A seleção
pós-Copa pretende juntar os cacos, fazer uma faxina geral, arejar o pensamento
e reconquistar a posição que o Brasil merece aos olhos do mundo, devidamente credenciado
por cinco títulos mundiais.
As coisas estão
caminhando bem com o novo comando da seleção, e é preciso preservar o bom
ambiente e o companheirismo entre os atletas. Ao reclamar intempestivamente,
Thiago Silva mostrou falta de respeito ao comandante Dunga (responsável pela
convocação e escalação dos jogadores), ao jogador Miranda (que vem
fazendo um papel fundamental no bom desempenho da zaga brasileira, que
passou mais de 500 minutos sem sofrer gol), ao atual capitão Neymar e, de
resto, a todo o elenco.
A história é
pródiga em situações que mostram humildade e respeito.
Campeão
mundial e capitão do Brasil em 1958, Hideraldo Luís Bellini foi substituído na
Copa seguinte pelo seu reserva Mauro Ramos de Oliveira. Mauro herdou em 1962 não
só a posição como também a faixa de capitão, e Bellini jamais reclamou da reserva
na conquista do bicampeonato.
Ainda em
1958, o endeusado Djalma Santos teve que se conformar em ser reserva de De
Sordi, tecnicamente inferior, mas jamais fez qualquer queixa ao treinador
Vicente Feola ou alguma reclamação aos companheiros. Por linhas tortas, Djalma
Santos acabou jogando a final, conquistou o título e foi eleito o melhor
lateral do torneio mesmo tendo atuado apenas 90 minutos!
Capitão que
se preza não se desespera nem mostra desalento como fez Thiago Silva em mais de
uma partida da Copa 2014.
Capitão que
merece a braçadeira impõe a sua liderança nos gestos, nas palavras e nas
atitudes.
Ainda na Copa 1958, o maestro Didi – que não era o capitão – mostrou
como se faz.
Quando o
Brasil tomou o primeiro gol da Suécia, dona da casa, ele colocou a bola debaixo
do braço, caminhou calmamente até o meio do campo, pôs os nervos da equipe no
lugar, e comandou uma goleada por 5x2, sem maiores sustos.
Talvez Thiago
Silva e muitos outros jogadores sequer saibam quem foram Bellini, Mauro, Djalma
Santos, De Sordi ou Didi, mas um pouco de cultura e história do futebol pode
ajudar muito mais do que simplesmente ficar curtindo twitter com pagode na concentração.
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