domingo, 4 de agosto de 2019





TRECHO FINAL DE “O GATO PRETO”  
(de Edgar Allan Poe)


 O presidente da Academia Poética Brasileira, jornalista Mhario Lincoln, sugeriu que os seus membros postassem alguma coisa  a postar alguma coisa sobre a #semanaALLANPOE. Eu decidi por reproduzir o próprio autor, posto que nada que eu fosse capaz de escrever teria um impacto maior do que o foi produzido pelo próprio mestre.
“O conto ‘O Gato Preto’ narra as desventuras de um homem que, dominado pelo álcool e pelo desvario, tenta matar o seu gato, do qual conseguiu apenas furar um olho, e acaba matando a própria esposa  numa explosão de loucura, cujo cadáver ele oculta numa parede falsa dentro de um aposento da casa em que morava.
O gato preto desaparecera desde o episódio.
A polícia, intrigada com o sumiço da mulher e alertada pelos vizinhos sobre as esquisitices do vizinho, resolve investigar e manda policiais para revistar a casa.
O homem, muito confiante no seu plano não só os convida e entrar como ajuda na revista e os brinda com frases de efeito, como:

“... Cavalheiros, estou encantado por ter desfeito todas as suas suspeitas ... A propósito, cavalheiros, esta casa é muito bem construída ... Estas paredes são muito sólidas...”

A narrativa que se segue é uma transcrição do conto:

E foi neste ponto que, tomado por um estúpido frenesi de bravata, bati pesadamente com uma bengala que tinha na mão justamente sobre aquela parede atrás da qual jazia o cadáver da minha esposa.
Possa Deus escudar-me e proteger-me das presas do Pai dos Demônios! Tão logo a reverberação dos golpes que eu havia dado desapareceu no silêncio, foi respondida por uma voz de dentro do túmulo! – respondida por um grito, a princípio abafado e entrecortado, como soluços de uma criança, mas rapidamente se avolumando em um grito longo, alto e contínuo, totalmente anormal e desumano – um uivo – um guincho lamentoso, meio de horror e meio de triunfo, tal como só podia ter subido das profundezas do inferno, um berro emitido conjuntamente pelas gargantas de centenas de condenados à danação eterna, torturados em sua agonia, e pelos demônios que exultam em sua condenação.
É tolice tentar descrever meus pensamentos. Sentindo-me desmaiar, cambaleei até a parede oposta. Por um instante, o grupo de policiais permaneceu imóvel, em um misto de espanto e de profundo terror. No momento seguinte, uma dúzia de braços robustos esforçava-se por esboroar a parede. Ela caiu inteira. O cadáver, já bastante decomposto e coberto de sangue coagulado, estava ereto perante os olhos dos espectadores, na mesma posição em que eu o deixara. Mas sobre sua cabeça, com a boca vermelha escancarada e uma chispa de fogo no único olho, sentava-se a besta horrenda cujos ardis me tinham levado ao assassinato e cuja voz denunciadora agora me levaria ao carrasco. Eu havia emparedado o monstro dentro do túmulo! 

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