terça-feira, 26 de setembro de 2017




O VASO ROXO

(Parte Dois)


Giovanni e Leocádia contraíram núpcias dali a um ano, com as devidas bênçãos do padre e a competente autorização do juiz de paz.
Não fui convidado para as bodas e nem soube de alguém que o tenha sido, mas mesmo se convidado possivelmente não tivesse ido, pois me faltava simpatia pela cara da noiva. A mim, custava crer que o ponderado Giovanni pudesse estar enredado nesse estranho love affair.
O fascínio era tão grande que ela era a única pessoa a quem ele permitia chamá-lo pelo seu segundo nome – Amedeo – que ele simplesmente odiava.
De qualquer forma eu já não compartilhava da sua companhia, pois alguns meses antes do casamento eu havia resolvido trabalhar em outra empresa, apostando num futuro mais promissor e num salário mais compatível com as minhas necessidades. Com isso, me desliguei de Giovanni, do escritório e dos antigos colegas. Desliguei-me também da prancheta e do normógrafo, pois fui ocupar um outro cargo.
O tempo passou e eu também me casei.
Ao contrário de Leocádia, minha mulher parecia um anjo caído do céu, o que causou elogios dos amigos e convidados. O nosso casamento foi bastante concorrido, com muitos amigos presentes, o direito de a noiva jogar o buquê e de dançar a valsa com a companhia dos padrinhos.
Apesar de estar distante de Giovanni havia algum tempo, tive o cuidado de lhe mandar um convite que foi enviado para o escritório de engenharia, mas ele não apareceu. Considerei então que Giovanni Minotti e o nosso relacionamento amistoso eram coisas que o passado havia levado consigo, lamentei que ele não tivesse tido a mesma sorte que eu tive e não me preocupei mais com o assunto.
Passaram-se alguns anos quando eu soube da morte do meu antigo chefe e amigo através de outro ex-colaborador que encontrei na rua. Ambos lamentamos a sua partida, relembrando alguns bons momentos de descontração, mesmo ao mourejar por vezes quinze horas num só dia.
Compartilhamos da mesma opinião: o coração bonachão de Giovanni Minotti não resistira ao Chianti nem provavelmente à megera.
A partir daí, o capítulo que eu havia encerrado deu ensejo a uma outra história.

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