sábado, 24 de outubro de 2020

 


AS CORES DO SWING
          (Livro de Augusto Pellegrini)

FINAL DO CAPÍTULO 16 - A PROIBIÇÃO

Paradoxalmente, na mesma época em que Louis Armstrong crescia em popularidade, Bix Beiderbecke murchava e morria sozinho e literalmente destruído pelo álcool em um quarto de hotel em Manhattan, desprezado pelos maestros que não aguentaram o seu comportamento doentio. Era 1931, e ele tinha vinte e oito anos.

Mas além dos músicos, que de uma forma geral atravessavam momentos de grande inquietação depois da Depressão de 1929 pela falta de uma perspectiva de futuro, os gângsters também sofriam grandes baixas, embora por outros motivos.

A guerra entre as quadrilhas estava cada vez mais acirrada, tendo alcançado seu auge em Chicago oito meses antes da quebra da Bolsa de Valores. Foi quando aconteceu o chamado “massacre do dia de São Valentim”, no dia 14 de fevereiro de 1929.

Nesse dia, Al Capone, conhecido com “Scarface”, e o seu pistoleiro-mor “Machine Gun” Mc Gurn assassinaram brutalmente sete membros da gangue liderada pelo rival George “Bugsy” Moran, após atraí-los para uma garage na North Clark Street sob o pretexto de negociar um carregamento de uísque a preços módicos. Para a sua sorte, Moran não estava no momento com os comparsas, mas perdeu boa parte da sua força, pois teve seus principais auxiliares exterminados pelos pistoleiros disfarçados de policiais.

Um dos atingidos, de nome Frank Gusenberg, ainda foi encontrado com vida, mas surpreendentemente relatou aos policiais que “ninguém havia atirado nele”. Gusenberg morreria horas depois sem revelar às autoridades quem estava por trás do atentado. Enquanto Gusenberg exalava seu último suspiro, Capone e Mc Gurn descansavam tranquilamente em um hotel das redondezas com as respectivas namoradas.

O crime organizado sofreria, no entanto, um grande baque com a verdadeira guerra que foi declarada a partir de então contra as quadrilhas, principalmente devido ao clamor público que se seguiu à chacina. O cerco foi apertando e culminou entre outras coisas com a prisão de Capone em 1931, não pelos crimes de toda espécie que ele perpetrava e praticava – assassinato, sequestro, contrabando, corrupção – mas simplesmente por uma declaração de imposto de renda mal feita.

Foi uma vitória marcante do Bureau contra o gangsterismo, da qual fez parte o lendário agente federal Eliot Ness.

Durante três anos, Eliot Ness e Alphonse “Al” Capone fizeram o jogo do gato e o rato, travando verdadeiras batalhas físicas e institucionais. Nas ruas, os agentes de Ness, denominados de “Os Intocáveis”, e os membros da quadrilha de Capone trocavam tiros e participavam de perseguições espetaculares, dignas das séries do cinema e da televisão que seriam realizadas no futuro. Ao mesmo tempo, os advogados de Capone, os promotores da Justiça e os agentes da Receita Federal esgotavam as suas baterias nas delegacias, nas audiências e nas salas de júri utilizando-se de todas as sutilezas de um jogo de xadrez.

No fim, não coube a Ness prender Al Capone, como era o seu desejo, mas os espertos advogados e os promotores públicos com o auxílio de um agente chamado Eddie O’Hare, usando como arma um simples, mas eficiente, mandado de prisão.

Com o fim da Proibição em 1933, os Estados Unidos voltaram a ter uma era de normalidade, onde todos enfim podiam beber legitimamente e ouvir o seu jazz sem restrições. A economia voltava a florescer dentro de uma política de apoio à livre iniciativa, e os bares e restaurantes voltavam a respirar longe dos subterrâneos do crime de contrabando e da fabricação clandestina de bebidas. E os donos dos estabelecimentos se viram livres do pagamento das taxas de proteção e segurança obrigatória imposta pelos mafiosos, sistema conhecido como “protection racket”.

Quanto a Eliott Ness, ele foi perdendo a importância e mais tarde acabou perdendo também o emprego, ironicamente por ter aumentado o consumo próprio de doses diárias de uísque e chegar constantemente ao trabalho na sóbria repartição federal com ares não muito sóbrios de embriaguez.

 

 

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