PÁGINAS ESCOLHIDAS
O
FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)
A AVAREZA
A coisa mais
bela que já foi escrita sobre a avareza – se é pode ser considerada bela uma narrativa
sobre tão grave defeito – tem a assinatura de Charles Dickens, no seu “Conto de
Natal”.
A sovinice do velho Scrooge, o fantasma do seu sócio Morley, a visagem dos Natais
passados, a realidade do Natal presente e o espectro dos Natais futuros nos dão
uma dimensão de ternura e horror poucas vezes vistas na literatura universal,
como se num relance casássemos Poe com Grimm.
Assim, qualquer tentativa de discorrer sobre este Segundo Pecado será uma mera
aproximação do impacto causado por Dickens, além termos que encarar o fato de
que incontestavelmente a avareza hoje em dia já não é objeto de tanta maledicência
divina como nos ensinou a Santa Madre Igreja.
O próprio Estado cultua e aconselha a avareza, na sua forma mais pura – a poupança
– e aí abre espaço para outro pecador financeiro, aquele que empresta a juros.
É necessário, portanto, que não se confunda o avarento com o usurário.
O avarento, menos perigoso, cuida do que é seu, não reparte sequer um
cumprimento e anda às escondidas como um doente contagioso. Mas o usurário se faz
de amigo e oferece ajuda para depois arrancar até o couro do infeliz que cai no
seu canto de sereia.
Avarentos, usurários, sovinas e mãos-de-vaca, apressai-vos em mudar o vosso
modo de vida! Como diz aquele samba, “a bruxa, que é cega, esbarra na gente e a
vida estanca, o infarto lhe pega e acaba essa banca!”
Atentos, pois, para o Dia do Juízo. O dia da falta de juízo são todos os dias.
(Um pequena
análise sobre a avareza e suas consequências)
Nenhum comentário:
Postar um comentário