sábado, 17 de maio de 2014








ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” NO DIA 12/05/2014 

 

A SELEÇÃO QUE NÃO FOI

 

Agora que já saiu a convocação definitiva para a Copa, peço ao leitor que deixe a imaginação correr solta, como se estivesse assistindo a um filme de ficção ou envolvido em um sonho delirante.
No dia 12 de junho de 2014 o Brasil entra em campo para enfrentar a seleção da Croácia pela partida inaugural da Copa e, em meio aos gritos de incentivo e da “ola” ensaiada pela torcida ensandecida, o locutor do estádio anuncia a escalação da equipe através dos alto-falantes, cujos nomes são mostrados no telão: Matheus Caldeira; Lucas, Durval, Émerson e Bruno Cortez; Henrique, Fellype Gabriel, Renato Abreu e Elkeson; Kleber Pinheiro e Osvaldo.
Pareceria mais uma dessas desconhecidas seleções Sub-20, Sub-17 ou Sub-qualquer coisa, não fossem as presenças de figurinhas carimbadas como Renato Abreu e Bruno Cortez. Mas, exceção feita ao goleiro, todos esses jogadores foram ou são titulares em clubes importantes; e todos tiveram a chance de se firmar na seleção principal, pois foram chamados para algumas partidas preparatórias entre 2011 e 2013 contra adversários nada desprezíveis – Argentina, Itália, Rússia, México, Escócia, Costa Rica e Bolívia. Infelizmente – para eles – eles não conseguiram mostrar serviço que justificasse a continuidade nas convocações.
Algumas presenças foram deveras estranhas, como a do quarto goleiro do Corinthians, Matheus Caldeira, do veteraníssimo Durval, do Santos (agora no Sport), e do centro-atacante Kleber Pinheiro (do F.C.Porto, com uma passagem inexpressiva pelo Palmeiras).
Para o Superclássico das Américas contra a Argentina em 2011 o então técnico Mano Menezes só podia contar com jogadores que atuavam no Brasil e chamou sete dos onze listados acima. E Felipão, em 2013, completou a convocação para os jogos contra a Itália, Rússia e Bolívia levando o jovem goleiro corintiano e o são-paulino Osvaldo, embora apenas o atacante tenha atuado em uma partida.
Algumas das promessas caíram no ostracismo ao se transferirem para clubes sem a menor expressão internacional, como Fellype Gabriel, que foi para o Al Sharjah, dos Emirados Árabes Unidos e Elkeson para o Guangzhou Evergrande, da China.
O lateral-ala Cortez não deu certo no São Paulo nem no Benfica e agora está disputando posição no Criciúma. E o famoso Renato Abreu, ex-Corinthians e Flamengo, teve uma passagem melancólica pelo Santos e atualmente está sem clube.
É claro que isto acontece em maior ou menor escala durante o período de preparação para as Copas do Mundo, mas não com esta intensidade.
Antes da Copa de 2006 as surpresas ficaram por conta de Daniel Carvalho, Dudu Cearense, Gustavo Nery e Afonso Alves, mas todos eles possuíam no mínimo a experiência de atuar no exterior. Para a Copa de 2010 foram testados sem maior sucesso os laterais Richarlyson, Juan e Mancini.
A seleção pode até admitir um ou outro jogador sem maior pedigree, como aconteceu com Paulo Sérgio em 1994, Zé Carlos em 1998, Vampeta em 2002 e Doni em 2010, mas felizmente esta convocação de jogadores “impossíveis” é bastante escassa.  
Um caso emblemático diz respeito a Zagallo. Um ano antes da Copa de 1958 ele não era cogitado e sequer havia disputado qualquer jogo pela seleção (amistosos, Eliminatórias, Taça Bernardo O’Higgins, Campeonato Sul-Americano, Copa Roca e Taça Oswaldo Cruz), preterido em nome de Raimundinho (do Fluminense de Feira de Santana), de Wassil (do Bahia), de Tite (do Santos) e também de Garrincha e Joel, que se revezavam na ponta esquerda como eventuais reservas de Pepe. No ano da Copa, Zagallo passou a ser a terceira opção depois de Pepe e de Canhoteiro e ganhou a convocação final porque Canhoteiro tinha medo de viajar de avião e apreciava as noitadas mais do que o recomendável.
Pepe chegou na Suécia se recuperando de uma contusão, Zagallo assumiu a posição e acabou virando titular absoluto do escrete.
Sua história vencedora a partir daí todo mundo conhece.  

                                                                                       Augusto Pellegrini

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