domingo, 24 de setembro de 2017





ESQUADRÕES DERROTADOS

A realidade no futebol suplanta qualquer livro de ficção, e é neste inesperado que possivelmente resida toda a magia que acompanha este esporte. A história está repleta de situações surpreendentes que levam qualquer analista à loucura quando se confia apenas em projeções matemáticas e estatísticas.
Depois que a bola começa a rolar, previstos e imprevistos estão fadados a acontecer até que o árbitro trile o apito pondo fim à contenda - como se diz no jargão futebolístico. 
Na maioria dos outros esportes os favoritos geralmente vencem. No vôlei, basquete, tênis, atletismo ou natação as surpresas podem até acontecer mas de uma forma geral aquele que é considerado o favorito justifica este favoritismo.   
Mas o futebol é diferente. Basta um cochilo ou um desdém para que o time sinta um impacto negativo e o desequilíbrio psicológico torne sem efeito qualquer perspectiva de reação. Nem o visionário mais maluco poderia por exemplo prever os 7x1 que a Alemanha pespegou no Brasil na Copa em 2014.
Com relação a Copas do Mundo, podemos relacionar três grandes esquadrões que foram derrotados na partida final contrariando todas as expectativas do momento.
Começando por 1950. 
Apesar do domínio da Itália nas Copas anteriores, o futebol daquela época tão tinha nenhum bicho-papão, talvez por causa da sua ainda incipiência. A década de 1940 apontava a Argentina como a dona de um futebol mais brilhante, mas a Argentina desistiu de participar tanto nas eliminatórias como depois, quando foi convidada. Durante a competição chamou a atenção o timaço do Brasil - Barbosa; Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo e Bigode, Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.
Os destaques da seleção eram Bauer e Danilo, um meio-campo elegante e organizador, Zizinho, uma espécie de maestro que ditava o ritmo do jogo e o finalizador Ademir de Menezes, artilheiro do torneio.
O Brasil passeou tranquilo pela competição, mesmo com um empate no Pacaembu contra a Suíça (2x2), quando atuou sem a maioria dos titulares, pois passou sem susto pelo México (4x0) e pela perigosa Iugoslávia (2x0) para depois golear a Suécia (7x1) e a Espanha (6x1) no quadrangular final. Perdeu exatamente o jogo que não podia, quando dependia apenas de um empate para ser campeão. Na última partida o Brasil foi derrotado pelo Uruguai que era liderado pelo "caudilho" Obdulio Varela por 2x1.
Quatro anos mais tarde, na Suíça, o mundo se encantava com a seleção da Hungria, uma verdadeira máquina de jogar futebol. Formada para as Olimpíadas de Helsinki em 1952, o esquadrão formado por Grosics; Buzanski, Lantos, Zakarias, Lorant e Bozsic; Budai, Kocsis, Hidegkuti, Puskas e Czibor se manteve invicto por 29 partidas e se notabilizou por aplicar sonoras goleadas - entre elas Albânia (12x0), Turquia (7x1), Suécia (6x0) e Inglaterra (6x3 e 7x1) - chegando à Copa de 1954 com status de favorito. 
O craque do time e do mundo era Ferenc Puskas - o "Major Galopante" - meia-atacante que dominava a faixa intermediária do adversário, fintava, se infiltrava, fazia lançamentos  e finalizava com precisão.
Durante a Copa a Hungria fez valer sua classe, vencendo a  Coréia do Sul (9x0), a Alemanha Ocidental (8x3), o Brasil (4x2) e o Uruguai (4x2) até perder para a dona da casa Alemanha Ocidental sob a batuta de Fritz Walter, que jogando um futebol pragmático virou o jogo em que perdia por 2x0 para 3x2 e levantou a taça.  
Levou quase vinte anos para que surgisse um outro esquadrão fantástico, a Holanda, que combinava  a qualidade técnica dos jogadores a uma obediência tática rigorosa e a um padrão de jogo absolutamente revolucionário, comandada por um jogador extraordinário de nome Johann Cruijff. 
O time atuava num sistema chamado carrossel - ou futebol total - onde todos defendiam e atacavam em bloco e não mantinham posições fixas. A base era formada por Jongbloed; Suurbier, Haan, Rijsbergen e Krol;  Jansen, Neeskens e Van Hanegem; Rep, Cruijff e Resenbrink.  
O mundo ficou mais uma vez surpreso quando pela segunda vez o pragmatismo alemão venceu o talento do adversário, pois igual ao que acontecera em 1954, a Alemanha Ocidental começou perdendo, virou o jogo e venceu por 2x1 sob o comando de Paul Breitner e Franz Beckenbauer.
   
 
 


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