segunda-feira, 28 de outubro de 2019





INSÔNIA
(Augusto Pellegrini)

A noite segue lenta, abafada e sem sentido
E os cordões do sono pendem lassos do meu lado
Em meio ao silêncio, ouço o som dos meus ouvidos
E em brasas me reviro sobre o lençol molhado

Lá longe canta o galo antecipando o novo dia
Mas é cedo, é madrugada, tudo está escuro e sem vida
Ganidos e rosnados complementam a fantasia
Sonho sonhos descorados, sonho becos sem saída

Minhas mãos buscam socorro em vão, no meio do nada
E imagens nebulosas vagueiam por minha mente
O mesmo rosto de sempre aparece na sacada
Do quarto, no quarto andar deste velho apartamento

O ar está abafado, não sopra nenhuma brisa
Eu sinto o corpo pesado e me incomoda a camisa
Tento esticar meu braço para procurar as horas
Mas vou tateando às cegas, o relógio foi-se embora

Mantenho os olhos fechados, mas os sinto bem abertos
E aquela música estranha ressoa na minha mente
No meu torpor vejo e sinto a porta chegando perto
Numa ameaça velada, como um perigo iminente

Uma hora, duas horas, lentamente esvai o tempo
E o sono teima em não vir, só agonia por dentro
Mais outra hora se passa, e o cérebro entorpecido
Pelo cansaço desmaia, um fantasma adormecido

A luz do dia enfim surge, deixa o quarto iluminado
Adormeço, finalmente, sem ter um anjo a meu lado
Prostrado quedo no leito como se morto estivesse
Após outra noite longa que a vigília trama e tece 

Outubro, 2019

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