sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

 

                            Foto: Celson Mendes (no violão), Augusto Pellegrini e Antônio Vieira

EU E A MÚSICA  
(Augusto Pellegrini)

A SAGA DO TERCEIRO PISO

Na última década do século 20 – e já se vão trinta anos – o panorama musical de São Luís era muito diferente do atual. A vida noturna se materializava apenas nos fins de semana, geralmente começando na sexta-feira, o que tornava o resto da semana um deserto de ideias e de diversão.
          Eventualmente aconteciam shows durante a semana, mas na maioria das vezes se tratava de uma atração de algum outro lugar – um cantor importado ou um instrumentista da elite – que geralmente se apresentava no Teatro Arthur Azevedo, nos salões dos hotéis ou em jantares “privé” para um público selecionado a dedo.
          Os restaurantes, com exceção a uns poucos lugares, faziam uma grande restrição à chamada música ao vivo interpretada pelos ‘cantores da terra”, e a maioria dos bares ainda preferia o chamado “som mecânico” como múic de fundo, alegando que músicos e cantores poderiam incomodar e afastar os clientes.
          A exceção foi o “reggae”, que se desenvolveu de uma forma mais aberta e profissional, pois seus organizadores construíram locais específicos para as bandas se apresentarem, privilegiando os aficionados com música em altíssimo volume e com a possibilidade de dançar ao som das pedradas ambiente.
          Quando a situação começou a se modificar, e os artistas conseguiram finalmente ampliar seus horizontes em termos de espaço e audiência, a noite de São Luís se iluminou.
          De uma forma geral, no entanto, os shows eram bastante personalizados, isto é, a apresentação era feita por um único cantor ou grupo, com raras “canjas” concedidas, geralmente ensaiadas e anunciadas de antemão.

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          Foi neste clima de mudanças que apareceu o bar Terceiro Piso, que recebeu este nome por se situar exatamente no terceiro piso de uma galeria na Cohama chamada Royal Center.
          Foi uma ideia revolucionária concebida e executada pelo proprietário, ninguém menos que o violonista Celson Mendes. Talvez não passasse pela cabeça de mais ninguém que um bar localizado no terceiro andar de um centro comercial pudesse prosperar.
          Mas o Terceiro Piso não apenas prosperou como se transformou num “point” da música ao vivo todas as noites a partir das quartas-feiras. Era para lá que se dirigiam músicos de diversas tribos e gêneros e um público maravilhado com o que lhe era concedido ver.
          Celson Mendes fazia de tudo um pouco (mais apropriado seria dizer “de tudo, quase tudo”) pois além de tocar violão – como manda o seu ofício – ele  atendia o público, gerenciava, divulgava, fazia a programação, abastecia e entretinha os fregueses. Era produtor, maitre, garçom, responsável pela sonorização e também DJ.  
          O Terceiro Piso foi um dos primeiros bares, senão o primeiro, a montar um show para a noite e manter o palco livre para todos os artistas que estivessem na casa e que quisessem mostrar o seu trabalho na base do mais puro improviso.
          O time principal era geralmente composto por Celson Mendes (violão). Julio Pinheiro (sax-tenor e flauta) e Léo Capiba (pandeiro e voz), mas uma plêiade de cantores e instrumentistas que frequentaram a casa deixaram o seu recado no seu período de curta duração entre 2004 e 2005.
          Entre eles, os cantores Augusto Pellegrini (que aqui relata os fatos), Antônio Vieira, Zeca do Cavaco, Luís Mochel, Sabrina Reis, Chico Saldanha, Josias Sobrinho, Rayane, Nubia Maranhão, Victor Vieira, Livia Amaral, Milla Camões, Tatto Costa, Anna Claudia, Lenita Pinheiro, Lena Machado e Fátima Passarinho. Por lá também passaram os músicos Pedro Massa (guitarra), Danuzio Lima (flauta), Jim Howard (trompete), Paulo Trabulsi (violão e cavaquinho), Francisco Solano (violão sete-cordas), Serra de Almeida (flauta), Paulo Pellegrini (teclado), Mayron (violão), Jeff Soares (guitarra), Fernando Machado (clarineta), Neres (trombone), Zezé Alves (flauta), Lázaro (pandeiro), Robson (surdo) e João Bentivi (trombone), e com certeza outros tantos que agora me fogem à memória. Isto sem esquecer do clarinetista brasiliense Paulo Sérgio Santos que lá compareceu durante sua passagem por São Luís.   
          O Terceiro Piso me traz à lembrança momentos inesquecíveis de música e de aconchego, um espaço amplo e confortável, um som de qualidade, uma música de encantar os mais exigentes gostos e uns petiscos de agradar os mais exigentes paladares. E aquela cerveja para agradar o gosto dos fregueses, cada qual tomando a sua marca preferida...
          O Terceiro Piso é uma saudosa e agradável lembrança.

 

 

  

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