O ESQUEMÃO DA COPA
A nova fase da Operação
Lava-Jato chegou ao esporte.
Como se suspeitava, existe
dinheiro de propina na construção dos estádios da Copa, bem como em obras para
os Jogos Olímpicos.
Quando a Copa começou a
ser alinhavada, havia uma espécie de consenso entre a CBF, as federações, os
clubes e o governo federal – na prática o grande avalista do evento – para que
todo esforço fosse feito a fim de que fossem utilizados os estádios já
existentes, sofrendo apenas alguns ajustes para atender às exigências da Fifa.
Lembro perfeitamente
quando o presidente Lula declarou algo como “um país que tem Maracanã, Mineirão
e Morumbi já possui uma estrutura de estádios apropriada para a Copa e não tem
muito que se preocupar com grandes mudanças”.
Mas as águas começaram a
rolar com mais intensidade por debaixo da ponte quando a Fifa apareceu com
exigências inéditas que não constavam do programa inicial. Tanto o governo
federal como a CBF embarcaram na ideia e prontamente deitaram o tapete vermelho
para receber o senhor Blatter e seu leal secretário Jérôme Valcke, dispondo-se a
atender a cada reivindicação pedida.
Afinal, tínhamos à
disposição algumas das maiores empreiteiras do mundo, que dariam perfeitamente
conta do recado, todas muito interessadas em contribuir com o seu quinhão para
o sucesso da Copa no Brasil.
A reforma do Morumbi
custaria 240 milhões de reais, mas foi deixada de lado para que fossem gastos
mais de um bilhão na construção do estádio de Itaquera, com as bênçãos das duas
presidências, a da República e da CBF, Lula e Ricardo Teixeira.
A farra com o dinheiro
público, o superfaturamento e – agora vem à tona – as propinas acertadas entre
os organizadores e a Construtora Odebrecht eram de fato muito atraentes numa
época em que ainda não se tinha noção dos escândalos que viriam mais adiante.
Em 2016, dois anos depois,
uma análise orçamentária comprovou que o estádio poderia ter custado 780
milhões, tendo a Odebrecht recebido 220 milhões como superfaturamento. As
investigações indicam que este dinheiro foi utilizado como pagamento de propinas
para uso político.
O procurador da República
Carlos Fernando dos Santos Lima declarou ter conseguido localizar provas
irrefutáveis nas diretorias e setores da Odebrecht que envolvem o setor
responsável pela administração da Arena Corinthians.
Como a chamada Operação
Xepa não menciona (ainda) nomes, eu vou me limitar a relatar o fato e manter as
suspeitas em segredo.
É claro que o estádio do
Corinthians é um exemplo contundente, até pelo carinho que o então presidente
Lula, corintiano confesso, demonstrou pela ideia da sua construção para
posterior uso da agremiação. Soava como uma espécie de redenção do futebol
“alegria do povo”, juntando no mesmo pacote uma casa para uma das maiores
torcidas do país e – quem sabe? – o título mundial canarinho, que parecia muito
bem encaminhado (tão encaminhado que o novo teatro do Maracanã estava reservado
para receber a nossa seleção apenas na partida final, para coroar a sua consagração).
É muito provável que
outros estádios também tenham sido construídos ou reformados cercados de meios
desonestos, e a Operação Xepa está à cata de evidências.
O problema é que a Copa,
cujo custo total foi mais barato do que serão as Olimpíadas, pode ser apenas a
ponta de um iceberg.
Nem bem a comunidade
esportiva assimilou a primeira pancada para que a 26ª fase da Lava-Jato apontasse
suspeitas também sobre pagamento de propina vinculada à segunda obra mais cara
em execução para a Olimpíada. O projeto, conhecido como Porto Maravilha,
envolve investimentos oito vezes maiores do que o Itaquerão, chegando a mais de
8 bilhões de reais.
Este Porto Maravilha não
está diretamente ligado aos Jogos e corresponde a reforma de ruas, calçadas, e
construção de túneis na zona portuária do Rio de Janeiro.
Apesar das negativas do
prefeito do Rio, a Procuradoria Geral da República apontou fortes suspeitas de
corrupção da qual faria parte inclusive o atual presidente da Câmara, deputado
Eduardo Cunha.
A Odebrecht vai optar pela
delação premiada ou, como eles preferem dizer, colaboração com a justiça.
Se o Ministério Público
aceitar, a gente vai ficar sabendo o tamanho do estrago.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 25/03/2016)
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