A GUERRA DA LIBERTADORES
O jogo Palmeiras x Peñarol disputado
nesta quarta-feira em São Paulo veio reacender a velha chama da discórdia
esportiva entre brasileiros e uruguaios, tema de colunas e comentários que se
imortalizaram através dos anos pela pena de cronistas do quilate de Armando
Nogueira, Nelson Rodrigues e do seu irmão Mário Filho, que deu seu nome ao Maracanã.
A fórmula da disputa é bastante
conhecida, pois os uruguaios sempre se caracterizaram por muita catimba e por
um futebol violento, e a partida se tornou explosiva por causa da mediação de
um arremedo de árbitro que acabou sendo objeto de reclamações de ambos os
lados.
A imprensa brasileira condenou o
anti-jogo do Peñarol e a falta de pulso do árbitro equatoriano Roddy Zambrano
Olmedo – guardem bem esse nome – em coibir essa prática e colocar ordem na
casa. Em situações como a que vimos, a aplicação de um ou dois cartões amarelos
teriam o condão de colocar as coisas no seu devido lugar.
A imprensa uruguaia condenou o que eles
chamam de “excesso de acréscimo ao tempo de jogo”, o que permitiu o gol da
vitória brasileira aos 54 minutos do segundo tempo.
Não faltaram ofensas entre os jogadores,
que variaram desde o popular xingamento antibrasileiro – desde o início do
século passado nossos jogadores costumam ser chamados de “macaco” pelos “hermanos”
sul-americanos – até a típica acusação brasileira de traição conjugal e o
tradicional elogio feito às mães dos atletas uruguaios.
Não faltou também a pilha adicional
colocada na partida antes mesmo de os times entrarem em campo, quando o
polêmico Felipe Melo disse que já estava habituado a “dar tapa na cara de
uruguaio”, referindo-se a uma briga no túnel do vestiário com o zagueiro
uruguaio Diego López ao final de um jogo pelo campeonato italiano em 2009 – na
época Melo jogava pela Fiorentina e López pelo Cagliari.
Depois deste 3x2, Palmeiras e Peñarol
voltarão a se enfrentar em Montevidéu no próximo dia 26 e se os dirigentes não colocarem
panos quentes em cima do clima de guerra podemos antever muita violência,
ameaça da torcida e uma arbitragem caseira danosa aos brasileiros.
O momento atual do futebol uruguaio não
é dos mais promissores, e o Peñarol não é nem sombra do que já foi no passado,
mas tem o que se chama de “peso da camisa”.
O Club Atlético Peñarol é um clube com
125 anos de idade. Sua trajetória inclui 50 títulos nacionais, 5 títulos da
Copa Libertadores, 3 títulos da Copa Intercontinental (Mundial de Clubes) e uma
Recopa. Em 2009, a IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas do
Futebol) divulgou os resultados de um estudo controvertido que determinou os
melhores clubes sul-americanos do século 20, e o Peñarol foi colocado em
primeiro lugar, seguido pelo Independiente, da Argentina (os brasileiros se
classificaram em 7º, 8º e 10º lugar, Cruzeiro, São Paulo e Palmeiras, pela
ordem).
A imprensa uruguaia destaca as duas
melhores formações do time uruguaio, a de 1966, que contava com os jogadores
Mazurkiewicz, Pablo Forlán, Caetano, Pedro Rocha, Abbadie, Alberto Spencer e
Joya, e a de 1981/1983, com Olivera, Morales, Bossio, Saralegui, Venancio
Ramos, Rubem Paz e Fernando Morena. Em ambos os casos o esquadrão auri-negro
foi campeão da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes (em 1966 e em 1982),
por coincidência dois períodos em que o futebol brasileiro não andava muito bem
das pernas.
Apesar da leniência da Conmebol,
tradicionalmente incompetente, e da verdadeira guerra promovida pela imprensa e
pela torcida, os ânimos nas disputas pela Copa Libertadores estão atualmente
mais calmos, muito provavelmente devido à exposição que as partidas têm através
da televisão e dos modernos meios de monitoramento.
Mesmo assim, a caçada em campo é muito
intensa e as simulações continuam constantes. Os árbitros são pressionados
dentro e fora de campo e há rumores de que muitos sejam instruídos para
fabricar resultados ou pelo menos serem coniventes com algumas irregularidades
e implacáveis com outras, desde que atendam os interesses da confederação.
Voltando ao jogo de quarta, os uruguaios
reclamam exatamente disso – o árbitro teria deixado a partida correr “até que o
Palmeiras conseguisse assinalar o seu gol”, e os brasileiros comentam que sua
senhoria teria permitido que os uruguaios batessem e paralisassem a partida
demais.
O jogo de volta em Montevidéu terá
características dramáticas. O Peñarol precisa vencer e vai ter que deixar de
lado o lero-lero e partir para o ataque. O Palmeiras é mais técnico e se não
entrar na catimba do adversário poderá sair do Estádio Centenário com uma
vitória consagradora.
(Artigo publicado no caderno de Esportes do
jornal O Imparcial de 14/04/2017)
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