AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 7 - AS CORES DO SWING
(Continuação)
É
interessante lembrar
a orquestra de Lucky Millinder, que não era músico nem sabia ler música, apenas
trabalhava ocasionalmente como cantor. Mesmo assim, Millinder dirigiu a Mills
Blue Rhythm Band durante toda a década de 1930. A orquestra foi batizada em
1931 por um dos seus criadores, Bingie Madison, em homenagem ao seu primeiro
manager, Irving Mills (aquele mesmo que trabalhava com Duke Ellington). O
estilo da orquestra era fundamentalmente dançante e chegou a receber o rótulo
de black swing, embora paradoxalmente se assemelhasse mais com a música
das orquestras brancas. A partir de 1940, já consolidada, adotou
definitivamente o nome de Orquestra Lucky Millinder.
É claro que Jimmie
Lunceford, conhecido como “o pai do downbeat”,
também teve muita importância na consolidação do swing, quase do mesmo tamanho da importância de Fletcher Henderson,
até porque ambos galgaram o mesmo sucesso durante os anos 1920. A música de
Lunceford adquiriu um largo significado desde antes da Depressão até a sua
morte, em 1947. Seus arranjos eram feitos pelo inspirado Sy Oliver e serviram
de modelo para muitas orquestras que apareceriam depois, especialmente a de
Billy May, que tocava literalmente o estilo “bounce” (saltitante) criado por Lunceford.
A orquestra de
Lunceford não se tornou famosa apenas pela qualidade individual dos seus músicos,
embora todos fossem excelentes, mas principalmente pelo resultado obtido pelo
conjunto, pelo traje, pela aparência dos componentes e pela precisão teatral com
que fazia as suas apresentações. Ela era chamada de “orquestra-show”, na qual
os músicos executavam coreografias circenses, como atirar os instrumentos para
o alto e mudar de posição durante a música, movimentando-se constantemente
sobre o palco. Cantar, dançar e sapatear eram as outras atribuições dos músicos
de Lunceford, de onde vem o termo “bounce”
que define o seu estilo.
Entre
todas as orquestras negras, no entanto, uma se sobressaía em especial,
mostrando um estilo que não era definitivamente swing, apesar de ser também swing.
Era uma música que traduzia ao mesmo tempo uma inventividade sinfônica, um
ritmo forte, inovações constantes e principalmente um marcante sentimento de blues. Esta era a orquestra de Duke
Ellington.
Ellington, que
emocionava ouvintes e artistas, manteve no seu grupo alguns músicos que tocaram
juntos por quase toda a vida – alguns por cerca de cinquenta anos – imprimindo
um estilo inconfundível que variava da jungle
beat à balada, do jazz sinfônico à música dançante e do mais puro blues às suítes temáticas, chegando a
fazer no final da carreira experimentos sinfônicos com o free jazz.
Por outro lado,
havia as orquestras “brancas”, que faziam um swing de aspecto um pouco mais comercial, talvez para que o estilo
fosse melhor assimilado pelo público que não possuia uma referência jazzística.
Algumas dessas orquestras, no entanto, conseguiram se superar, mostrando uma
qualidade jazzística insuspeita.
Do
início dos anos 1930 até a primeira metade dos anos 1940, faziam parte das
paradas algumas das mais famosas bandas jamais formadas nos Estados Unidos –
todas elas “brancas” – famosas de costa a costa e também no exterior, como as
orquestras de Tommy Dorsey, Benny Goodman, Harry James, Artie Shaw e Glenn
Miller.
Também fizeram
parte do panorama musical algumas orquestras que produziam um swing animado, mas que não haviam
conseguido se livrar totalmente do sotaque do dixieland ou do estilo chicago, entre as quais as
bandas de Ben Pollack e de Bob Crosby (and His Bob Cats).
Bob Crosby foi um
grande sucesso dos salões até o início dos anos 1940 e depois prosseguiu como
astro de TV com o seu Bob Crosby Show na CBS e na NBC até o final dos anos
1950. Ben Pollack, que era cantor, imprimia um estilo vocal semelhante ao de
Bing Crosby (irmão de Bob), e quando cantava conseguia disfarçar um pouco o
aspecto tradicional da sua música.
Havia também Isham
Jones, que era um bandleader austero
e saxofonista seguro, e cuja música tinha uma alegria contagiante que
contrastava com o seu temperamento e a sua personalidade. Jones fez muito
sucesso em Nova York desde o início dos anos 1920 até 1936, quando abandonou a
carreira por problemas de saúde e se aposentou numa pequena fazenda no
Colorado. Woody Herman, que tocava clarinete e saxofone na orquestra de Jones,
assumiu o comando dos músicos e deu ao grupo uma característica orquestral
sólida e madura, com arranjos arrojados para a época.
Temos
também a Orquestra Casa Loma, que decolou depois que Glen Gray assumiu os
arranjos e criou uma identidade a partir de 1930. Ela tinha como marca
registrada a elegância dos músicos, impecavelmente vestidos a rigor. O swing tocado pela orquestra possuía um “staccatto”
criado pelo guitarrista e banjoísta Gene Gifford, que também era arranjador do
grupo. Mas a insegurança de Gifford fez com que a orquestra perdesse a
identidade e um pouco do balanço original.
Outra orquestra
“branca” de respeito era a conduzida pelo saxofonista Charlie Barnet. Barnet
trabalhava numa linha que buscava as nuances de Duke Ellington, e nunca
procurou esconder que, de fato, devotava uma grande admiração pelo maestro. A
música de Barnett continha traços dos arranjos, do ritmo e das alterações
harmônicas típicas de Ellington.
Entre as
orquestras que faziam grande sucesso em Nova York, havia uma que atendia pelo
pomposo nome de Kay Kyser and His College of Musical Knowledge, e também duas
bandas exclusivamente compostas por mulheres – um autêntico desafio ao machismo
da época – que eram a International Sweethearts of Rhythm (uma orquestra
comandada por uma cantora negra de nome Consuela Carter), e a Ina Ray Hutton
and Her Melodears, conduzida pela louríssima Ina Ray, que cantava, dançava e
sapateava.
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