terça-feira, 13 de setembro de 2022

                                                               


                                                              PÁGINAS ESCOLHIDAS

Do livro O BRUXO DE CONCEPCIÓN (2011)
(Augusto Pellegrini)

 O BRUXO DE CONCEPCIÓN

Tudo começara quando El Gran Gachot, um prestidigitador e ilusionista venezuelano que andava pelo México afora, precisou de um assistente para auxiliá-lo nos seus truques. Aos dezesseis anos, Emerenciano Ycaplán, que era esperto e expedito, apesar de robusto e bem cevado, assumiu a tarefa com tamanha perfeição que logo passou a comandar parte da cena, ficando para o grande Gachot o lado mais complexo do espetáculo.

Fazer sumir e depois reaparecer lenços de seda coloridos e graciosas pombinhas brancas, colocar moedas de diversos tamanhos atrás da orelha ou no bolso do colete para depois reencontrá-las em outros lugares mais imprevistos, multiplicar cigarros acesos por entre os dedos roliços e teimosos e encantar o público com um baralho chinês eram algumas maravilhas que Emerenciano fazia sem pestanejar.

As mãos se moviam agilmente como duas aranhas espertas e a boca emitia sons místicos e palavras de ordem, fazendo com que um relógio de ouro se transformasse em um punhado de papel picado e reaparecesse no bolso de um aparvalhado espectador.

O corpanzil se movimentava como um pião, enquanto surgiam da gola e das mangas da camisa os mais variados objetos sob o aplauso frenético da turba excitada.

Finalmente, ele passou a adivinhar pensamentos, datas e nomes com uma precisão impressionante, a ponto de começar a roubar o espetáculo para si, a despeito do velho Gachot.  

(Uma lenda tropical conta a saga de um bruxo que desafiou a medicina) 




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