EU
E A MÚSICA
UMA
ORQUESTRA DANÇANTE
(Swing
pra que te quero)
Parte 2
Depois de cerca de duas horas de espetáculo, contando com o tradicional “bis”, eis-nos
de volta ao hotel bastante animados e dispostos a fechar a noite emborcando mais
algumas cervejas. Afinal, tínhamos assunto de sobra para conversar, Bob
lembrando os shows dançantes da sua juventude em Des Moines, no Iowa, e eu me
atendo aos discos das grandes orquestras que ouvia desde os tempos de adolescente.
Novamente no bar, naquela altura quase vazio, experimentamos um petisco mais
substancioso, pois afinal não havíamos jantado. Dado o adiantado da hora, já
nem fazia sentido a gente reverenciar a culinária local, então partimos para um
filé trinchado ao molho madeira que, dizia o cardápio, era uma das especialidades
da casa.
De repente, entre vozes e gargalhadas, nos deparamos com dois alegres camaradas
chegando para ocupar uma mesa ao lado da nossa, dirigindo-se ao garçom e também
pedindo cerveja, mas numa mistura de inglês e castelhano.
Um deles era negro, de meia idade e de estatura mediana, os cabelos já
prateando nas têmporas, e o outro quase ruivo, mais alto e parecendo uns vinte
anos mais jovem, ambos com a camisa branca desabotoada no pescoço e as mangas
arregaçadas.
Nós imediatamente os identificamos como músicos da orquestra de James, que
coincidentemente estava hospedada no mesmo hotel. Prontamente nos apresentamos
e iniciamos uma conversa, o que foi facilitado pelo fato de Mount também ser
americano, o que quebrou o gelo instantaneamente.
Os nossos companheiros de fim de noite eram o baterista Sonny Payne e o
sax-tenorista Norm Smith, que ficaram felizes por termos estado presentes no
show e se declararam encantados com a receptividade do público.
“Really great!”, eles pontuaram.
Bob Mount aproveitou para matar saudades das coisas gringas – e eles usaram
muitas vezes de um linguajar tão local que alguns detalhes me escaparam totalmente,
em meio às suas gargalhadas – e eu aproveitei para pedir seus autógrafos na
capa do LP que eu havia adquirido no saguão do teatro.
Sonny Payne tinha pedigree, era uma
figura histórica no mundo das big bands.
Em pouco mais de dez anos, desde meados dos anos 1940 até meados dos anos 1950,
ele havia tocado em diversas orquestras – entre elas Dud & Paul Bascomb, Earl
Bostic, Tiny Grimes, Erskine Hawkins e Count Basie – chegando também a comandar
a sua própria formação.
Foi apenas em 1966 que ele ingressou na orquestra de Harry James, numa
tentativa que James fez na época de trazer para o seu grupo a pegada da “cozinha”
de Count Basie – coisa que James jamais negou (a história conta que James
conseguiu contratar o “beat” – Sonny
Payne – mas não o “bounce” completo pois
não convenceu o guitarrista Freddie Green nem o baixista Eddie Jones a mudar de
time).
Durante um certo tempo Sonny Payne dividiu o seu trabalho liderando um trio e se
transformando no baterista pessoal de Frank Sinatra, com quem tocou em diversos
shows. Mais tarde, ele retornou para a banda de Basie por algum tempo e
finalmente voltou a tocar com James, onde estava agora, e onde iria encerrar a
sua carreira.
Menos conhecido, Norman Smith havia tocado em diversas bandas, inclusive nas
orquestras de Stan Kenton e Ted Herman, da qual saiu para se juntar a Harry
James, e era um saxofonista muito seguro, embora não fizesse parte do time dos mais
badalados.
Atravessamos boa parte da madrugada num alegre papo entre muitas cervejas, a
lembrança de muitas canções, muitas histórias e muito aprendizado, até que o
garçom viesse sinalizar que o serviço de bar seria encerrado.
Quer pelo cansaço, quer pela condição de astro principal, Harry James não desceu
para o bar e preferiu ir para a cama ou tomar a sua cerveja no próprio apartamento,
assim como os demais membros da sua entourage,
o que para nós foi uma pena.
Na manhã seguinte dormi até mais tarde, e apesar do amuo do motorista, a Rural
Ford seguiu para a nossa missão no Distrito Industrial quando o sol já estava
alto.
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