EU
E A MÚSICA – ESSE TAL DE ROCK AND ROLL
A
música que tomou conta do Brasil e do mundo
Esse tal de rock and
roll sempre exerceu sobre mim o mais profundo fascínio, talvez pelo seu
parentesco com o jazz – ambos vieram das raízes do blues – ou talvez porque o seu surgimento tenha se dado durante a
minha adolescência, pois as coisas que acontecem nessa época marcam intensamente
a vida da gente.
Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, o mundo começou a viver uma
nova ordem econômica e social e isto afetou sobremaneira o comportamento da
juventude e também a indústria da música.
A América, como os europeus chamavam os Estados Unidos, detinha uma forte
liderança política e cultural que fora iniciada com a invasão do jazz ainda no
início do século 20 e consolidada com o fim da guerra. No início da década de
1950, em plena vigência deste domínio, a América começou a exportar outro tipo
de música, mais ao gosto da nova geração.
Nesta nova música, as grandes orquestras foram substituídas por pequenos
conjuntos, e os metais, embora presentes em grande escala no rhythm & blues, foram trocados
por violões, guitarras e guitarras-baixo.
O piano, que impunha uma marcação importada do boogie-woogie, também se fazia presente em algumas formações,
principalmente quando o líder e cantor era o próprio pianista, mas com
rigorosas exceções estas formações também não abdicavam da guitarra, que tinha
um papel preponderante nos solos e praticamente ditava o clima da música.
Assim, além da guitarra, que naquele tempo ainda não usava os pedais, o rock trouxe na sua origem o som do
piano, da bateria, do contrabaixo acústico e até do sax-tenor – line-up utilizado pela banda Bill Haley
and The Comets (nome que o líder e vocalista William John Clifton Haley colocou
no seu grupo, fazendo menção ao cometa de Halley, que havia assustado o mundo
em 1910 e iria passar novamente em 1986, desta vez sem muito alarde).
A formação da banda incluía um acordeão (!), e entre os seus grandes sucessos estão
“Rock Around The Clock” (Max
C.Freedman e James E.Myers), “See You
Later Alligator” (Robert
C.Guidry) e “Shake, Rattle and Roll”
(Big Joe Turner), músicas que podiam ser ouvidas em disco e em programas de
radio, e vistas nos primeiros anos de televisão no Brasil e nos filmes de
cinema especialmente feitos para promover o estilo.
Este “pré-rock and roll” teve outros
expoentes, como a banda de rhythm &
blues de Louis Jordan chamada Timpany
Five, com as músicas “Caldonia”
(B.B.King e Lowell Fulsom), “Saturday
Night Fish Fry” (Louis Jordan) e “Let
The Good Times Roll” (Fleecie Moore e Sam Theard); ou Fats Domino, mais
voltado para o blues – “The Fat Man” (Fats Domino e Dave Bartholomew), “Ain’t That A Shame” (Fats Domino e Dave Bartholomew) e “Blueberry Hill” (Vincent Rose, Larry
Stock e Al Lewis); Bo Diddley, antes de cair de cabeça no blues – “Hey, Bo Diddley” (Bo Diddley), “Before You Accuse Me” (Bo Diddley) e “I’m A Man” (Bo Diddley); ou ainda Ray
Charles, cantando e tocando uma pegada mais forte de soul – “What’d I Say” (Ray
Charles), “I’ve Got A Woman” (Ray
Charles e Renald Richard) e “Hallelujah I
Love Her So” (Ray Charles); e também
Ike Turner and His Kings Of Rhythm – “Splish
Splash” (Bobby Darin e Jean Murray), que seria um futuro sucesso brasileiro
na versão de Roberto Carlos.
Junto com o rock nasceram o rock-balada e um tipo de música que recebeu no
Brasil o nome carinhoso de “roquinho”, outra marca registrada da metade do
século 20 e que foi devidamente explorada pelo movimento “Jovem Guarda”.
O movimento e a marca foram criados pela agência de publicidade Magaldi, Maia
& Prosperi para a TV Record em 1965 e estrelados por Roberto Carlos, Erasmo
Carlos e Wanderléa, que faziam o show das tardes de domingo recebendo outros
astros do movimento – Antonio Marcos, Deny & Dino, Ed Wilson, Eduardo &
Silvinha Araujo, Evinha, Jerry Adriani, Leno & Lilian, Martinha, Paulo
Sérgio, Ronnie Von, Sérgio Murilo, Vanusa, Waldirene, Wanderley Cardoso e os
conjuntos Os Golden Boys, Os Incríveis, Os Vips, Renato e seus Blue Caps, e The
Fevers – até o início de 1970.
O rock-balada e o “roquinho” não
tinham o mesmo compromisso com a forma, com o drive e – por que não dizer? – com a seriedade do verdadeiro rock and roll e sua missão era tornar a
juventude mais feliz nos bailes e festinhas caseiras.
No cardápio internacional, cantores como Paul Anka – “You Are My Destiny” (Paul Anka), “Puppy Love” (Paul Anka) e “Diana”
(Paul Anka), e Neil Sedaka – “Another
Sleepless Night” (Neil Sedaka), “Oh
Carol” (Neil Sedaka e Howard Greenfield) e “I Go Ape” (Neil Sedaka e Howard Greenfield), que misturavam as duas
coisas.
Pode-se afirmar com uma certa precisão que o rock-balada começou com o grupo The
Ink Spots – uma espécie de antecessores dos The Platters – com a música “If I Didn’t Care” (Jack Lawrence)
gravada em 1939. Depois, eles
gravaram “We’ll Meet Again” (Ross
Parker e Hugh Charles), e “Always” (Irving
Berlin), dentro do mesmo estilo.
Mais tarde surgiram, além do próprio grupo The Platters – “The Great Pretender” (Buck Ram), “Only You” (Buck Ram) e “My
Prayer” (Georges Boulanger e Jimmy Kennedy), também o cantor Pat Boone – “Bernardine” (Johnny Mercer), “Don’t Forbid Me” (Charles Singleton) e “Love Letters In The Sand” (Charles Kenny, Nick Kenny e John Frederick Coots), e a
revelação Brenda Lee – “I’m Sorry” (Dub
Allbritten e Ronnie Self), “Sweet
Nothin’s” (Ronnie Self) e “That’s All
You Gotta Do” (Jerry Reed).
A
música tocada por estes grupos e cantores, apesar de não ser propriamente rock and
roll, foi uma das preferências musicais da juventude daqueles anos e tinha uma
estrutura construída entre a balada tradicional e o rhythm & blues, servindo inclusive como base para alguns
arranjos utilizados por Elvis Presley nas suas primeiras gravações.
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