O INÍCIO DE UMA NOVA ERA
A
era Tite na seleção brasileira começou auspiciosamente. Em dois jogos oficiais
realizados a equipe mostrou mais em termos de organização e tranquilidade do
que Dunga mostrou em dois anos.
Analisando
as duas partidas que transportaram a seleção do sexto para o segundo lugar nas
Eliminatórias da Copa 2018 em menos de uma semana, observamos um amadurecimento
que finalmente nos faz acreditar em um futuro menos sombrio.
Bastaram
duas partidas, seis pontos conquistados, dos quais três como visitantes, para
que a lógica das forças do futebol no continente fosse restabelecida, colocando
Uruguai, Brasil e Argentina, pela ordem, nas três primeiras posições, com
apenas um ponto os separando.
Em
ambos os jogos o Brasil mostrou as falhas naturais de quem inicia um trabalho e
deve ter trazido algumas dúvidas ao treinador com respeito a um melhor aproveitamento
de certos jogadores.
Individualmente
eu ainda questiono as presenças de Paulinho, Taison e Giuliano na lista de
convocados, mas ainda é cedo para qualquer afirmação. Afinal, Paulinho foi
titular nos dois jogos, e se não brilhou também não comprometeu, e os outros
dois entraram em campo com a partida já decidida, praticamente apenas para
sentir o ritmo de jogo e buscar entrosamento com os demais jogadores.
Por
outro lado, Marcelo esbanjou qualidade pela ala esquerda e confirmou a todo
mundo que Dunga, que o manteve afastado por razões pessoais, não passa de um
indivíduo rancoroso que coloca suas desavenças pessoais acima do bem do grupo e
não entende nada de futebol.
Chamou
a atenção o posicionamento da defesa, que tomou apenas um gol nas duas partidas,
ainda assim marcado contra pelo zagueiro Marquinhos.
Também
chamou a atenção a presença de um volante marcador – Casemiro – que se destaca
no desarme limpo e na correta entrega de bola, a ponto de o treinador Zinedine
Zidane declarar que na sua formação atual o Real Madrid tem no jogador o seu
destaque mais importante (apesar de Cristiano Ronaldo ser o craque do time).
O
que se viu, em suma, foi uma seleção mais leve, mais solta, mais confiante e
mais brasileira. Quer enfrentando uma torcida equatoriana empolgante em Quito,
quer mostrando a cara para a exigente torcida brasileira em Manaus, os
jogadores jamais perderam a serenidade e o autocontrole. O clima entre a comissão
técnica, os jogadores e a imprensa ficou descontraído, ao contrário das carrancas
e do nervosismo mostrado pela seleção anterior.
Neymar
não se fixou apenas no lado esquerdo e jogou por todas as partes do ataque,
obrigando os defensores equatorianos e colombianos a mudar a forma de marcação,
o que abriu espaços para a penetração dos outros atacantes brasileiros.
A
impressão que ficou é que os jogadores (muitos dos quais participaram das
formações anteriores) tiraram um enorme peso das costas, pois a seleção de
Dunga e Gilmar Rinaldi tinha a cara desagradável e suspeita da CBF, coisa que
parece não ter contaminado a nova direção técnica.
É
muito cedo para qualquer afirmação, mas parece que com Tite as convocações
obedecerão a um critério técnico, não a imposições de dirigentes e agentes Fifa
como acontecia com Gilmar Rinaldi, ele próprio um ex-agente.
Tite
levou com ele muitos jogadores que ele conhecia da sua passagem vitoriosa no
Corinthians – Gil, Marquinhos, Fagner, Paulinho, Renato Augusto, Willian e
Taison – embora muitos deles já fizessem parte do grupo entes que ele
assumisse, e apesar da minha discordância como analista sobre a chamada de
alguns, cabe a ele analisar e confirmar nas próximas convocações a justeza da
sua atitude.
Se
contra o Equador nós tivemos um placar enganoso, pois a vitória por 3x0 foi
exagerada pelo equilíbrio apresentado em campo (1x0, gol de pênalti de Neymar
já estaria de bom tamanho), contra a Colômbia uma vitória por três ou quatro
gols estaria na proporção correta pelo que apresentaram os dois times.
Não
dá para notar se houve alguma evolução no trabalho e desenvolvimento da equipe
de um jogo para o outro, mas uma coisa ficou patente: nossos adversários podem
até falar grosso mas começam a temer novamente o poderio do futebol brasileiro,
que ultimamente andava tão em baixa.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 09/09/2016)
Nenhum comentário:
Postar um comentário