sábado, 8 de julho de 2017





O CHARME DO CABELO

Por estranho que pareça, nosso artigo de hoje vai falar sobre... cabelo!
Talvez o mote principal não devesse ser cabelo, mas cabeça, que em geral no jogador de futebol é mais usada para expor o que vai do lado de fora do que para mostrar alguma coisa que porventura exista no lado de dentro. Talvez o tema mais correto fosse então "cabeça oca".
Já disseram que a cabeça não foi inventada apenas para usar chapéu. Como o chapéu está fora de moda, e o boné - seu substituto - não frequenta as cabeças com a mesma frequencia como desejaria, os donos das cabeças criaram um adereço para diferenciá-los do mundo profano que os cerca, produzindo tranças, miçangas, rabos-de-cavalo e ultimamente cortes pra lá de esquisitos que muitas vezes fazem com que os usuários fiquem parecendo algo semelhante a seres de outros planetas. Ou, dependendo do tipo de barba adotada - também uma febre da moda - fiquem parecidos com nossos parentes da pré-história. 
Existem no mundo do futebol cabeças vazias que raciocinam apenas na hora do jogo, de forma cinestésica e mecânica, muitas com extrema perfeição.  Alguns atletas também usam a cabeça para fazer gols, o que provoca uma histeria coletiva no torcedor que ao ver a bola na rede não faz questão de saber o que o jogador tem dentro dela.
Um atleta é um atleta, um intelectual é um intelectual. Não se exige que um intelectual quebre recordes esportivos nem que um atleta se transforme num filósofo ou pensador.
Mas, assim como é saudável a um intelectual de vez em quando executar alguma prática esportiva,seria também bastante proveitoso a um atleta de vez em quando beber alguma dose de cultura.
Já vi muito intelectual andando de bicicleta, nadando e até jogando bola, mas não conheço jogadores que leiam ou ouçam os clássicos, por exemplo, só para não forçar muito a barra.
É sabido que com raras, raríssimas exceções, jogador de futebol é um tipo de indivíduo que  não se classifica pela cultura nem pela contra-cultura, mas pela inexistência de cultura. Ele se dedica ao pagode, ao forronejo e a outros estilos musicais da mesma linha, adora colecionar carrões para levar a passeio os amigos da infância e gosta de exibir em público as Marias-chuteiras que sempre lhes dão dor de cabeça e vivem atrás do seu dinheiro. Nas horas vagas, pouquíssimos se dão ao luxo de ler ou estudar (nem há razão para isso pois eles costumam faturar pequenas fortunas nem necessidade de usar o intelecto) e jogam games ultra-modernos nos espertíssimos smartphones.
Para grande parte das pessoas, eles não passam de agentes do lazer. Ninguém convida um jogador de futebol para um debate sério acerca de problemas sérios, pois suas cabeças não possuem os mecanismos necessários para processar ideias que fujam ao seu métier.
Mas, retornando ao mote, lembramos que falávamos de "cabelo", ou da falta dele.
Há duas décadas começou a moda de raspar o couro cabeludo, alguns para disfarçar a já avançada carência capilar, outros para estar na moda ou simplesmente para fazer charme. Ainda hoje o time daqueles que abraçaram a causa e passam a navalha no cocuruto é bastante grande.
Hoje não é mais necessário fazer cara de mau para usar cortes extravagantes que misturam moicano com mandril ou pica-pau, pois o visual já tomou conta do jet-set e colocou no mesmo barco jovens iniciantes e veteranos em fim de carreira, todos aproveitando a oportunidade para muitas vezes tatuar desenhos e palavras na careca da cabeça, como de resto em todo corpo.
Todo jogador começou a perceber, ou pelo menos a imaginar, que a fórmula do sucesso  pode não estar nos pés, e sim na cabeça, ou melhor, no cabelo, o que quer que isso venha a significar.

Obs. Este artigo foi originalmente escrito em 2011, mas devido à contemporaneidade do assunto, foi revisado e atualizado para os dias de hoje.
   
 

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