O IDIOTA
O que leva algumas pessoas
a cometer certas tolices impensáveis e impensadas, podendo causar problemas tão
sérios que às vezes se tornam impossíveis de resolver?
Será que o velho aforismo
de que “todos nós temos na vida cinco minutos de bobeira” se aplica a isso?
Há idiotas que num lance
único põem a perder a reputação, o emprego ou uma fortuna adquirida (e até a
vida, como não?), porque não pensaram antes na tolice que iriam cometer.
Cabem aqui vários exemplos
dispersos de idiotice momentânea, como um voto consagrado ao político errado, a
traição conjugal mal disfarçada, uma frase dita na hora errada, uma palavra mal
colocada numa entrevista de emprego ou até a negativa de participar do bolão do
escritório por não querer gastar cinquenta dinheiros e agora ter que se
conformar em ver todos os seus companheiros de trabalho ricos e continuar pobre
e objeto de chacotas.
Na semana passada o
futebol brasileiro foi brindado com o que há de supremo em termos de idiotice,
com a participação especial do supervisor (agora ex-supervisor) de futebol do
Cruzeiro, Benecy Queiroz.
Benecy provavelmente será
aclamado o “O contista do Ano”, um eufemismo que encontramos para denominar “O
Idiota do Ano”, pela sua facilidade de inventar e desinventar histórias. Isso, sem
prejuízo do que lhe possa acontecer na justiça desportiva.
O senhor Benecy contou uma
história rocambolesca envolvendo até o nome do antigo treinador Ênio Andrade,
que por já ter falecido não terá oportunidade de dar a sua versão do caso.
Numa entrevista dada a um
programa da Rede Minas de Televisão, o contista, querendo provar a sua tese de
que existem resultados fabricados no futebol, jactou-se de ter participado da
operação da compra de um resultado numa partida do Cruzeiro, sendo que o
árbitro que teria recebido o dinheiro acabou não cumprindo com o combinado, deixando
de assinalar um pênalti prometido. Com isso, Benecy comprometeu o seu nome, o
nome póstumo de Ênio Andrade, o seu clube – o Cruzeiro – e o árbitro que faz
parte do elenco, caso eventuais investigações policiais consigam identificá-lo.
No seu relato, Benecy Queiroz
citou alguns detalhes como o nome de um jogador – o goleiro Vitor – e a forma
como o árbitro conduziu a partida, marcando faltas no meio do campo e impedindo
a equipe adversária (de nome ainda desconhecido) de se lançar ao ataque. Mas não
marcou a penalidade que daria a vitória do clube celeste.
É claro que não faltou
pressão quando a falação terminou: pressão da diretoria do Cruzeiro, de amigos
e familiares, de atleticanos querendo mostrar como as coisas funcionam no lado
do rival e da própria imprensa, ávida por mais detalhes para fazer subir o
nível de audiência dos seus programas neste início de ano meio morno.
É claro que também não
faltou a curiosidade do Tribunal de Justiça Desportiva, que quer tirar tudo
isso em pratos limpos, prometendo ir a fundo em cima do Benecy e do próprio
Cruzeiro, conforme prega a legislação.
Quando caiu a ficha,
Benecy viu que havia cometido o ato mais idiota da sua vida, tremeu na base e
voltou à Rede Minas de Televisão para desmentir a história, dizendo
constrangido que tudo não havia passado de invenção da sua parte.
O dirigente, que atua no
clube celeste há 45 anos, lamentou muito que tivesse feito tal brincadeira, se
desculpou com a imprensa e com a torcida do Cruzeiro e prometeu “desacelerar”
suas funções por orientação médica – obviamente um eufemismo para justificar a sua
demissão do cargo.
Voltamos então à primeira pergunta:
o que teria levado um dirigente tão antigo e aparentemente equilibrado fazer
uma declaração tão esdrúxula? Quem, em sã consciência vai à televisão relatar
um crime – ou um projeto criminoso – do qual participou, antecipando nomes,
época e detalhes para depois ter a necessidade de desmentir tudo?
Só mesmo um grandíssimo
idiota...
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 29/01/2016)
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