quinta-feira, 13 de agosto de 2020

 



AS CORES DO SWING
            (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 7 - AS CORES DO SWING
            (Continuação)

O universo do swing era amplo e generoso, e as bandas se multiplicavam fazendo um espetáculo de som, luzes e cores, além – é claro – de muita dança.

Da mesma forma que as orquestras mais qualificadas (de acordo com os críticos) lotavam os salões das grandes cidades, também aquelas tidas como “menores” conseguiam reunir um público expressivo nas suas apresentações, o que parecia demonstrar que o público apreciador do swing não estava só à procura de jazz, mas também de diversão.

As orquestras de maior apelo popular e de maior aceitação entre as gravadoras eram as de Tommy Dorsey, um trombonista que viera do jazz tradicional, onde dividira o palco com Louis Armstrong, Jack Teagarden, Mezz Mezzrow, Red Allen, Eddie Condon e outros; de Artie Shaw, um clarinetista sofisticado que não dispensava a presença das cordas em alguns arranjos de swing; de Harry James, um trompetista de sopro forte e aveludado que levou o swing para as telas de Hollywood; e a de Glenn Miller, um trombonista de orquestra que se transformou num excelente band leader e compositor, e encarnou o espírito americano na Segunda Guerra Mundial. No entanto, foi a orquestra de Benny Goodman – a melhor, na concepção da maioria dos críticos,  – que veio para consolidar de vez o swing dentro do jazz e se tornou a preferida do país durante as décadas de 1930 e 1940, até que o bebop chegasse como uma alternativa pós-guerra e modificasse o espírito do jazz, tornando-o intimista e intelectualizado.

Tommy Dorsey era conhecido como “o cavalheiro sentimental do swing” embora na verdade pouco tivesse de cavalheiro ou de sentimental. Tommy Dorsey era ranzinza, briguento e beberrão, e do seu mau gênio nem seu irmão mais velho, Jimmy Dorsey, se livrava.

Musicalmente, porém, ele arrasava. As tardes de domingo nunca foram as mesmas desde que Dorsey estreou no Paramount Theater, lotado de adolescentes que não podiam ver de perto as suas bandas preferidas, pois a maioria tocava à noite. A verdadeira loucura que tomava conta dos jovens novaiorquinos era uma prova eloquente do carisma e do “punch” da orquestra.

Tommy era um trombonista que tocava seu instrumento de uma maneira bem comportada e que também executava o trompete com qualidade. Entre 1928 e 1935 ele dividiu com o seu irmão Jimmy (saxofonista-alto) a Dorsey Brothers Orchestra, que fez uma série de gravações e apresentações até que as constantes brigas entre eles forçaram a separação e a divisão da orquestra em duas.

A orquestra de Tommy foi mais bem sucedida do que a de Jimmy, mas ambos seguiram suas carreiras individualmente sem maiores problemas (eles se juntariam de novo em 1953 e tocariam juntos até 1956, quando a parceria foi novamente desfeita, desta vez devido à morte de Tommy).

A música popular americana ganhou um precioso reforço quando Artie Shaw, fascinado pelo som de Nova Orleans, decidiu enfrentar o desafio de adaptar o estilo meio erudito do seu clarinete ao jazz.

Desde pequeno, Shaw ouvia com regularidade os compositores Stravinsky, Bártok, Ravel e Debussy, o que viria mais tarde influenciar decisivamente na concepção dos seus arranjos. Desde cedo, também, ele se confessava um grande admirador de Louis Armstrong. Quando jovem, Artie Shaw não perdia a oportunidade de ver Armstrong nas sessões vespertinas do Savoy Ballroom, em pleno bairro negro do Harlem.

Shaw era judeu, e os judeus não tinham tanta implicância com os negros, pois eles também sofriam a sua parcela com a discriminação por parte dos brancos católicos e protestantes. Ele frequentava os guetos negros com muita naturalidade, na medida em que os negros lhe transmitiam os fluidos positivos da sua música.

No início dos anos 1930, a orquestra de Artie Shaw era apenas uma orquestra coadjuvante no panorama musical da cidade, e não estava entre as mais famosas. Para se ter uma ideia, em 1934 ele tinha um contrato para fazer o fundo musical para as orquestras de ponta, colocando os seus músicos por detrás das cortinas do palco para tocar suas canções enquanto a atração do dia – Tommy Dorsey, Casa Loma ou Bob Crosby – se preparava para tocar.

Quando finalmente explodiu, em 1936, Artie Shaw surpreendeu o mundo das orquestras com a apresentação de músicas ao mesmo tempo fortes e melódicas.

Artie Shaw revolucionou o próprio swing, pois não se limitou a executá-lo da maneira convencional como todos o faziam. Ele trouxe para a orquestra alguns elementos caribenhos como o beguine, ritmo criado nas Ilhas Martinica e Guadalupe, e alcançou um enorme sucesso com a música “Begin The Beguine”, criação do compositor Cole Porter, composta quando Porter se encontrava em uma viagem de turismo na Indonésia e nas Ilhas Fiji em 1935.

Shaw também foi um dos primeiros bandleaders brancos a contratar uma cantora negra – nada menos do que Billie Holiday – para fazer parte efetiva das turnês da sua orquestra, o que lhe causou muitas dores de cabeça quando das suas apresentações em hotéis de luxo ou nos clubes da moda.

Outra orquestra que se transformou em uma coqueluche para o público foi a de Harry James.

James passou por diversas orquestras, entre as quais Ben Pollack e Benny Goodman, como leading trumpet, e o som inconfundível do seu instrumento era claramente reconhecido mesmo quando tocava ao lado dos músicos do seu naipe. Esta particularidade o animou a buscar seu caminho como líder de orquestra, montando seu próprio grupo em 1939.

A história daria razão à sua decisão. Afinal, além dele poucos músicos entre toda a miríade de trompetistas de jazz marcaram a sua presença com um som tão expressivo.

A orquestra de Harry James não se limitou aos salões ou às excursões, como praticamente o faziam as demais big bands. Ela enveredou pelos caminhos do cinema, participando de diversos filmes a partir de 1944 – “Carnegie Hall”, “Bathing Beauty”, “A Miracle Can Happen”, “Young Man With A Horn”, “The Big Beat” e “The Ladies Man” – que foram grandes sucessos de bilheteria e que ajudaram James a projetar seu nome em todo o mundo.

Harry James tocava um “swinging jazz” forte e empolgante, da mesma forma em que conseguia produzir canções e baladas de grande beleza, ocasião em que se assemelhava às antigas orquestras convencionais que ainda agradavam parte da massa popular.

Já a orquestra de Glenn Miller pode não ter sido a melhor banda de swing nos seus anos áureos, mas foi com certeza a que mais se identificou com o sentimento americano, pois além de fazer uma música alegre e de fácil compreensão, o que agradava indistintamente a todos os ouvidos, ela encarnou como ninguém o patriotismo de um país envolvido numa guerra em três continentes.

Glenn Miller era um trombonista de razoáveis recursos técnicos que em 1927 fazia parte da orquestra de Ben Pollack e na primeira metade dos anos 1930 se destacou como músico free-lancer e arranjador. Miller formou sua orquestra em 1938 e a partir daí colecionou sucessos, numa época em que o swing dominava o panorama musical dos Estados Unidos.

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