AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 7 - AS CORES DO SWING
(Continuação)
O
universo do swing era amplo e
generoso, e as bandas se multiplicavam fazendo um espetáculo de som, luzes e
cores, além – é claro – de muita dança.
Da mesma forma que
as orquestras mais qualificadas (de acordo com os críticos) lotavam os salões
das grandes cidades, também aquelas tidas como “menores” conseguiam reunir um
público expressivo nas suas apresentações, o que parecia demonstrar que o
público apreciador do swing não estava só à procura de jazz, mas
também de diversão.
As orquestras de
maior apelo popular e de maior aceitação entre as gravadoras eram as de Tommy
Dorsey, um trombonista que viera do jazz tradicional, onde dividira o palco com
Louis Armstrong, Jack Teagarden, Mezz Mezzrow, Red Allen, Eddie Condon e
outros; de Artie Shaw, um clarinetista sofisticado que não dispensava a
presença das cordas em alguns arranjos de swing;
de Harry James, um trompetista de sopro forte e aveludado que levou o swing para as telas de Hollywood; e a de
Glenn Miller, um trombonista de orquestra que se transformou num excelente band
leader e compositor, e encarnou o espírito americano na Segunda Guerra
Mundial. No entanto, foi a orquestra de Benny Goodman – a melhor, na concepção
da maioria dos críticos, – que veio para
consolidar de vez o swing dentro do
jazz e se tornou a preferida do país durante as décadas de 1930 e 1940, até que
o bebop chegasse como uma alternativa
pós-guerra e modificasse o espírito do jazz, tornando-o intimista e
intelectualizado.
Tommy Dorsey era
conhecido como “o cavalheiro sentimental do swing”
embora na verdade pouco tivesse de cavalheiro ou de sentimental. Tommy Dorsey
era ranzinza, briguento e beberrão, e do seu mau gênio nem seu irmão mais
velho, Jimmy Dorsey, se livrava.
Musicalmente,
porém, ele arrasava. As tardes de domingo nunca foram as mesmas desde que
Dorsey estreou no Paramount Theater, lotado de adolescentes que não podiam ver
de perto as suas bandas preferidas, pois a maioria tocava à noite. A verdadeira
loucura que tomava conta dos jovens novaiorquinos era uma prova eloquente do
carisma e do “punch” da orquestra.
Tommy era um
trombonista que tocava seu instrumento de uma maneira bem comportada e que também
executava o trompete com qualidade. Entre 1928 e 1935 ele dividiu com o seu
irmão Jimmy (saxofonista-alto) a Dorsey Brothers Orchestra, que fez uma série
de gravações e apresentações até que as constantes brigas entre eles forçaram a
separação e a divisão da orquestra em duas.
A
orquestra de Tommy foi mais bem sucedida do que a de Jimmy, mas ambos seguiram
suas carreiras individualmente sem maiores problemas (eles se juntariam de novo
em 1953 e tocariam juntos até 1956, quando a parceria foi novamente desfeita,
desta vez devido à morte de Tommy).
A música popular
americana ganhou um precioso reforço quando Artie Shaw, fascinado pelo som de
Nova Orleans, decidiu enfrentar o desafio de adaptar o estilo meio erudito do
seu clarinete ao jazz.
Desde pequeno,
Shaw ouvia com regularidade os compositores Stravinsky, Bártok, Ravel e
Debussy, o que viria mais tarde influenciar decisivamente na concepção dos seus
arranjos. Desde cedo, também, ele se confessava um grande admirador de Louis
Armstrong. Quando jovem, Artie Shaw não perdia a oportunidade de ver Armstrong
nas sessões vespertinas do Savoy Ballroom, em pleno bairro negro do Harlem.
Shaw era judeu, e
os judeus não tinham tanta implicância com os negros, pois eles também sofriam
a sua parcela com a discriminação por parte dos brancos católicos e
protestantes. Ele frequentava os guetos negros com muita naturalidade, na
medida em que os negros lhe transmitiam os fluidos positivos da sua música.
No início dos anos
1930, a orquestra de Artie Shaw era apenas uma orquestra coadjuvante no
panorama musical da cidade, e não estava entre as mais famosas. Para se ter uma
ideia, em 1934 ele tinha um contrato para fazer o fundo musical para as orquestras
de ponta, colocando os seus músicos por detrás das cortinas do palco para tocar
suas canções enquanto a atração do dia – Tommy Dorsey, Casa Loma ou Bob Crosby
– se preparava para tocar.
Quando finalmente
explodiu, em 1936, Artie Shaw surpreendeu o mundo das orquestras com a
apresentação de músicas ao mesmo tempo fortes e melódicas.
Artie Shaw
revolucionou o próprio swing, pois
não se limitou a executá-lo da maneira convencional como todos o faziam. Ele
trouxe para a orquestra alguns elementos caribenhos como o beguine, ritmo criado nas Ilhas Martinica e Guadalupe, e alcançou um
enorme sucesso com a música “Begin The Beguine”, criação do compositor Cole
Porter, composta quando Porter se encontrava em uma viagem de turismo na
Indonésia e nas Ilhas Fiji em 1935.
Shaw também foi um
dos primeiros bandleaders brancos a contratar uma cantora negra – nada
menos do que Billie Holiday – para fazer parte efetiva das turnês da sua
orquestra, o que lhe causou muitas dores de cabeça quando das suas apresentações
em hotéis de luxo ou nos clubes da moda.
Outra orquestra
que se transformou em uma coqueluche para o público foi a de Harry James.
James passou por
diversas orquestras, entre as quais Ben Pollack e Benny Goodman, como leading
trumpet, e o som inconfundível do seu instrumento era claramente
reconhecido mesmo quando tocava ao lado dos músicos do seu naipe. Esta
particularidade o animou a buscar seu caminho como líder de orquestra, montando
seu próprio grupo em 1939.
A história daria
razão à sua decisão. Afinal, além dele poucos músicos entre toda a miríade de
trompetistas de jazz marcaram a sua presença com um som tão expressivo.
A orquestra de
Harry James não se limitou aos salões ou às excursões, como praticamente o
faziam as demais big bands. Ela enveredou pelos caminhos do cinema,
participando de diversos filmes a partir de 1944 – “Carnegie Hall”, “Bathing Beauty”, “A Miracle Can
Happen”, “Young Man With A Horn”, “The Big Beat” e “The
Ladies Man” – que foram grandes sucessos de bilheteria e que ajudaram James
a projetar seu nome em todo o mundo.
Harry James tocava
um “swinging jazz” forte e empolgante, da mesma forma em que conseguia
produzir canções e baladas de grande beleza, ocasião em que se assemelhava às antigas
orquestras convencionais que ainda agradavam parte da massa popular.
Já a orquestra de
Glenn Miller pode não ter sido a melhor banda de swing nos seus anos áureos, mas foi com certeza a que mais se
identificou com o sentimento americano, pois além de fazer uma música alegre e
de fácil compreensão, o que agradava indistintamente a todos os ouvidos, ela
encarnou como ninguém o patriotismo de um país envolvido numa guerra em três
continentes.
Glenn Miller era
um trombonista de razoáveis recursos técnicos que em 1927 fazia parte da
orquestra de Ben Pollack e na primeira metade dos anos 1930 se destacou como
músico free-lancer e arranjador.
Miller formou sua orquestra em 1938 e a partir daí colecionou sucessos, numa
época em que o swing dominava o
panorama musical dos Estados Unidos.
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