quinta-feira, 15 de maio de 2014


 
 
 
 
 
 
 
ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTE” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 28/04/2014

 

AS DUAS FACES DA COPA DO MUNDO

 

Alguns leitores de O Imparcial têm se manifestado a respeito dos meus artigos, questionando a minha coerência com respeito à Copa do Mundo.
Muitos acham estranho que em um determinado artigo eu teça comentários leves e descontraídos sobre a importância dos jogos e das seleções que estarão se enfrentando no torneio e que no artigo seguinte eu faça observações ácidas e negativas sobre a mesma Copa e seus organizadores.
Antes de tudo, cabe explicar que a função da minha coluna no jornal é comentar sobre esporte – em especial sobre o futebol – tanto que o espaço que me foi cedido está no Caderno de Esportes (apropriadamente chamado de Super Esporte), e foi batizado como “Gol de Placa”.
Minha característica como crítico não é comentar jogos, analisar sistemas, resultados ou decisões técnicas das equipes, muito embora esporadicamente eu o faça, mas explorar temas polêmicos, tendências e situações inusitadas que possam acontecer.
Assim, há que se separar bem a Copa como competição esportiva e como uma possibilidade oportunista de se fazer politicagem e enriquecer fraudulentamente.
Hospedar uma Copa do Mundo é sempre uma primazia, independentemente dos fatos escabrosos que cercaram este evento desde antes da escolha do Brasil como país sede, quando Ricardo Teixeira contratou os serviços de assessoria de ninguém menos do que Jerome Valcke (o que sem dúvida abriu o caminho para a nossa indicação mesmo com a existência de alguns senões, como a extensão territorial a ser coberta pelas seleções), até o superfaturamento da reforma e construção dos estádios com a concordância do Comitê Organizador Local e com o silêncio do poder público.
Esta primazia, se bem administrada, gera lucros e dividendos não apenas sob o aspecto financeiro, mas também do ponto de vista institucional, na divulgação da imagem das coisas positivas do país (as negativas a gente esconde, como disse uma vez um ministro de nome Rubens Ricupero), aumentando o seu conceito aos olhos do mundo e desenvolvendo o turismo.
Mas caso os devidos cuidados não sejam tomados, como em qualquer evento grandioso e com perspectiva de congregar milhões de convidados, a coisa pode degringolar e transformar as perspectivas favoráveis no mais retumbante fiasco. É o risco que estamos correndo.
Não me cabe, porém, apenas acompanhar o coro dos descontentes e desancar a Fifa, a CBF e as autoridades, que são em suma os responsáveis pela bandalheira e pelo desgoverno a que estamos submetidos (estou me atendo exclusivamente à Copa do Mundo, embora o raciocínio, tirando a Fifa e a CBF da linha de tiro, seja o mesmo para as outras dificuldades que o brasileiro vem enfrentando com respeito à corrupção nos altos escalões, à inflação, à falta de segurança, ao sucateamento na saúde e à falência da educação).
Cabe-me também comentar e apreciar os fatos futebolísticos que a ocasião apresenta e, como todo amante do esporte, acompanhar de perto os jogos, os resultados e as tendências, as partidas bem jogadas, os astros em ação, os erros de arbitragem e toda a parafernália de detalhes que cercam uma partida de futebol.
É claro que não podemos nem devemos dissociar as coisas.
Uma campanha desastrosa do Brasil poderá ocasionar um desgaste social e político talvez sem precedentes na história do país, tal a comoção que irá causar, gerando tumulto, protestos, lágrimas, pancadaria e um desassossego muito grande. Já a conquista do título servirá de anestésico e antitérmico, e fará baixar pelo menos temporariamente a temperatura das manifestações populares, dando fôlego aos nossos administradores para repensar as suas políticas e procedimentos e tentar colocar ordem na casa.

 

                                                                                          Augusto Pellegrini

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