AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 15 - O EFEITO WALL STREET
A
chegada dos primeiros colonizadores
nos Estados Unidos se deu em 1607.
Eles vieram das
Ilhas Britânicas, buscando a parte nordeste do continente, pois o lado sul já
estava sendo ocupado por conquistadores espanhóis que haviam subido das ilhas
do Caribe, e pelos franceses, que desembarcaram nas praias do Golfo do México,
especificamente as que seriam anos depois a costa marítima da Louisiana, do
Mississipi e do Alabama.
Os navegantes
ingleses chegaram ao Novo Mundo para escapar de perseguições religiosas na
Europa, e tinham em mente não apenas conquistar o novo território, mas nele se
instalar e paralelamente iniciar a sua colonização com base na cultura e nas
tradições trazidas da Inglaterra. Eles estavam dispostos a desbravar um espaço
desconhecido que se adivinhava próspero e promissor, embora tivessem noção das
vicissitudes que teriam pela frente.
Estes aventureiros
temerários vieram a bordo do veleiro Godspeed e aportaram numa praia deserta do
continente americano, no local onde futuramente seria o estado da Virginia.
Eles eram denominados Pilgrins, ou seja, Peregrinos, e nada mais eram do que um
grupo de puritanos dissidentes, fundamentalistas cristãos pertencentes a uma
casta religiosa pragmática que baseava as suas leis sociais nos preceitos mais
rígidos do Velho Testamento.
As convicções
religiosas e moralistas dos Pilgrins eram estruturadas na família, no trabalho,
no louvor a Deus e na busca frenética pela riqueza. Para conseguirem os seus
objetivos, os forasteiros tiveram que travar uma batalha cruenta contra todas
as adversidades que a mudança radical no seu estilo de vida lhes impunha, como
a fome, o clima, os nativos hostis, as primeiras brigas internas pelo comando e
as doenças desconhecidas do novo continente.
Com muita
perseverança, e sem coragem para enfrentar uma viagem de volta e ter que
encarar os adversários religiosos que haviam deixado para trás ou sofrer com o
descrédito dos seus compatriotas, os Pilgrins tiveram que superar todos os
desafios e iniciaram uma colonização baseada na agricultura, na pesca e na
comercialização dos seus produtos.
Treze anos depois
chegava ao novo continente o navio Mayflower, transportando uma leva de cerca
de cem novos Peregrinos, que desembarcaram no litoral do atual estado de
Massachusets, numa praia que eles denominaram de Plymouth, em homenagem à
cidade inglesa de Plymouth, local da partida. Com o passar do tempo, a Plymouth
americana se transformou no território de colonização mais importante do futuro
país, dominando toda a região que eles batizaram de New England (Nova
Inglaterra), e que futuramente iria abrigar os estados de New Hampshire, Maine,
Vermont, Massachusets, Rhode Island e Connecticut.
Este colonizador
era idêntico àquele que aportara na Virginia, com raízes tipicamente
anglo-saxônicas, exibindo a mesma crença cristã exacerbada, muita austeridade
no que dizia respeito a assuntos familiares e uma ambição desmedida no futuro.
Parece um pouco
estranho voltar tanto assim no tempo e pesquisar as raízes da história dos
Estados Unidos quando a intenção deste livro é desbravar tão somente a história
do swing, mas estas observações são
importantes para que possamos compreender a formação e os valores dos
descendentes destes colonizadores no final do século dezenove e uma série de
ações sócio-políticas que foram desenvolvidas com o tempo.
De uma maneira
geral, o Estado americano sempre procurou exercer um controle rigoroso sobre o
comportamento do cidadão norte-americano, tendo como base a moral e os bons
costumes, a ponto de em 1851 ser sancionada a primeira lei proibindo a
fabricação, guarda e consumo de bebidas alcoólicas, promulgada no estado do
Maine. Esta lei foi adotada, posteriormente, por mais trinta e um estados da
Federação através de uma determinação rígida, com visíveis traços vitorianos.
Em 1919, portanto
quase setenta anos depois, o Congresso americano fez passar uma emenda
constitucional conhecida como Emenda 18, pela qual era ratificada a proibição
da fabricação e venda de bebidas alcoólicas em três quartos dos estados da
Federação. Esta lei passou a ser oficialmente aplicada em janeiro de 1920, e
definia em meio por cento o teor alcoólico máximo permitido em qualquer bebida,
fosse ela o gim, a cerveja, o vinho, os coquetéis, o uísque fabricado pelas destilarias
ou o simples licor caseiro da vovó.
Apesar do regime
democrático, a economia do país era controlada com mão de ferro pelos
descendentes daqueles protestantes anglo-saxões que agora dominavam o governo principalmente
através do partido republicano. Estimava-se que mais da metade de toda a
fortuna dos Estados Unidos estivesse nas mãos de uns poucos privilegiados que
detinham o comando.
O controle sobre a
venda de bebidas alcoólicas já era aplicado desde o início da Primeira Guerra
Mundial em alguns pontos considerados militarmente estratégicos ou por motivos
ofensivos aos preceitos morais. A princípio a proibição foi considerada uma
necessidade, digamos patriótica, de preservar a unidade e o bom comportamento
dos soldados americanos que haviam sido convocados em virtude do conflito, e a
aplicação da medida havia sido inicialmente prevista apenas para soldados em
uniforme e confinada às proximidades onde se concentravam as forças armadas.
Devido a esta proximidade, diversos bairros
boêmios que abrigavam cabarés e bares onde os soldados e os seus superiores se
divertiam em meio a muita música, bebida e mulheres, foram então fechados.
Com o fim da
guerra e a promulgação da lei, a restrição passou a ser geral, até porque
naquele momento ninguém poderia prever os rumos que a nova ordem política,
social e econômica tomaria no mundo nem as consequências que isto poderia
trazer para os Estados Unidos. Assim, por via das dúvidas, aplicar uma
legislação de força parecia ser a melhor forma de preservar a unidade nacional
e manter o fortalecimento da sociedade.
Estranhamente, o
estado de beligerância acabou conduzindo em pouquíssimo tempo os Estados Unidos
a um inesperado milagre econômico, chegando ao seu ápice no início dos anos
1920. Por ser artificial, porém, este milagre não durou muito tempo, e acabou
ruindo com a quebra da venerável New York Stock Exchange, a Bolsa de Valores de
Nova York, em 1929.
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