TRECHO FINAL DE “O GATO
PRETO”
(de Edgar Allan Poe)
O presidente da Academia Poética Brasileira, jornalista Mhario Lincoln, sugeriu que os seus membros postassem alguma coisa a
postar alguma coisa sobre a #semanaALLANPOE. Eu decidi por reproduzir o próprio
autor, posto que nada que eu fosse capaz de escrever teria um impacto maior do
que o foi produzido pelo próprio mestre.
“O conto ‘O Gato Preto’ narra as
desventuras de um homem que, dominado pelo álcool e pelo desvario, tenta matar
o seu gato, do qual conseguiu apenas furar um olho, e acaba matando a própria
esposa numa explosão de loucura, cujo
cadáver ele oculta numa parede falsa dentro de um aposento da casa em que
morava.
O gato preto desaparecera desde o episódio.
A polícia, intrigada com o sumiço da
mulher e alertada pelos vizinhos sobre as esquisitices do vizinho, resolve investigar
e manda policiais para revistar a casa.
O homem, muito confiante no seu plano
não só os convida e entrar como ajuda na revista e os brinda com frases de
efeito, como:
“... Cavalheiros, estou encantado por
ter desfeito todas as suas suspeitas ... A propósito, cavalheiros, esta casa é
muito bem construída ... Estas paredes são muito sólidas...”
A narrativa que se segue é uma
transcrição do conto:
“E foi neste ponto que, tomado por um
estúpido frenesi de bravata, bati pesadamente com uma bengala que tinha na mão
justamente sobre aquela parede atrás da qual jazia o cadáver da minha esposa.
Possa Deus escudar-me e proteger-me das
presas do Pai dos Demônios! Tão logo a reverberação dos golpes que eu havia
dado desapareceu no silêncio, foi respondida por uma voz de dentro do túmulo! –
respondida por um grito, a princípio abafado e entrecortado, como soluços de
uma criança, mas rapidamente se avolumando em um grito longo, alto e contínuo,
totalmente anormal e desumano – um uivo – um guincho lamentoso, meio de horror
e meio de triunfo, tal como só podia ter subido das profundezas do inferno, um
berro emitido conjuntamente pelas gargantas de centenas de condenados à danação
eterna, torturados em sua agonia, e pelos demônios que exultam em sua
condenação.
É tolice tentar descrever meus
pensamentos. Sentindo-me desmaiar, cambaleei até a parede oposta. Por um instante,
o grupo de policiais permaneceu imóvel, em um misto de espanto e de profundo
terror. No momento seguinte, uma dúzia de braços robustos esforçava-se por
esboroar a parede. Ela caiu inteira. O cadáver, já bastante decomposto e coberto
de sangue coagulado, estava ereto perante os olhos dos espectadores, na mesma posição
em que eu o deixara. Mas sobre sua cabeça, com a boca vermelha escancarada e
uma chispa de fogo no único olho, sentava-se a besta horrenda cujos ardis me
tinham levado ao assassinato e cuja voz denunciadora agora me levaria ao
carrasco. Eu havia emparedado o monstro dentro do túmulo!”
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