LAMENTÁVEL
O futebol do Rio de Janeiro tenta
sobreviver num estado onde as mazelas se acumulam, tornando cada dia mais
difícil a vida dos cidadãos e das instituições.
Como diz o ditado popular, muito faz
quem não atrapalha, mas este bom senso parece passar ao largo das considerações
do Ministério Público Estadual, que aparentemente sem outras preocupações mais
sérias resolveu interferir nos jogos finais da Taça Guanabara, “em nome da
segurança”, no que, aliás, é imitado pelos seus congêneres de outros estados.
Eu me pergunto que segurança é essa que
permite a existência de um estado criminoso paralelo que, entre outras coisas,
se acha no direito de proibir pessoas de adentrar certas áreas e até de matá-las
quando assim o decidem.
O Ministério Público e a Segurança
Pública melhor fariam se se dedicassem ao problema da criminalidade que assola
um estado já assolado por uma administração bandida que desvia o dinheiro
público para a sua farra particular, deixando funcionários e instituições à
mercê do Deus querer.
Mas o Ministério Público prefere
“garantir a integridade do torcedor” ao exigir torcida única nos clássicos, ou
pior ainda, ao exigir clássicos realizados com os portões fechados.
Esta implicância com o futebol é
incompreensível numa terra onde a bandidagem corre solta lá no morro e aqui no asfalto,
como diria um sambista das antigas.
Se o problema for apenas mostrar
serviço, é muito mais fácil controlar 30 mil pessoas dentro ou nos arredores
dos estádios num domingo à tarde do que milhões de pessoas espalhadas pelos
diversos pontos da cidade em uma semana de Carnaval.
Uma briga de torcedores é prontamente
divulgada pela televisão e será objeto de intenso noticiário nas páginas dos
jornais dos dias seguintes, mas as centenas de ocorrências nos dias de folia
passam batidas, o que deve levar o Ministério Público a tratar o futebol
estrategicamente como uma guerra e deixar o Carnaval para o reino da fantasia.
Estupidamente, eles fingem não entender
que os clubes precisam dos torcedores para que o entretenimento esportivo seja
um sucesso e para que os patrocinadores sintam que estão colocando o seu
dinheiro numa mercadoria que vale a pena.
Os clubes têm que arcar com despesas
altíssimas com a manutenção de um plantel cujos salários estão muito acima dos
que são pagos em qualquer outro tipo de empresa, além dos custos com os centros
de treinamento, departamento médico, viagens e concentrações.
A falta de um palco adequado para a
realização dos jogos mais importantes já é um problema, porque o Estádio do
Maracanã, uma espécie de herança sem dono, ainda não tem condições de abrigar
jogos devido a irregularidades encontradas.
O único clube no Rio que tem um estádio
à altura é o Botafogo, que herdou o Engenhão – hoje Estádio Nilton Santos – do
espólio dos Jogos Pan-Americanos de 2007. O estádio pode abrigar cerca de 47
mil pessoas e fica relativamente perto do centro do Rio, algo como 13 km.
Com a impossibilidade de uso do Engenhão,
que exige a autorização do Botafogo, resta encarar 125 km até Volta Redonda e
jogar no Estádio Raulino de Oliveira onde cabem 18 mil. As eternas desavenças
entre os clubes, em especial o Flamengo, com o Vasco da Gama impedem a
utilização do vetusto Estádio de São Januário, construído em 1927, onde
poderiam se acomodar mais de 20 mil torcedores.
Mas não é só de Ministério Público que
vive a insanidade do futebol brasileiro.
O técnico da seleção, Aldenor Norberto Bachi,
que todos conhecem por Tite, tem por exigência profissional a tarefa de
assistir a diversos jogos entre os grandes clubes do Brasil a fim de observar
jogadores e manter um arquivo de selecionáveis.
O senhor Bachi foi flagrado assistindo
ao jogo Corinthians x Santos na arena Corinthians, no camarote do Corinthians,
festejando alegremente o gol corintiano como um torcedor comum.
Mas ele não é um torcedor comum e assim
procedendo quebra um protocolo, rasga a liturgia e perde a credibilidade com os
torcedores dos outros clubes.
Lamentável.
(Artigo publicado no caderno de esportes
do jornal O Imparcial de 10/03/2017)
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