terça-feira, 11 de agosto de 2020





AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 7 - AS CORES DO SWING
(Continuação)

É interessante lembrar a orquestra de Lucky Millinder, que não era músico nem sabia ler música, apenas trabalhava ocasionalmente como cantor. Mesmo assim, Millinder dirigiu a Mills Blue Rhythm Band durante toda a década de 1930. A orquestra foi batizada em 1931 por um dos seus criadores, Bingie Madison, em homenagem ao seu primeiro manager, Irving Mills (aquele mesmo que trabalhava com Duke Ellington). O estilo da orquestra era fundamentalmente dançante e chegou a receber o rótulo de black swing, embora paradoxalmente se assemelhasse mais com a música das orquestras brancas. A partir de 1940, já consolidada, adotou definitivamente o nome de Orquestra Lucky Millinder.
É claro que Jimmie Lunceford, conhecido como “o pai do downbeat”, também teve muita importância na consolidação do swing, quase do mesmo tamanho da importância de Fletcher Henderson, até porque ambos galgaram o mesmo sucesso durante os anos 1920. A música de Lunceford adquiriu um largo significado desde antes da Depressão até a sua morte, em 1947. Seus arranjos eram feitos pelo inspirado Sy Oliver e serviram de modelo para muitas orquestras que apareceriam depois, especialmente a de Billy May, que tocava literalmente o estilo “bounce” (saltitante) criado por Lunceford.
A orquestra de Lunceford não se tornou famosa apenas pela qualidade individual dos seus músicos, embora todos fossem excelentes, mas principalmente pelo resultado obtido pelo conjunto, pelo traje, pela aparência dos componentes e pela precisão teatral com que fazia as suas apresentações. Ela era chamada de “orquestra-show”, na qual os músicos executavam coreografias circenses, como atirar os instrumentos para o alto e mudar de posição durante a música, movimentando-se constantemente sobre o palco. Cantar, dançar e sapatear eram as outras atribuições dos músicos de Lunceford, de onde vem o termo “bounce” que define o seu estilo.
Entre todas as orquestras negras, no entanto, uma se sobressaía em especial, mostrando um estilo que não era definitivamente swing, apesar de ser também swing. Era uma música que traduzia ao mesmo tempo uma inventividade sinfônica, um ritmo forte, inovações constantes e principalmente um marcante sentimento de blues. Esta era a orquestra de Duke Ellington.
Ellington, que emocionava ouvintes e artistas, manteve no seu grupo alguns músicos que tocaram juntos por quase toda a vida – alguns por cerca de cinquenta anos – imprimindo um estilo inconfundível que variava da jungle beat à balada, do jazz sinfônico à música dançante e do mais puro blues às suítes temáticas, chegando a fazer no final da carreira experimentos sinfônicos com o free jazz.
Por outro lado, havia as orquestras “brancas”, que faziam um swing de aspecto um pouco mais comercial, talvez para que o estilo fosse melhor assimilado pelo público que não possuia uma referência jazzística. Algumas dessas orquestras, no entanto, conseguiram se superar, mostrando uma qualidade jazzística insuspeita.
Do início dos anos 1930 até a primeira metade dos anos 1940, faziam parte das paradas algumas das mais famosas bandas jamais formadas nos Estados Unidos – todas elas “brancas” – famosas de costa a costa e também no exterior, como as orquestras de Tommy Dorsey, Benny Goodman, Harry James, Artie Shaw e Glenn Miller.
Também fizeram parte do panorama musical algumas orquestras que produziam um swing animado, mas que não haviam conseguido se livrar totalmente do sotaque do dixieland ou do estilo chicago, entre as quais as bandas de Ben Pollack e de Bob Crosby (and His Bob Cats).
Bob Crosby foi um grande sucesso dos salões até o início dos anos 1940 e depois prosseguiu como astro de TV com o seu Bob Crosby Show na CBS e na NBC até o final dos anos 1950. Ben Pollack, que era cantor, imprimia um estilo vocal semelhante ao de Bing Crosby (irmão de Bob), e quando cantava conseguia disfarçar um pouco o aspecto tradicional da sua música.
Havia também Isham Jones, que era um bandleader austero e saxofonista seguro, e cuja música tinha uma alegria contagiante que contrastava com o seu temperamento e a sua personalidade. Jones fez muito sucesso em Nova York desde o início dos anos 1920 até 1936, quando abandonou a carreira por problemas de saúde e se aposentou numa pequena fazenda no Colorado. Woody Herman, que tocava clarinete e saxofone na orquestra de Jones, assumiu o comando dos músicos e deu ao grupo uma característica orquestral sólida e madura, com arranjos arrojados para a época.
Temos também a Orquestra Casa Loma, que decolou depois que Glen Gray assumiu os arranjos e criou uma identidade a partir de 1930. Ela tinha como marca registrada a elegância dos músicos, impecavelmente vestidos a rigor. O swing tocado pela orquestra possuía um “staccatto” criado pelo guitarrista e banjoísta Gene Gifford, que também era arranjador do grupo. Mas a insegurança de Gifford fez com que a orquestra perdesse a identidade e um pouco do balanço original.
Outra orquestra “branca” de respeito era a conduzida pelo saxofonista Charlie Barnet. Barnet trabalhava numa linha que buscava as nuances de Duke Ellington, e nunca procurou esconder que, de fato, devotava uma grande admiração pelo maestro. A música de Barnett continha traços dos arranjos, do ritmo e das alterações harmônicas típicas de Ellington.
Entre as orquestras que faziam grande sucesso em Nova York, havia uma que atendia pelo pomposo nome de Kay Kyser and His College of Musical Knowledge, e também duas bandas exclusivamente compostas por mulheres – um autêntico desafio ao machismo da época – que eram a International Sweethearts of Rhythm (uma orquestra comandada por uma cantora negra de nome Consuela Carter), e a Ina Ray Hutton and Her Melodears, conduzida pela louríssima Ina Ray, que cantava, dançava e sapateava.

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