ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTE” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 28/04/2014
AS DUAS FACES DA COPA DO
MUNDO
Alguns
leitores de O Imparcial têm se manifestado a respeito dos meus artigos,
questionando a minha coerência com respeito à Copa do Mundo.
Muitos
acham estranho que em um determinado artigo eu teça comentários leves e
descontraídos sobre a importância dos jogos e das seleções que estarão se
enfrentando no torneio e que no artigo seguinte eu faça observações ácidas e
negativas sobre a mesma Copa e seus organizadores.
Antes
de tudo, cabe explicar que a função da minha coluna no jornal é comentar sobre
esporte – em especial sobre o futebol – tanto que o espaço que me foi cedido
está no Caderno de Esportes (apropriadamente chamado de Super Esporte), e foi
batizado como “Gol de Placa”.
Minha
característica como crítico não é comentar jogos, analisar sistemas, resultados
ou decisões técnicas das equipes, muito embora esporadicamente eu o faça, mas
explorar temas polêmicos, tendências e situações inusitadas que possam acontecer.
Assim,
há que se separar bem a Copa como competição esportiva e como uma possibilidade
oportunista de se fazer politicagem e enriquecer fraudulentamente.
Hospedar
uma Copa do Mundo é sempre uma primazia, independentemente dos fatos escabrosos
que cercaram este evento desde antes da escolha do Brasil como país sede,
quando Ricardo Teixeira contratou os serviços de assessoria de ninguém menos do
que Jerome Valcke (o que sem dúvida abriu o caminho para a nossa indicação
mesmo com a existência de alguns senões, como a extensão territorial a ser
coberta pelas seleções), até o superfaturamento da reforma e construção dos
estádios com a concordância do Comitê Organizador Local e com o silêncio do
poder público.
Esta
primazia, se bem administrada, gera lucros e dividendos não apenas sob o
aspecto financeiro, mas também do ponto de vista institucional, na divulgação
da imagem das coisas positivas do país (as negativas a gente esconde, como
disse uma vez um ministro de nome Rubens Ricupero), aumentando o seu conceito
aos olhos do mundo e desenvolvendo o turismo.
Mas
caso os devidos cuidados não sejam tomados, como em qualquer evento grandioso e
com perspectiva de congregar milhões de convidados, a coisa pode degringolar e
transformar as perspectivas favoráveis no mais retumbante fiasco. É o risco que
estamos correndo.
Não
me cabe, porém, apenas acompanhar o coro dos descontentes e desancar a Fifa, a
CBF e as autoridades, que são em suma os responsáveis pela bandalheira e pelo
desgoverno a que estamos submetidos (estou me atendo exclusivamente à Copa do
Mundo, embora o raciocínio, tirando a Fifa e a CBF da linha de tiro, seja o
mesmo para as outras dificuldades que o brasileiro vem enfrentando com respeito
à corrupção nos altos escalões, à inflação, à falta de segurança, ao sucateamento
na saúde e à falência da educação).
Cabe-me
também comentar e apreciar os fatos futebolísticos que a ocasião apresenta e,
como todo amante do esporte, acompanhar de perto os jogos, os resultados e as
tendências, as partidas bem jogadas, os astros em ação, os erros de arbitragem
e toda a parafernália de detalhes que cercam uma partida de futebol.
É
claro que não podemos nem devemos dissociar as coisas.
Uma
campanha desastrosa do Brasil poderá ocasionar um desgaste social e político
talvez sem precedentes na história do país, tal a comoção que irá causar,
gerando tumulto, protestos, lágrimas, pancadaria e um desassossego muito grande.
Já a conquista do título servirá de anestésico e antitérmico, e fará baixar
pelo menos temporariamente a temperatura das manifestações populares, dando
fôlego aos nossos administradores para repensar as suas políticas e
procedimentos e tentar colocar ordem na casa.
Augusto
Pellegrini
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