BOAS E MÁS LEMBRANÇAS
O
Estádio Governador Magalhães Pinto, mais conhecido como Mineirão, vai completar
cinquenta anos de existência no próximo mês. A sua inauguração aconteceu no dia
5 de setembro de 1965 e foi marcada por um fato curioso.
Ao
invés das autoridades políticas e esportivas programarem um evento que reunisse
equipes locais ou mesmo uma seleção mineira competindo com algum adversário,
eles optaram por uma partida entre a seleção brasileira e a seleção do Uruguai.
Os
uruguaios continuavam atravessados na nossa garganta desde a vitória quinze
anos antes no Rio de Janeiro – aquele fatídico 2x1 que nos custou a perda da
Copa do Mundo – e os mineiros sonhavam com uma magnífica vingança que pudesse
acalmar as dores de 1950, além de augurar para o estádio um futuro promissor de
grandes jornadas.
Mas
aí o fato curioso não ficou só na ausência do futebol mineiro na inauguração do
seu megaestádio.
Como
a decisão dos mineiros foi tomada meio em cima da hora, contrariando a sua tradição
de agir de forma meticulosa e detalhista, a CBD (antigo nome da CBF) teve dificuldades em formar
uma seleção que pudesse minimamente representar o país sem o risco se dar um
vexame inauguratório.
Afinal,
o Uruguai continuava a ter um time bastante respeitável e havia terminado de
forma invicta a sua participação nas eliminatórias para a Copa de 1966.
Os
papões do futebol brasileiro no momento – o Santos de Zito, Pelé e Coutinho e o
Botafogo de Gerson, Garrincha e Jairzinho – tinham outros planos e não poderiam
ceder seus jogadores para formar uma seleção de respeito.
A
solução então foi apelar para um único time, com titulares, reservas e comissão
técnica para, entrosado, assumir a responsabilidade de encarar as complicações
da partida.
O
time escolhido para representar o Brasil foi o Palmeiras, único time que
naquele dado momento rivalizava com os dois papões, tanto no âmbito doméstico, contra
o Santos, como no âmbito nacional, contra o Botafogo.
O
alvi-verde, comandado pelo argentino Filpo Nuñez – o único estrangeiro a
dirigir uma seleção brasileira em toda a história – tinha uma plêiade de
craques que se destacavam com um futebol altamente técnico e competitivo, entre
eles Djalma Santos, Ademir da Guia e Julinho Botelho, além de outros que por
diversas vezes vestiram a camisa da seleção em outras oportunidades, como
Valdir de Moraes, Djalma Dias, Dudu, Zequinha, Germano e Servílio.
A
seleção brasileira, ou melhor, o Palmeiras, exibiu um futebol de alto nível e
venceu a Celeste Olímpica por incontestáveis 3x0, gols de Rinaldo, Tupãzinho e
Germano e deu um selo de qualidade às festividades da inauguração.
O
troféu da partida ficou na sede da CBF por 23 anos, até que em 1988 ele foi
entregue para o Palmeiras, numa justa homenagem pela vitória conseguida em nome
do escrete.
Quase
50 anos depois, na rodada do último fim de semana o Palmeiras voltou a se
apresentar no Mineirão, agora todo reformado dentro do padrão Fifa, para
enfrentar o Cruzeiro, pelo Campeonato Brasileiro. Para lembrar a data festiva e
ao mesmo tempo homenagear a seleção canarinho, a equipe trajou um uniforme
especial, com a camisa no tom amarelo-canário e o calção azul.
Mas
a cumplicidade do velho Mineirão com a seleção brasileira, construída de uma
forma vitoriosa desde a sua inauguração, parece que foi interrompida com o
surgimento do novo Mineirão, reformado para recepcionar a Copa do Mundo de
2014.
Bastou
o Palmeiras entrar em campo vestindo o uniforme da seleção para que a síndrome
dos 7x1 tomasse conta do espetáculo, e o que se viu foi outra derrota
verde-amarela, talvez não tão acachapante, mas definitiva.
Assim,
a homenagem palmeirense saiu pela culatra.
(Artigo
publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 14/08/2015)
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