A foto do fato: Louis Armstrong faz a festa!
AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 16 - A PROIBIÇÃO
(continuação)
Um outro
assunto que
entrava em discussão, pelo menos nos meios artísticos, era o destino do jazz.
Com
o distanciamento do público da música tradicional vinda de Nova Orleans, e com
o refinamento das orquestras e o seu crescimento em termos de quantidade, era
de se prever que, durante a década, o jazz tomasse outra forma e outro caminho,
o que efetivamente aconteceu.
Os músicos, que
sempre fizeram parte de um mundo diferente, mantinham cordiais relações com os
mafiosos, pois as atividades da Máfia eram uma notável fonte de recursos que
ajudavam o show business a seguir em frente.
Os chefões de
Nova York, Chicago e Los Angeles, além de serem proprietários ou sócios da
maioria das casas de espetáculo, apreciavam o jazz da época e incentivavam as
orquestras e os cantores a continuarem executando a sua música. Figuras
proeminentes das famílias Bonanno, Colombo, Profaci, Gambino, Genovese, Lucchese,
Ardizzone e Dragna aliavam um pouco deste prazer ao negócio lucrativo e ao
fortíssimo contrabando de bebidas e, em alguns casos, drogas.
Muitos deles
compareciam às noitadas apenas para tomar um bom vinho, fumar um charuto
especialmente vindo de Cuba ou do Panamá e se distrair com a música,
acompanhados por belas “pin-up girls”, candidatas a um estrelato que
nunca chegava. Outros, no entanto, frequentavam as casas noturnas para
verificar de perto a quantas andava o seu funcionamento e analisar o que
poderia ser feito para aumentar o lucro.
De acordo com o
trompetista Jimmy Mc Partland, “...freqüentemente
um
ou outro chefão da pesada adentrava os salões acompanhado por um séquito de
seis ou sete guarda-costas e, uma vez lá dentro, mandava trancar as portas para
que ninguém mais entrasse. Durante o transcorrer do
espetáculo”, continua ele, “os mafiosos distribuíam notas de até cem
dólares entre os músicos, cantores, dançarinos e garçons, como agradecimento
pelo bom atendimento e pela música agradável”.
Por outro lado, o
perigo vivia à espreita.
Não
que existisse o risco de a polícia chegar a qualquer momento e levar todos os
frequentadores para o distrito, como seria de se esperar. A polícia raramente
aparecia onde os chefões ou seus imediatos graduados se encontravam, pois
existia um acordo mudo entre a lei e os fora-da-lei, sob a cobertura de uma forte
rede de corrupção.
O perigo residia num
eventual encontro de membros de gangues rivais, podendo provocar terríveis
tiroteios, nos quais as balas não escolhiam o endereço.
O baterista George
Wettling diz ter presenciado diversas vezes alguns episódios do gênero,
chegando a sentir as balas zunindo perto da sua cabeça enquanto a gritaria e o
pânico tomavam conta dos presentes. Os músicos tinham ordem para seguir com a
música quando qualquer confusão começasse, mas precisavam ficar com os olhos
bem abertos para o movimento dos guarda-costas ou para qualquer gesto que
alguém fizesse para sacar uma arma.
Certa vez, o
proprietário do Triangle Bar levou um balaço no estômago apenas por estar
desprevenido quando começou uma discussão mais acalorada entre membros de
gangues concorrentes. “Enquanto o homem era socorrido” – diz Wettling –
“a orquestra continuou o show normalmente, como se nada de
extraordinário tivesse acontecido”.
No final, as
coisas acabavam retornando à normalidade e ainda sobrariam alguns dólares para
todos os músicos e empregados.
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Ao mesmo tempo em
que o mundo musical modernizado mandava para o ostracismo antigos ídolos do
jazz tradicional, casos de King Oliver, Jelly Roll Morton, Sidney Bechet, Joe
Venuti e outros tantos, Louis Armstrong crescia no seu prestígio.
Dentro
de um panorama onde o jazz de Nova Orleans era substituído pelo swing incipiente, a única coisa que
poderia explicar a crescente popularidade de Armstrong tocando um estilo um
pouco fora de moda era a sua inigualável qualidade como músico, seu carisma e a
sua incrível performance de palco.
Vindo
de atuações teatrais na época em que participava da orquestra do Vendome
Theatre de Chicago em 1925, quando criou o personagem “Reverendo Satchelmouth”
– de onde teria surgido o apelido de “Satchmo”
– Armstrong adquiriu um forte traquejo histriônico, que colocou em prática
quando assumiu de vez a sua condição de cantor e músico de jazz.
Louis
Armstrong foi também o principal responsável pelo renascimento do jazz
tradicional num período conhecido como classical
jazz, que durou cerca de uma década, de 1935 a 1945. Bastante amadurecido e
com um fraseado mais envolvente, se comparado com aquele Armstrong de 1925,
Satchmo pontificou ao lado de Ellington, Hampton, Lunceford, Eldridge e Basie e
manteve acesa uma chama que acabou contribuindo para que o estilo não morresse
em definitivo.
Armstrong se
sobrepôs ao jazz, pois manteve o público em constante delírio em plena era do swing (e iria fazê-lo novamente mais
tarde, mesmo quando o bebop tomou conta do panorama musical) e per omnia tempora, até a data da sua
morte. Ele era como um rolo compressor que não se preocupava com as tendências
e simplesmente seguia o seu caminho, fazendo tão somente alguns pequenos
acertos no fraseado e no repertório.
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