AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
FINAL DO CAPÍTULO 16 - A PROIBIÇÃO
Paradoxalmente, na mesma época
em que Louis Armstrong crescia em popularidade, Bix Beiderbecke murchava e
morria sozinho e literalmente destruído pelo álcool em um quarto de hotel em
Manhattan, desprezado pelos maestros que não aguentaram o seu comportamento
doentio. Era 1931, e ele tinha vinte e oito anos.
Mas além dos
músicos, que de uma forma geral atravessavam momentos de grande inquietação
depois da Depressão de 1929 pela falta de uma perspectiva de futuro, os gângsters também sofriam
grandes baixas, embora por outros motivos.
A guerra entre as
quadrilhas estava cada vez mais acirrada, tendo alcançado seu auge em Chicago oito
meses antes da quebra da Bolsa de Valores. Foi quando aconteceu o chamado
“massacre do dia de São Valentim”, no dia 14 de fevereiro de 1929.
Nesse dia, Al
Capone, conhecido com “Scarface”, e o seu pistoleiro-mor “Machine Gun” Mc Gurn
assassinaram brutalmente sete membros da gangue liderada pelo rival George “Bugsy”
Moran, após atraí-los para uma garage na North Clark Street sob o pretexto de
negociar um carregamento de uísque a preços módicos. Para a sua sorte, Moran
não estava no momento com os comparsas, mas perdeu boa parte da sua força, pois
teve seus principais auxiliares exterminados pelos pistoleiros disfarçados de
policiais.
Um dos atingidos,
de nome Frank Gusenberg, ainda foi encontrado com vida, mas surpreendentemente
relatou aos policiais que “ninguém havia atirado nele”. Gusenberg morreria
horas depois sem revelar às autoridades quem estava por trás do atentado.
Enquanto Gusenberg exalava seu último suspiro, Capone e Mc Gurn descansavam
tranquilamente em um hotel das redondezas com as respectivas namoradas.
O crime organizado
sofreria, no entanto, um grande baque com a verdadeira guerra que foi declarada
a partir de então contra as quadrilhas, principalmente devido ao clamor público
que se seguiu à chacina. O cerco foi apertando e culminou entre outras coisas
com a prisão de Capone em 1931, não pelos crimes de toda espécie que ele
perpetrava e praticava – assassinato, sequestro, contrabando, corrupção – mas
simplesmente por uma declaração de imposto de renda mal feita.
Foi uma vitória
marcante do Bureau contra o gangsterismo, da qual fez parte o lendário agente
federal Eliot Ness.
Durante três anos,
Eliot Ness e Alphonse “Al” Capone fizeram o jogo do gato e o rato, travando
verdadeiras batalhas físicas e institucionais. Nas ruas, os agentes de Ness,
denominados de “Os Intocáveis”, e os membros da quadrilha de Capone trocavam
tiros e participavam de perseguições espetaculares, dignas das séries do cinema
e da televisão que seriam realizadas no futuro. Ao mesmo tempo, os advogados de
Capone, os promotores da Justiça e os agentes da Receita Federal esgotavam as
suas baterias nas delegacias, nas audiências e nas salas de júri utilizando-se
de todas as sutilezas de um jogo de xadrez.
No fim, não coube
a Ness prender Al Capone, como era o seu desejo, mas os espertos advogados e os
promotores públicos com o auxílio de um agente chamado Eddie O’Hare, usando
como arma um simples, mas eficiente, mandado de prisão.
Com o fim da
Proibição em 1933, os Estados Unidos voltaram a ter uma era de normalidade,
onde todos enfim podiam beber legitimamente e ouvir o seu jazz sem restrições.
A economia voltava a florescer dentro de uma política de apoio à livre
iniciativa, e os bares e restaurantes voltavam a respirar longe dos
subterrâneos do crime de contrabando e da fabricação clandestina de bebidas. E
os donos dos estabelecimentos se viram livres do pagamento das taxas de
proteção e segurança obrigatória imposta pelos mafiosos, sistema conhecido como
“protection racket”.
Quanto a Eliott
Ness, ele foi perdendo a importância e mais tarde acabou perdendo também o
emprego, ironicamente por ter aumentado o consumo próprio de doses diárias de
uísque e chegar constantemente ao trabalho na sóbria repartição federal com
ares não muito sóbrios de embriaguez.
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